Os executivos são contratados por curriculum e 90% desses demitidos por comportamento e não por falta de conhecimento
O número de executivos brasileiros com desvio de caráter cresceu significativamente nos últimos cinco anos, como mostra a Pesquisa Perfil Comportamental dos Executivos, elaborada pela HSD Consultoria em RH e pela Orchestra Soluções Empresariais.
No último levantamento, realizado a partir de processos de avaliações comportamentais com 3.500 profissionais que ocupam cargos de comando em médias e grandes corporações no período de 2014/2017, 27% demonstram desvio de conduta que resultam em potenciais riscos para as empresas onde atuam. A pesquisa anterior, de 2013, apontava que 20% de 5 mil avaliações realizadas identificavam esse perfil.
“Esses comportamentos não são identificáveis em sua grande maioria através de entrevistas estruturadas, até mesmo porque, normalmente esses indivíduos apresentam alto nível de inteligência cognitiva, o que favorece elaborar meios inteligentes para conseguir o que almeja e a manipulação vem como decorrência desse processo, mostrando demasiada simpatia em seus contatos pessoais”, diz a presidente da HSD, Susana Falchi.
A identificação desses perfis ocorre através de um conjunto de ferramentas psicológicas aplicadas que não possibilita a manipulação de resultados. A avaliação é totalmente técnica, independente da percepção do interlocutor que o está entrevistando. “Em nossa metodologia, quem tem contato com os indivíduos, não realiza o processo de avaliação, deixando a cargo dos especialistas em comportamento, baseando-se somente nos resultados das ferramentas”, explica.
No estudo, são considerados desvios caráter características como interesses pessoais desmedidos, conflitos de interesses com atividades que levam a ganhos individuais e condutas moral e ética. Dentre as práticas, executivos com esse perfil de personalidade estão: maquiagem de resultados, desvios de valores financeiros, manipulação de dados e pessoas para atendimento a interesse próprio e outros comportamentos que resultam em uma cultura organizacional permissiva, em que controles são fragilizados e a própria corporação é colocada em risco.
O estudo mostra que, apesar dos riscos a que ficam expostas por conta desse tipo de atuação executiva – como evidenciam recentes escândalos de corrupção em grandes empresas – as corporações dão pouco valor à avaliação do fator humano em suas matrizes de risco. Os executivos são contratados por curriculum e 90% desses demitidos por comportamento e não por falta de conhecimento. “Empresarialmente, o risco fator humano na condução das empresas tem tido pouca atenção por parte dos empresários, acionistas e conselhos de administração”, observa Susana.
A pesquisa aponta ainda que houve a piora do item “Desvio de Caráter, com tendência a desvio de valores financeiros”. No levantamento de 2013, 25% dos executivos com desvio de conduta exibiam o problema que envolve questões como a cobrança de comissões de fornecedores; desvios de mercadorias e apropriação indevida de valores. Agora, o percentual chega a 27%.
Apesar dos riscos envolvidos na contratação deste tipo de executivo, algumas empresas relutam em tomar decisões para o desligamento e a justificativa de alguns CEO´s é que eles trazem resultados para o negócio. “Ora, se há desvio de conduta comprovada pela auditoria, uma ação imediata e contundente deveria ser a ordem e não uma discussão. Pois com certeza, outras pessoas da organização sabem deste desvio de conduta e a mensagem que se passa é que desde que traga resultados, pode!”, ressalta Susana.
Chama a atenção o aumento dos casos de desvio do comportamento sexual. A pesquisa anterior apontava que apenas 4% dos entrevistados exibiam tal problema de conduta, enquanto hoje, o percentual praticamente dobrou: 7%. “Percebemos que há uma visão de impunidade. Por ocupar um cargo importante, o executivo acredita que pode tudo e que não será denunciado. É um reflexo de problemas que a nossa sociedade tem. Muita gente acredita que ter poder é um salvo-conduto para fazer o que quiser, e a sociedade, de certa forma, endossa isso”, explica.
Estrutural | % 2013 | % 2017 | Comportamento /Impacto |
*Omite/esconde erros | 100 | 100 | Relatórios gerenciais alterados ou maquiados
Falta de transparência nos processos Falta de clareza na condução da área |
Desvio de caráter devido à autoimagem inflada | 28 | 30 | Não respeita limites
Passa por cima de regras Passa por cima das pessoas Manutenção da imagem autocriada. |
Desvio de Caráter, com tendência a desvio de valores financeiros. | 20 | 27 | Cobra comissões de Fornecedores
Desvios de mercadorias Apropriação indevida de valores. |
Dissimulação/mentira/intriga | 22 | 25 | Apresenta situações diferentes da realidade
Enfeita as situações para ficar “bem na fita” Esconde as reais intenções Finge emoções que não sente |
Desvio de caráter devido à baixa autoconfiança | 13 | 17 | Manipulador para seus próprios interesses
Volátil, muda de posicionamento de acordo com as situações, somente para não se comprometer; Não interage com seus pares e equipe Desconfiado Centralizador, não delega |
Desvio de caráter devido à estrutura emocional fragilizada | 8 | 12 | Cria-se uma dependência patológica da equipe.
Não traz assertividade em suas colocações, (fala, mas, não diz) Fica em “cima do muro” em todas as situações. |
Desvio do comportamento sexual | 4 | 7 | Assedio sexual
Assedio moral |
*O comportamento esconder/omitir erros está associado aos demais comportamentos, por isto, aparece como 100% dos casos avaliados.
Como as empresas podem atuar preventivamente?
- Mapear o perfil comportamental de todos os profissionais selecionados (e não somente, comportamentos observáveis, mas também os fatores estruturantes da personalidade);
- Ter seus sistemas de controle aperfeiçoados para não ter dependência humana no que tange aos indicadores gerenciais, principalmente;
- Ter processos integrados que assegurem entradas, processamentos e saídas que possam ser controladas.
- Desenvolver a cultura de ética e integridade nas organizações com plano de consequências;
- Valorizar os resultados a médio e longo prazo;
- Rever o sistema de bônus executivo, vinculando seu ganho aos resultados de longo prazo;
- Desenvolver políticas de RH que sejam permeadas pela visão de gerenciamento de riscos.