Fale a verdade: você fica admirado (a acha lindo!) alguém se expressar perfeitamente em inglês. E não consegue entender por que, enquanto muitos países do mundo são bilíngues, o Brasil tem pouquíssimas pessoas que dominam o segundo idioma – apesar de, a cada esquina, termos uma escola especializada no assunto.
Uma pesquisa realizada pelo British Council, em parceria com o Instituto de Pesquisa Data Popular, apontou que apenas 5% da população brasileira fala inglês – sendo que apenas 1% dessas pessoas é fluente. Isso significa que, numa situação em que seja preciso realizar uma apresentação ou conversar com alguém sobre trabalho, só 1 em cada 100 brasileiros conseguirá se sair bem. Apesar de a pesquisa ser de 2013, não existem indicações de que o panorama tenha mudado, de lá para cá, a ponto de nos orgulharmos.
Oportunidades de emprego perdidas, promoções adiadas – ou nunca alcançadas – , dificuldade de expressar-se em público, de ler e entender um texto, de escrever, de assistir a um filme sem legendas, de aproveitar melhor uma viagem internacional (e economizar nela), quanto o brasileiro perde por não ser fluente em inglês? Mas, afinal, por que é tão difícil, para nós, aprendermos o segundo idioma?
A forma como nos é ensinado o inglês não visa à comunicação. Quando iniciamos um curso, geralmente pagamos caro por livros cheios de teorias e que nos levam a verbos, pronomes e outras exigências da língua que, além de desmotivantes, travam nosso aprendizado.
Classes com muitos alunos são outro inconveniente para quem está aprendendo de falar. Se há uma sala com 15 alunos e a aula dura 60 minutos, cada aluno teria, teoricamente, quatro minutos para falar e ser auxiliado pelo professor em suas dificuldades. Como é impossível dividir o tempo entre todos, o professor se limita a ensinar uma teoria – que nem sempre é compreendida por todos por ser explicada em inglês – e aplicar exercícios. Mais uma vez, a comunicação fica prejudicada.
As explicações em inglês costumam dificultar o aprendizado. Quando um brasileiro está começando a aprender o inglês, ele não tem condições de entender absolutamente tudo em outro idioma. Então, acreditar que ele aprenderá mais se o professor se expressar apenas em inglês pode criar uma barreira entre as partes do processo, deixando o aprendiz constrangido em perguntar e esclarecer suas dúvidas porque ele não consegue se expressar nem sequer para perguntar.
Não levar em conta a bagagem cultural e social do aluno é outro erro que prejudica o desenvolvimento. Sem conhecer quais são os objetivos do aluno, porque ele quer aprender, onde ele pretende utilizar o idioma e, principalmente, quais foram as formas de contato que ele teve com a língua, é impossível traçar os objetivos personalizados de seu aprendizado.
Da mesma forma, desconhecer a personalidade do aluno, suas aptidões e a forma como ele aprendem atrasa o aprendizado. Imagine incluir música nas aulas de um aluno que não aprecia essa arte apenas porque ‘todo mundo gosta de música”. Da mesma forma, empurrar sobre o aluno filmes que ele jamais assistiria sozinho ou exercícios que são um martírio para ele fazem com que, cada vez mais, ele acredite que não tenha tempo para as aulas e, logo, abandone-as.
Por fim, mas não menos importante, criou-se uma indústria de ensino de inglês muito lucrativa, no Brasil. As escolas de grandes redes são editoras de livros e é justamente na venda desse material didático que elas obtêm lucro. Portanto, é interessante que o aluno passe dez anos estudando, porque as escolas garantem não só uma mensalidade praticamente vitalícia como o varejo de suas publicações.
Como se vê, são muitos os elementos que prejudicam o aprendizado e deixam o brasileiro cada dia mais longe da fluência em inglês. Se a metodologia não ajuda, por outro lado, a pressão para que se fale esse idioma só cresce. Uma pesquisa do site de busca de empregos Catho apontou que o domínio do inglês pode aumentar o salário em até 52%.
Como resolver todas essas questões? Para se tornar fluente, é preciso que o estudante perca, em primeiro lugar, o medo de falar, seja com seu professor ou com pessoas de seu círculo de amizades. Depois, é necessário que se encontre uma metodologia que valorize sua história, a forma como cada um aprende, e seja personalizada.
Se pretende formar turmas, que elas sejam bem pequenas, de até três ou quatro pessoas, e que elas sejam organizadas pelos alunos, entre amigos ou familiares. Dessa maneira, com todos se conhecendo e já tendo entrosamento, a comunicação acontecerá com facilidade e a vergonha de falar em público não estará presente, porque todos já se conhecem e têm algum contato. Assim, todos também têm tempo de falar durante a aula.
Em relação à metodologia, diversas pesquisas apontam que o método fonético é o melhor para o ensino do idioma. A combinação de letras e a representação do som delas leva o aluno a identificá-las melhor e aprender com mais facilidade cada palavra. Além disso, aplicar técnicas de Programação Neurolinguística (PNL) às aulas faz com que elas ofereçam maior aproveitamento.
Um professor que se aproxime dos interesses do aluno e o acompanhe a uma aula na academia, eventualmente, ou a compras no supermercado certamente obterá melhores resultados do que aquele que apenas despeja conteúdo sobre o aluno. Ou, então, aquele que joga videogame com adolescentes, orientando-os a conversar apenas em inglês e a identificarem elementos do idioma durante o jogo obterá resultados de aprendizado impressionantes. Isso é PNL e também é o conhecer o aluno, estar próximo a ele, entender suas vontades e necessidades.
Em relação à teoria, ela é necessária – mas, não obrigatoriamente precisa ser ensinada em inglês. Se o aluno entende o conteúdo mais denso em português, não existe nenhum problema em ensiná-lo a ele desta maneira, mesclando os idiomas quando for a hora de realizar leituras, exercícios e outras atividades. Esperar que o aluno compreenda absolutamente tudo em inglês é um erro que deve ser evitado.
Em relação aos livros, acredito que, aqui, cabe bem a expressão “burn the books”. Quem ensina inglês precisa, mais uma vez, desejar ardentemente que seu aluno se comunique perfeitamente. E esse o objetivo. Para isso, não é preciso seguir um livro, mas, sim, o caminho natural do aprendizado, que só quem é especialista em ensino consegue trilhar.
Enquanto o Brasil não passar por uma profunda mudança estrutural em seu conceito de ensino de inglês, continuaremos na rabeira do ranking dos países desenvolvidos que são fluentes. Até pouco tempo atrás, numa lista de 70 países, estávamos na posição de número 43, atrás de nações consideradas bem menos desenvolvidas.
O que aconselho, como especialista, é que cada um possa procurar aprender de uma forma mais natural, menos forçada e mais prática. Além de todas as observações que fiz, no decorrer deste artigo, tenho a dizer que o contato diário com o idioma, por meio de filmes ou músicas, por exemplo, pode ajudar no desenvolvimento da comunicação. Não substitui o ensino formal, para a maioria das pessoas, mas colabora muito, se a intenção for aprender, por meio da observação, repetição e fixação. That´s all, folks!
Por Márcio Cafezeiro, diretor pedagógico da IP School