O mundo ideal é que as companhias pudessem, por meio de investimento social privado, ou mesmo apoio a programas e projetos focados em inclusão de mulheres na área de vigilância patrimonial, ir além das obrigações legais.
Por Marina Bertolucci, Superintendente Executiva da Pessoas e ESG na TecBan
Apesar de o espaço da mulher no mercado de trabalho estar conquistando amplitude nos debates sobre equidade de gênero e profissional, o tema precisa ser debatido continuamente – especialmente quando olhamos para áreas consideradas “masculinas”, como a de vigilante patrimonial, por exemplo.
O cenário, nesse setor, é marcado por algumas polêmicas, mas também iniciativas que estão começando a ganhar corpo e relevância. Antes de descermos nesses detalhes, vale abrir a lupa para o cenário nacional de todo o mercado de trabalho: dados do Pnad de 2023 mostram que dos 100.984.563 trabalhadores ativos gerais, apenas 43.380.636 são mulheres, reforçando que o discurso não pode parar e nem ser vencido pela estatística.
E trouxe esses números acima para conectá-los às recentes discussões em torno da publicação do Projeto de Lei 31/22, que torna obrigatória a presença de vigilantes particulares do sexo feminino em bancos e demais instituições financeiras. Necessidade de reverter o índice acima? Um olhar sensível por parte dos agentes de transformação para a urgência de incluir mulheres nas tais áreas masculinas?
Bem, o que sabemos, por enquanto, é que o texto, apesar de não ter sido tão bem recebido entre as esferas públicas e até privadas, foi aprovado pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, está em análise na Câmara dos Deputados, e determina que “os estabelecimentos bancários sejam obrigados a dispor de, no mínimo, 30% de vigilantes do sexo feminino e que as empresas de segurança ofereçam treinamento adequado, com conteúdo relacionado aos direitos humanos.”
O mundo ideal é que as companhias pudessem, por meio de investimento social privado, ou mesmo apoio a programas e projetos focados em inclusão de mulheres na área de vigilância patrimonial, ir além das obrigações legais. Ou ainda: ao invés de escolher surfar na onda para jogar luz no S da sigla ESG, se comprometessem a identificar as necessidades em cada território, disponibilizando escuta ativa às mulheres das comunidades de seu entorno e investissem na criação de ações e iniciativas de desenvolvimento, atração e retenção desses talentos femininos.
Mas será que já não estamos dando esses primeiros passos? Na companhia onde atuo, para além do estabelecimento de metas reais e tangíveis, fizemos o exercício de escutar o mercado, especialmente as mulheres, e identificar as necessidades e oportunidades para atrair talentos femininos para ocuparem cargos de vigilante patrimonial com extensão, inclusive, para carro-forte.
Modéstias à parte: não esperamos pela obrigação legal porque, de fato, estamos comprometidos em aumentar o número de mulheres ocupando diversas posições na companhia. E quando digo modéstia à parte, é porque não é algo a celebrar, pois, enquanto iniciativa privada, atuando em frentes diversas como a de segurança e transporte de valores, temos o dever de olhar para onde estamos fazendo negócios e chamar para dentro quem está por perto.
Para isso, criamos um programa voltado para mulheres que desejam atuar na área de segurança patrimonial, e vamos oferecer 20 bolsas de estudos em escolas de formação de Norte a Sul do país, nas 28 cidades de nossa atuação.
Por aqui estamos comprometidos em aumentar o número de mulheres ocupando diversas posições na companhia. Ainda não é algo a celebrar, pois, enquanto iniciativa privada, atuando em frentes diversas como a de segurança e transporte de valores, temos o dever de olhar para onde estamos fazendo negócios e chamar para dentro quem está por perto.