Flexibilidade no trabalho não significa trabalhar menos
Horários rígidos, obrigatoriedade de presença no escritório, férias fixas. Essas e outras características do modelo tradicional de trabalho já estão caindo por terra há muito tempo e provando que não são as únicas alternativas viáveis para um trabalho eficiente e produtivo.
Com a chegada das gerações Y e Z no mercado, a exigência por flexibilidade no trabalho se torna mais frequente e, mesmo que seja silenciosa, se manifestando na falta de dedicação, tem feito barulho dentro das empresas.
Uma pesquisa recente realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou que sete em cada dez brasileiros gostariam de ter flexibilidade de horário no trabalho. O relatório, que contou com 2.002 entrevistados em 140 municípios brasileiros, mostra que 38% dos profissionais com emprego formal possuem flexibilidade de horário de entrada e saída. Já entre os que realizam atividades informais, esse número sobe para 76%.
O home office ou locais alternativos são o desejo de 73% dos entrevistados. Além disso, 53% gostariam de dividir as férias em mais períodos, 58% gostariam de reduzir o horário do almoço para saírem mais cedo, 63% gostariam de trabalhar mais horas por dia em troca de folgas semanais, e 62% gostariam de receber o vale-transporte em dinheiro.
Mas será que esse é o destino de todas as empresas? Vale a pena investir em horários flexíveis e na possibilidade de home office para todos? Talvez sim e você vai entender o porquê.
Por que aderir ao modelo de flexibilidade no trabalho
Uma pesquisa da consultoria Bain & Company com 3.300 profissionais mostrou que a adoção de políticas de flexibilização contribui para aumentar os índices de retenção nas organizações em 25% no caso dos homens e em 40% entre as mulheres.
A justificativa mais comum para adotar a flexibilidade no trabalho é que o colaborador acaba produzindo mais porque se sente mais motivado e se permite realizar as tarefas com mais tranquilidade quando não está sob os olhares da gerência.
A principal vantagem da flexibilidade no trabalho é perceber exatamente quais são os funcionários que realizam suas atividades de forma produtiva e determinada, agindo com proatividade mesmo quando não estão sob vigilância constante.
Adotar horários flexíveis, permitir o home office e facilitar outras escolhas por parte de seus colaboradores será uma grande ajuda em termos de contratar melhores funcionários no futuro, pessoas mais comprometidas com o serviço, não importando onde ou quando o fazem.
No entanto, dependendo da empresa ou da função exercida pelo funcionário, o horário de trabalho flexível e o home office pode não ser viável ou conveniente. Um exemplo disso seriam profissionais que trabalham diretamente com o atendimento de clientes ou que não possuem as ferramentas necessárias para realizar suas funções em casa.
Como começar
Para mudar do modelo tradicional de gestão para um modelo mais flexível, o primeiro passo é entender qual é a visão de todos os gestores sobre essa mudança e se todos estarão de acordo com essa abertura. A cultura organizacional vai auxiliar muito na forma como o gerenciamento das atividades será feito e no quanto beneficiará a empresa.
A partir daí, um bom jeito de começar a flexibilizar as condições de trabalho em sua empresa é oferecendo a possibilidade de chegar mais tarde ou sair mais cedo do trabalho, desde que essas horas sejam compensadas em algum momento.
Para isso, adotar uma prática de banco de horas pode ser a melhor alternativa. Já existem milhares de ferramentas de cálculo de horas por atividade que auxiliam nesse processo, como o Basecamp, Runrun.it e todoist. Essas ferramentas já auxiliam também na adoção do home office, permitindo que o tempo gasto nas tarefas seja marcado mesmo longe do escritório e visualizado por todos os funcionários.
Para adotar o home office, comece oferecendo um dia da semana como opcional para trabalhar fora do escritório e veja quais são as consequências disso nas primeiras semanas. Se tudo correr bem, nenhuma tarefa fora do comum será atrasada ou feita “nas coxas”. Pelo contrário, seus funcionários se sentirão mais à vontade e determinados para voltar ao trabalho nos próximos dias.
Deixe o gestor de cada setor responsável por avaliar a produtividade dos funcionários mesmo quando estão em home office e fique sempre atento às cobranças de prazo, especialmente nos primeiros meses.
Poder auxiliar a família com diferentes responsabilidades, ter mais tempo para organizar a vida pessoal, reduzir o tempo do trajeto até o local de trabalho, ter menos distrações no trabalho, alinhar o dia de trabalho com horários mais produtivos e com colegas que tenham fusos diferentes são só algumas das vantagens que um trabalho mais flexível vai trazer para seus funcionários.
Se isso tudo não for trazer benefícios para um trabalho melhor realizado, de qualidade, transparente e criativo, você pelo menos tentou a chance.
Por Adriano Meirinho, CMO e co-fundador do Celcoin