CEO tem que lidar constantemente com a pressão, críticas internas e externas e o medo de uma demissão ou substituição, na maioria das vezes, de forma solitária
Por Dr. Arthur Guerra, psiquiatra e cofundador da Caliandra Saúde Mental, empresa especializada em soluções de cuidados à saúde mental e treinamento de liderança
Ser CEO é um cargo estratégico muito importante, vital para uma companhia e que traz muito reconhecimento, mas posso afirmar com clareza que não é fácil. É uma grande carga de responsabilidade diária dentro de uma rotina constante de liderar equipes, estar sempre atualizado sobre as ações, traçar estratégias e planejamentos, executar diretrizes da empresa, analisar processos de produção e ser o principal responsável por resultados para apresentar aos acionistas das empresas. Ou seja, inúmeras tarefas e grandes responsabilidades que exigem esforço físico, mental e intelectual. Não importa o que aconteça, a expectativa é que ele entregue resultados.
Todas essas atividades, se somadas a um ambiente de trabalho hostil, podem resultar em consequências bastante negativas para o bem-estar de qualquer um. Se a rotina de um colaborador o expõe a sentimentos de exaustão, sobrecarga e estresse, a liderança significa um peso adicional importante, pois o CEO tem que lidar constantemente com a pressão, críticas internas e externas e o medo de uma demissão ou substituição, na maioria das vezes, de forma solitária. Esta é uma equação que pode acabar com a saúde mental de qualquer um nessa situação. Por isso, gostaria de ressaltar que, mesmo alcançando um cargo que muitos gostariam de ter, o CEO também sofre.
Tanto é que uma pesquisa recente divulgada pela Nascia, uma rede espanhola multidisciplinar de especialistas em tratamentos de estresse, revelou que seis em cada 10 casos de esgotamento dentro das empresas são diagnosticados em líderes.
Este dado só revela que, embora desempenhem um papel fundamental, o cenário é alarmante, no qual muitos CEOs acabam ficando mais isolados da equipe, ocupando um lugar mais solitário – na maioria das vezes para preservar a imagem de líder que a empresa impõe. Com isso, consequentemente, podem sentir falta de uma conversa, de um momento de descontração e da criação de vínculos, como é comum para a maioria no ambiente profissional.
E, embora pareça algo simples, certamente, a maioria tem receio de abordar o assunto para não demonstrar fraqueza. Uma vez, conheci um CEO de uma empresa renomada que reuniu 70 funcionários na sala dele para fazer uma pergunta: “o que você faria se estivesse no meu lugar?”. Isso é um desabafo e um interessante exercício de empatia, uma maneira de despertar a atenção da equipe para um olhar mais cuidadoso.
Com minha longa carreira na psiquiatria, posso dizer que essa pergunta é o ápice para declarar que os CEOs, vistos como heróis das empresas, estão cansados. E o que deve ser feito? Primeiramente, ter consciência de que são iguais a todos os outros seres humanos, que precisam de cuidados, especialmente no que se refere ao sofrimento emocional. Mas, alguns não aceitam ou não reconhecem que precisam de ajuda qualificada de um profissional de saúde mental.
O cuidado não é só importante, ele é indispensável. Quando temos alguma dor física, não procuramos um médico? Então, por que com uma questão mental faríamos diferente? As empresas precisam aderir a programas de treinamento de saúde mental, palestras que despertem o conhecimento e a conscientização sobre o assunto e, em muitos casos, um atendimento 24×7, no qual um psiquiatra esteja disponível para atender os casos de emergência, trazendo um olhar mais humanizado para a carreira de um líder.
Isso tudo é essencial para a construção e manutenção da jornada bem sucedida de um CEO, que deve ir além da busca do prestígio e aplausos, mas, sim, da qualidade de vida, felicidade e consciência de estar bem consigo mesmo. Se os heróis estão cansados, precisamos garantir um descanso seguro e saudável para eles. E acredite: tudo isso é transformador.