Por Ana Menegotto – Vice-presidente de Recursos Humanos da Sodexo On-site Brasil
Apesar de anos de luta das mulheres para fortalecer sua presença e ação na sociedade, o mercado tem evoluído de forma lenta e, hoje, ainda vemos uma realidade desfavorável: os altos cargos das organizações ainda são majoritariamente ocupados por homens.
Ainda que a pauta da equidade de gênero venha sendo, cada vez mais, inserida dentro das empresas, diversos estudos e levantamentos apontam uma desvalorização da mulher no mercado de trabalho, especialmente quanto à posição hierárquica ocupada e quando analisamos a remuneração salarial comparativa entre os gêneros, e nos mostram que há muito o ser feito.
A pesquisa “Indicadores sociais das mulheres no Brasil” realizada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e publicada em 2021, por exemplo, aponta que apenas 37,4% das mulheres brasileiras ocupam cargos de gerência ou diretoria. Além disso, as mulheres ganham até 38,1% menos quando ocupam a mesma função que um profissional do gênero masculino.
Somado a isso, a mesma pesquisa mostrou que no Brasil as mulheres se dedicaram ao cuidado de pessoas ou afazeres domésticos quase o dobro do tempo dos homens – 21,4 horas semanais contra 11. Outro dado relevante vem de um levantamento da Consultoria IDados, realizado com base em números do IBGE, que mostra que 34,4 milhões de mulheres são chefes de seus lares no Brasil, o que representa quase metade dos lares brasileiros.
Podemos analisar, a partir desses dados, que a jornada é muito mais pesada para nós, mulheres, pois na maioria das vezes temos mais de um turno a cumprir. E a pandemia da Covid-19 aumentou ainda mais a distância da equidade. Uma análise mundial feita pela consultoria McKinsey, em 2020, revela que os empregos das mulheres são 1,8 vezes mais vulneráveis à crise que o dos homens. Um dos motivos é o aumento da carga de trabalhos não remunerados como cuidar das crianças e idosos e serviços domésticos, que é desproporcionalmente carregado pelas mulheres.
Com a responsabilidade duas vezes maior do que a dos homens por afazeres domésticos, a tendência é a redução da participação da mulher no mercado de trabalho. A pesquisa mostra ainda que isso não se deve à menor instrução da mulher com relação ao sexo oposto, pelo contrário, a proporção das pessoas com mais de 25 anos que possuem nível superior entre os homens é de 15,1%. Já entre as mulheres chega a ser 19,4%.
Diante deste cenário não há dúvida do quanto é necessário que haja iniciativas de apoio à mulher, para o desenvolvimento de suas carreiras profissionais e crescimento dentro das organizações. E nesse sentido, as empresas têm um grande papel e vemos que muitas já atuam fortemente nesse tema.
Minha fala não é sobre ter favoritismo para as mulheres, mas sobre oferecer oportunidades equalitárias para o profissional, independentemente do seu gênero. Acredito que cada um de nós é um importante agente nessa transformação, que promove o desenvolvimento humano e permite essa igualdade de oportunidades para todos.
A pesquisa Mulheres na Liderança (4ª edição), realizada pela Women in Leadership in Latin America (WILL) – organização internacional sem fins lucrativos criada para apoiar e promover o desenvolvimento de carreira das mulheres na América Latina – aponta que, em 2021, 58% das empresas brasileiras possuíam políticas formais para a promoção de gênero, com metas claras e ações planejadas. Um crescimento de 17 pontos em relação a 2019. Outro dado interessante é que 67% dessas organizações estão contratando mais mulheres para cargos ocupados por homens e 62% contratado mulheres para cargos de maior nível hierárquico.
Por isso, como líder da área de Recursos Humanos da Sodexo On-site Brasil, trabalho para fortalecer e fomentar iniciativas sólidas para o desenvolvimento profissional das mulheres dentro da companhia e também no mercado de trabalho. Equidade se faz todos os dias, portanto, busco estar próxima dos nossos colaboradores valorizando a importância de cada um para o negócio e dando voz à diversidade de pensamento de modo a estimular ainda mais as oportunidades de crescimento e desenvolvimento na Sodexo.
Entre as diversas iniciativas que realizamos para promover e engajar a equidade e inclusão, posso citar a Política de Gênero, com a qual adotamos métodos de identificação e seleção de candidatos a uma vaga, que não discriminem grupos de pessoas e que reflitam a nossa política de diversidade, equidade e inclusão.
E isso se reflete em nosso dia a dia, tanto global como localmente. No mundo, por exemplo, temos 60% de mulheres no Conselho de Diretores e 29% no Comitê Executivo Global. Já no Brasil, somos 85% de mulheres líderes e temos um Comitê de Liderança Regional formado por 63% de mulheres.
Ainda temos muito a percorrer, mas são iniciativas como essa, que visam contribuir para um mercado de trabalho mais justo, igualitário e sem preconceitos, onde a mulher é valorizada e reconhecida pelo seu talento e potencial, que me inspiram a seguir lutando por essa causa. Acredito que nossas atitudes têm o poder de equalizar as diferenças entre homens e mulheres estabelecidas há tanto tempo na sociedade e no ambiente corporativo e mudar essa realidade.