Por Flavia Caroni, VP de People na Kraft Heinz Company
Cerca de um ano e meio após o início da pandemia e com o avanço da vacinação na população adulta, as empresas já estão ensaiando e planejando o retorno aos escritórios e os protocolos para essa retomada. O novo modelo de trabalho que será consolidado para a maioria, em um formato híbrido, trará facilidades, dores e delícias, e a demanda por uma nova adaptação.
Em março de 2020, tivemos que nos ajustar quando tudo fechou e as pessoas foram para suas casas. Aprendemos a trabalhar em um cenário distinto, familiar, onde na maioria das vezes não tínhamos um espaço dedicado ou apto ao home office. Construímos esse espaço e nos acostumamos a essa dinâmica. Agora, precisaremos nos desconstruir para entender esse novo modelo híbrido, totalmente distinto do que vivíamos no pré-pandemia. E, como resultado prático dessas mudanças, até mesmo esse “cantinho do trabalho” dentro de nossas casas irá mudar – afinal, já não existirão uma ou mais pessoas trabalhando todo o tempo em home office. Nos readaptaremos a sair de casa, à rotina casa-trabalho, à nova organização do lar e da vida com os filhos.
Talvez o principal desafio a ser encarado será o stress gerado pela volta. Retornaremos a vivenciar a rotina caótica das cidades: os congestionamentos, o transporte público, as intempéries climáticas, algo que desaprendemos. Antes, estávamos economizando algumas horas do dia ao driblar tudo isso. Antes, o stress era ficar confinado, checando se o microfone estava ou não no mudo, gerenciando a casa, família e trabalho ao mesmo tempo. Agora, o stress será voltar ao convívio com a sociedade.
Ouvimos relatos de pessoas com receio de sair de casa por conta da violência e do vírus – dos quais estávamos mais protegidos, de certa forma. Teremos a necessidade de manter os cuidados com a saúde mental, de modo a prevenir e amenizar eventuais picos e casos de burnout, ansiedade, depressão e outras síndromes. Nesse sentido, o RH e a liderança devem continuar ao lado dos colaboradores. As empresas que entenderam a necessidade de humanização no seu cotidiano ao “entrar na casa das pessoas”, devem se atentar e manter a empatia que seguirá essencial. Na Kraft Heinz, iremos manter as ações voltadas à saúde mental dos funcionários e ajudá-los a recriar suas rotinas, de modo a manter o equilíbrio e cuidar de si mesmos.
Também iremos reaprender a conviver com as pessoas. Diferentes, únicas, cada qual com seu comportamento. Essa volta é muito positiva: socializar é algo intrínseco a nós e faz parte de nossa essência. Contudo, gera desafios e oportunidades com as quais não estávamos lidando. Acima de tudo, o bom senso será mandatário nesse novo modelo. Desenvolvermos a capacidade de incluir as pessoas (presencial ou virtualmente), sermos flexíveis ao ponto de entender os horários e demandas de quem está alocado presencialmente é diferente do virtual – trânsito e imprevistos que podem demandar certos ajustes na agenda, são desafios que deveremos cuidar para incluir a todos.
Acontecerão também fenômenos curiosos no retorno tais como: pessoas que não se conhecem pessoalmente e terão um primeiro contato, novos grupos de convivência considerando dias alternados de trabalho, profissionais que começaram suas carreiras trabalhando em casa, e irão trabalhar do escritório pela primeira vez – na KHC, cerca de 10% dos colaboradores irão viver essa experiência.
Em meio a tantos aprendizados, o time de People preparou treinamentos e orientações para os colaboradores da companhia, de modo a prover soluções e uma volta agradável para todos. Iniciamos as sessões de treinamento no final de setembro, nas quais estamos abordando a legislação trabalhista, dicas práticas de como atuar no modelo híbrido, boas práticas de escritório, organização dos espaços de trabalho (que agora não têm local fixo), protocolos de saúde (uso de máscaras durante todo o dia, higiene das mãos e distanciamento social) e saúde mental.
Nosso regime híbrido terá dois dias em casa e três no escritório. Em um primeiro momento, os colaboradores poderão adotar esse regime aos poucos, avisando com antecedência as datas que atuarão presencialmente, para evitarmos aglomerações. No ano que vem, iremos acelerar a retomada, mas com flexibilidade e empatia para enxergarmos casos particulares em que a pandemia mudou radicalmente a vida do funcionário. É nosso papel entender como apoiar nossos colaboradores nessa readaptação.
A retomada trará ao RH um trabalho estratégico e de liderança que começou com a pandemia e não terminará com o fim dela. É a continuação dessa jornada.