O ambiente corporativo moderno é um espaço dinâmico, onde a pressão por resultados, prazos apertados e mudanças constantes tornam o papel do gestor crucial para o sucesso das empresas. No entanto, apesar da crescente conscientização sobre a importância da gestão humanizada, ainda é comum encontrar gestores que adotam comportamentos considerados tóxicos. Isso levanta uma questão importante: por que, em pleno século XXI, ainda existem tantos gestores tóxicos? E, mais importante, como o departamento de Recursos Humanos (RH) pode identificá-los e lidar com essa questão de forma eficaz?
O que é um gestor tóxico?
Um gestor tóxico é aquele cujo comportamento e estilo de liderança causam danos ao bem-estar dos colaboradores, afetando negativamente o ambiente de trabalho. Eles tendem a ser autoritários, desrespeitosos, centralizadores e insensíveis às necessidades emocionais e profissionais de suas equipes. Estudos recentes revelam que a presença de gestores tóxicos pode levar ao aumento de doenças psicológicas, como ansiedade e depressão, e ao aumento da rotatividade de funcionários, além de reduzir drasticamente a produtividade e a inovação dentro das organizações.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Gallup, cerca de 50% dos funcionários que deixam seus empregos citam seus chefes como a principal razão para isso. Isso mostra o impacto devastador que um gestor tóxico pode ter na retenção de talentos e na saúde da cultura organizacional. Outro estudo, da Leadership IQ, indicou que mais de 30% dos funcionários que trabalham para chefes tóxicos apresentam altos níveis de estresse e desmotivação no ambiente de trabalho.
Por que ainda existem tantos gestores tóxicos?
Há várias razões para a persistência de gestores tóxicos no ambiente corporativo, mesmo com o aumento da conscientização sobre a importância de uma liderança mais empática e colaborativa. Algumas das principais causas são:
Falta de Treinamento e Capacitação: Muitas empresas ainda promovem funcionários a cargos de gestão sem fornecer a devida formação sobre liderança. Ser um bom profissional técnico não significa, automaticamente, que a pessoa será um bom líder. Sem capacitação adequada, muitos gestores acabam replicando comportamentos autoritários ou inadequados que observaram ao longo de suas carreiras.
Cultura Corporativa Tóxica: Quando a cultura organizacional é centrada apenas em resultados e lucros, sem levar em conta o bem-estar dos funcionários, há uma maior probabilidade de que gestores adotem comportamentos tóxicos para atingir suas metas. Essa cultura fomenta a ideia de que a “liderança dura” é necessária para alcançar o sucesso, desconsiderando os efeitos prejudiciais dessa abordagem.
Falta de Feedback: Muitos gestores não recebem feedback adequado sobre seu desempenho como líderes. Sem um sistema eficiente de avaliação e feedback, comportamentos tóxicos podem se perpetuar por anos, sem que o gestor perceba o impacto negativo de suas ações.
Ausência de Consequências: Em algumas empresas, gestores tóxicos permanecem em suas posições por serem vistos como “geradores de resultados”. Enquanto atingirem metas financeiras, seus comportamentos negativos são ignorados ou até mesmo tolerados pela alta liderança, o que reforça a ideia de que o fim justifica os meios.
Pressão Excessiva por Resultados: Em ambientes de alta pressão, onde resultados de curto prazo são priorizados, os gestores podem sentir-se compelidos a adotar práticas agressivas para garantir a entrega de metas. Essa pressão, sem suporte adequado, pode gerar um comportamento tóxico que afeta todo o time.
Como o RH pode identificar gestores tóxicos?
O papel do RH é fundamental na identificação e no combate aos gestores tóxicos. Abaixo estão algumas estratégias que o departamento de RH pode adotar para detectar comportamentos prejudiciais na liderança:
Feedback de 360 Graus: Uma das maneiras mais eficazes de identificar gestores tóxicos é por meio do feedback de 360 graus, onde os funcionários, colegas e superiores avaliam o desempenho do gestor em diversas competências. Esse tipo de feedback oferece uma visão holística e pode trazer à tona comportamentos tóxicos que não são visíveis para a alta liderança.
Pesquisas de Clima Organizacional: Realizar pesquisas periódicas de clima organizacional é uma excelente ferramenta para medir a satisfação dos colaboradores e identificar áreas problemáticas, incluindo a presença de gestores tóxicos. Perguntas anônimas sobre o estilo de liderança, a satisfação com o gestor direto e o ambiente de trabalho podem fornecer insights valiosos para o RH.
Análise de Rotatividade de Funcionários: Um dos sinais mais claros de que há um gestor tóxico em uma equipe é a alta rotatividade de funcionários. Se um determinado departamento ou equipe apresenta uma taxa de turnover muito acima da média da empresa, isso pode ser um indicativo de que o gestor está contribuindo para a insatisfação dos colaboradores.
Monitoramento de Indicadores de Saúde Mental: Gestores tóxicos estão frequentemente associados ao aumento de casos de burnout, estresse e outras questões de saúde mental entre os colaboradores. Monitorar a quantidade de licenças médicas relacionadas à saúde mental e realizar conversas com profissionais que estão se afastando podem ajudar a identificar ambientes de trabalho tóxicos.
Observação Direta e Entrevistas de Saída: O RH deve estar atento a comportamentos observáveis nos gestores durante reuniões, interações com suas equipes e momentos de pressão. Além disso, entrevistas de saída podem fornecer informações valiosas sobre o comportamento dos gestores, especialmente quando um funcionário está saindo da empresa devido à liderança inadequada.
Estabelecimento de Canais de Comunicação Abertos: Criar um canal de comunicação anônimo e seguro para que os funcionários possam relatar comportamentos abusivos ou tóxicos também é uma medida crucial para a identificação de gestores problemáticos. O RH deve incentivar os colaboradores a usarem esse canal sem medo de represálias.
O que fazer após identificar um gestor tóxico?
Identificar um gestor tóxico é apenas o primeiro passo. Depois de detectado, o RH deve agir de maneira estratégica para corrigir o problema. Algumas ações incluem:
Treinamento e Coaching: Oferecer treinamentos focados em liderança humanizada e empática, além de programas de coaching, pode ajudar a transformar gestores com comportamentos tóxicos em líderes mais eficazes e colaborativos.
Feedback Contínuo: A implementação de um sistema de feedback contínuo permite que o gestor receba orientações regulares sobre seu desempenho, ajudando a ajustar comportamentos e a melhorar sua relação com a equipe.
Acompanhamento e Medição de Resultados: O RH deve acompanhar de perto a evolução dos gestores que apresentaram comportamentos tóxicos, garantindo que as mudanças necessárias sejam implementadas de forma duradoura.
Ações Disciplinares: Em casos mais graves, onde não há melhora após tentativas de desenvolvimento, o RH deve tomar medidas disciplinares que podem incluir demissão, se necessário.
Embora gestores tóxicos ainda sejam uma realidade em muitas empresas, o departamento de RH tem o poder e a responsabilidade de identificá-los e lidar com a situação. Através de estratégias de feedback, pesquisa de clima organizacional e monitoramento contínuo, é possível detectar esses comportamentos e tomar as medidas necessárias para promover um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo. Afinal, a cultura organizacional e o bem-estar dos colaboradores são fatores essenciais para o sucesso a longo prazo de qualquer empresa.