Fernanda Godoy – CEO da Prando Godoy
De acordo com a edição de 2024 do Estudo Internacional “Radioscopia aos Departamentos de Recursos Humanos”, aproximadamente 43% das empresas brasileiras relatam dificuldades em garantir o engajamento e comprometimento de seus colaboradores. Além de ser um desafio crescente, essa situação é especialmente crítica quando associada aos itens diversidade e possibilidades de desenvolvimento. Mas a grande questão é: por que isso vem acontecendo?
Existem alguns fatores que contribuem ativamente para esse contexto, e eles estão relacionados à forma de gestão das empresas, associada ao novo perfil dos colaboradores. Vou tentar levantar alguns dos principais ofensores ao engajamento dos colaboradores:
As pessoas estão cansadas: Estamos vivendo na “era do cansaço”, onde as pessoas relatam cada vez mais se sentirem exaustas, sem energia ou motivação, enquanto as organizações exigem alta performance em todos os níveis. Isso gera mais estresse e pode levar a consequências graves para a saúde mental, como o burnout. Talvez tenhamos subestimado os efeitos colaterais da pandemia de 2020, e o que estamos vendo são pessoas que, de alguma forma, foram afetadas mentalmente e ainda não conseguiram se recuperar do cenário vivido.
Estamos viciados em dopamina: Com a vida cada vez mais conectada às redes sociais, onde a recompensa de likes é rápida e prazerosa, queremos sempre mais. Isso nos torna insensíveis à dopamina, necessitando de doses cada vez maiores para nos sentirmos “animados e felizes”. Esse fenômeno afeta todas as gerações e diminui a eficácia dos mecanismos tradicionais de motivação e engajamento nas empresas.
As lideranças não se comunicam bem: Comunicação é um problema generalizado, mas é uma ferramenta essencial para líderes. Ter objetivos claros e saber orientar os colaboradores é fundamental, mas muitos líderes estão despreparados para esses desafios, o que contribui para a desconexão dos colaboradores.
Geração Z influenciando pessoas: A Geração Z desafia as gerações anteriores ao questionar se os resultados tradicionais realmente importam. Eles valorizam o que é significativo para a vida deles e do planeta, e essa mentalidade está influenciando outras gerações a reavaliar suas prioridades.
O capitalismo agoniza: Entendemos que o modelo econômico atual gerou grandes desigualdades e esgotou recursos naturais. Ainda não descobrimos uma nova forma efetiva de movimentar as economias, e isso afeta o comprometimento dos colaboradores.
A vida acontece além do trabalho: A narrativa de “vida profissional” e “vida pessoal” criou uma dissociação que impacta negativamente a saúde física e mental. As pessoas estão criando estratégias para se preservar, vendo a alta performance exigida como abusiva.
Se você chegou até aqui, pode estar pensando que não existe saída e que teremos que conviver com essa falta de compromisso para sempre. Mas eu estou aqui para dizer que não é bem assim.
Nosso desafio é criar novas formas de trabalhar. Olhando para o futuro, podemos vislumbrar um mundo com relações de trabalho muito diferentes do que temos hoje. Para cada um dos itens que descrevi acima, pense em novas formas de lidar com esses desafios. Ouse, experimente, e se algo não funcionar, corrija a rota rapidamente. Ao invés de criticar comportamentos de novas gerações, experimente identificar o que é útil e inteligente. A motivação pode vir de diferentes hormônios, como endorfina e oxitocina; seja criativo e pergunte aos colaboradores o que os motivaria mais.
Sobre novos modelos de negócios, busque referências diferentes das mais comuns. A economista inglesa Kate Raworth propõe o modelo Donut, onde a economia se baseia na manutenção da existência infinita, e não no crescimento infinito. Frederick Laloux, filósofo belga, descreve a evolução das organizações e apoia empresas a mudarem seus modelos com sucesso.
Você pode não mudar o modelo de negócios de grandes empresas, mas pode contribuir ativamente para atualizar sua versão profissional e a de seu time. Faça sua parte na “revolução do pouquinho” e comece a trazer mais humanidade engajada em sua gestão.