Por que precisamos falar mais sobre fracassos e aprender com eles: a importância do compartilhamento de erros no mundo corporativo
É isso mesmo. Antes do acerto vem muita coisa errada, então se parece que não tem erro é só porque nada está sendo dito sobre ele.
No final do ano passado participei de um desses eventos de comunicação e marketing que trazem diversos profissionais para falar sobre cases relevantes no mercado. Tinha de tudo: criação de produtos digitais, gestão de crise, comunicação interna… Situações e ambientes bem diversos, mas todos com um ponto em comum: apenas trajetórias positivas.
Saí do evento pensando o que tinha aprendido com aquelas experiências e entendi que foi muito pouco diante do tempo dedicado. Isso porque o que foi passado ali acabou virando ‘mais do mesmo’, o que se propaga em todo e qualquer santo evento. E os percalços do caminho? Quando seriam compartilhados?
Para e pensa quanto de atenção você consegue dedicar atualmente a quem vem te contar mais um caso de sucesso (alô vida perfeita do Instagram e LinkedIn) e o quanto seus olhos e ouvidos se abrem para as pessoas que mostram vulnerabilidade e que se dispõem a te contar o que não deu certo para talvez você não precisar passar pela mesma experiência.
Ouvi alguém dizer por esses dias que a vida é muito curta para cometermos todos os erros necessários para o bom aprendizado. Que a gente possa aprender uns com os erros dos outros.
O mercado de inovação, principalmente relacionado a novas tecnologias, já consegue aplicar esse compartilhamento do erro em suas rotinas. Mas muitas vezes isso ainda vem de forma maquiada, principalmente se estamos falando de uma grande corporação.
E nada se cria sem que a gente bata muito a cabeça antes, teste muitas hipóteses e mude a rota no meio do caminho.
A partir de algumas discussões virtuais sobre o tema me apresentaram a iniciativa Fuckup Nights, projeto global que já existe há 10 anos e que já passou por mais de 300 cidades em 90 países. O objetivo é compartilhar histórias de fracasso. Sim! Em cada evento alguns palestrantes contam uma história que não terminou bem e como aprenderam com isso.
Na primeira edição que consegui tirar do papel em março deste ano falamos de empreendedorismo, intraempreendedorismo e até de saúde mental. Os palestrantes vinham de realidades e mercados muito diferentes entre si, mas o interessante foi observar que todos passavam por dores muito semelhantes em suas jornadas.
Na curadoria das histórias conversei com umas 30 pessoas que se dispuseram a contar suas situações de erros e pude constatar que temos umas cinco frentes em que todos eles erravam, mesmo passando por temáticas e objetivos completamente diferentes.
Se essas pessoas tivessem tido acesso umas às experiências das outras será que todas teriam passado pelos mesmos percalços? Talvez não. Talvez sim. Mas só vamos descobrir se normalizarmos e aceitarmos essas conversas.
Por trás daquele super lançamento de produto ou aquela linda campanha premiada pode ter certeza que teve sangue, suor e lágrimas (para romantizar ainda um pouco e não dizer gritaria, babado e confusão).
Acho que ainda temos que falar muito sobre isso. No que depender de mim, estamos só no começo.
Mariana Maciel – líder de marketing de conteúdo na divisão agro da Bayer Brasil