Estive recentemente em Tel-Aviv, na maior conferência sobre employer branding de Israel, reunido com cerca de 250 pessoas, de diversos setores, para aprender e compartilhar sobre os desafios da criação de uma marca atraente em um contexto de mundo extremamente dinâmico. Antes de avançarmos nos principais destaques do evento, um parênteses sobre o contexto deste país é importante: se trabalhar uma marca empregadora, especialmente para jovens, no Brasil já é difícil, tendo 50 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos, de acordo com o IBGE, imagina o desafio pela busca de talentos em uma população total de 9 milhões, de acordo com os últimos dados?!
Não só pelo desafio demográfico, mas, também pelo histórico das instabilidades políticas vividas no país, as empresas da região já nascem pensando no mercado global, afinal, existem limitações claras para o ganho de escala nesse mercado.
Entre uma conversa em hebraico e outra, conteúdo em inglês surgiam e chamavam a atenção para algo passível de compreensão. Dentre os principais destaques dos conteúdos compartilhados ao longo do evento, fica evidente a preocupação das empresas do país com a influência das novas gerações no mercado de trabalho.
Nesse ponto, mais uma observação se faz necessária: diferentemente no Brasil em que os jovens ao terminarem o Ensino Médio já migram direto para a Universidade (para aquelas pessoas que possuem esse privilégio, claro), os jovens de Israel ao terminarem o colégio passam de 2 a 3 anos no exército antes de entrarem para a Universidade. Isso faz com que, por exemplo, algumas pessoas cheguem no mercado de trabalho com uma experiência realmente diferenciada para algumas posições.
Contudo, independente das singularidades de cada país, uma coisa que chama a atenção é o comum desafio dessas empresas em atrair, selecionar e reter jovens (principalmente Gerações Y e Z). Os anseios e desejos também são semelhantes: desafios e flexibilidade de carreira figuram o topo da lista de prioridades para essa população, tanto aqui no Brasil quanto lá, de acordo com um levantamento feito pela consultoria X-Miles.
Para ajudar a solucionar esse desafio, especialistas na área compartilharam ao longo do evento boas práticas e processos orientados por dados e métricas claras (algo que já é padrão por lá). Uma excelente máquina de atração e seleção de pessoas.
Ao mesmo tempo, dois desafios se destacaram como aquelas pautas ainda sem muito consenso. A primeira delas afeta, em grande parte, multinacionais. O desafio, neste caso está em customizar uma estratégia de employee value proposition em diferentes realidades (países, público etc.). Neste caso, a autonomia, como elemento de gestão e confiança nas unidades locais apresenta-se como uma premissa – e não a solução completa, para que isso aconteça bem. Portanto, o que parece ser uma questão tática se apresenta como uma situação que, na verdade, passa por uma adaptação cultural do que qualquer outra coisa.
Por fim, o segundo desafio apontado pelos profissionais de Israel nesse ecossistema está ligado ao que ficou mundialmente reconhecido dentro do ambiente corporativo, principalmente após a divulgação das cartas do Business Roundtable, evento que reúne cerca de 180 CEOs das maiores empresas dos Estados Unidos, que é o elemento do propósito na gestão organizacional e na maneira de se posicionar externamente. Aqui, sem dúvidas, reside um dos principais gargalos em termos de posicionamento frente às novas gerações, extremamente conectadas com essa pauta e que já deixaram claro que é, sem dúvidas, um fator fundamental na escolha de onde trabalhar.
Por Douglas Souza – CEO da Eureca, consultoria especializada na conexão entre jovens e o mercado de trabalho.