Com a proximidade do Dia Internacional da Mulher, vemos que muitas organizações têm ainda grandes desafios para criar programas e políticas que visem à maior inclusão da mulher no ambiente organizacional. Quando eu chego nas organizações, dos mais diversos segmentos, ouço a mesma coisa “Olha, aqui na empresa, nós temos bastante diversidade; mulheres aqui têm as mesmas oportunidades”. Uma frase que traz poucas verdades, infelizmente.
Existem diversos estudos e pesquisas nacionais e internacionais que mostram os desafios das mulheres no mercado de trabalho – não há mais dúvidas a respeito disso. No Brasil, as mulheres ocupam 25% dos cargos de liderança dentro das empresas. Já para os cargos do mais alto nível nas corporações, apenas 15% das companhias possuem uma mulher no topo, segundo a última edição da International Business Report (IBR) – Women in Business 2019, pesquisa da Grant Thornton com mais de 4,5 mil empresários no mundo.
É real que as mulheres – de uma forma geral – já estão no mercado de trabalho. Quando se analisa a representatividade da mulher nas empresas, observa-se uma população quase igual de homens e mulheres (análise de dados gerais, apenas verificando sexo biológico/identidade de gênero), mas quando os dados são analisados do ponto de vista interseccional, cotidianamente observa-se que os homens são a grande maioria nos cargos de liderança e que as mulheres não chegam a esses cargos por enfrentarem e vivenciarem barreiras e vieses de gênero, inclusive pelo fato de não existirem nas empresas e organizações uma falta de políticas e programas que de fato promovam a inclusão de gênero. Faltam políticas e programas para promover lideranças femininas, para apoiar a maternidade, para criar e manter um ambiente de respeito, sem piadas e ofensas etc.
Ou seja, estar no ambiente de trabalho não significa ter as mesmas oportunidades para crescer e se desenvolver profissionalmente. Mesmo no grupo de mulheres, existem desafios que são comuns a todas elas e desafios que são ainda maiores para mulheres negras, trans, lésbicas ou bissexuais.
Não obstante aos preconceitos que as mulheres enfrentam diariamente, existe ainda uma carga gigantesca em cima delas, uma vez que, além do papel profissional, as mulheres têm que provar o seu valor o tempo todo, nas mais variadas funções, e cumprir uma agenda interminável de tarefas. São providências com relação à administração da casa, à manutenção da aparência, à organização da vida a dois, à decisão pela maternidade e sua vivência, bem como à manutenção da rotina familiar, educação e criação dos filhos etc. É exaustivo e adoece.
Segundo a presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), Dra. Marcia Bandini, o risco da Síndrome de Burnout é agravado entre as mulheres, em decorrência da dupla jornada de trabalho e da pressão cultural sobre o seu desempenho na sociedade.
A jornada para essa transformação não é simples tampouco rápida e os líderes têm um papel crucial para que ela seja acelerada e bem sucedida: Apoiar o movimento genuinamente, pois os desafios de homens e mulheres dentro das organizações e na sociedade não são iguais, haja vista a cultura patriarcal e machista de nosso, e de tantos outros países.
Os líderes possuem uma tarefa importante: a de escutar e apoiar os programas e movimentos em prol à igualdade de gênero, de forma genuína, inclusive por meio de suporte a ações efetivas que coíbam desigualdades, preconceitos e práticas ilegais, como o assédio sexual.
A jornada da inclusão é mais necessária, é atual e é a coisa certa a se fazer. Sabemos que mudar o status quo exige de todos nós. Mas essa mudança será um pouco mais tranquila quando as lideranças apoiarem esse movimento. Não há como voltar ao cenário anterior. Temos que mover adiante, em prol de um mundo mais inclusivo.
Por Mariana Deperon, sócia-fundadora da Tree Diversidade