Ao mesmo tempo em que vivemos hoje em um cenário de alto número de desempregados (13,9% da população segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), existem também inúmeras empresas com vagas em aberto e dificuldades para encontrar o candidato ideal. Isso acontece, principalmente, porque elas ainda não entenderam a importância de contribuírem para a formação interna de novos talentos e seguem priorizando a busca por profissionais prontos no mercado. Esses, por sua vez, estão cada vez mais escassos, principalmente tratando-se do setor de tecnologia.
Enquanto as companhias ainda não entenderem a importância de serem protagonistas para reverter esse cenário, continuaremos tendo processos seletivos que disputam profissionais que já estão no mercado, excluindo aqueles em busca de suas primeiras oportunidades. Mas como mudar isso e apostar em processos seletivos mais assertivos, tanto para empresa, como para os candidatos?
Antes de mais nada, é necessário olhar o processo de seleção como uma etapa fundamental de contato de pessoas com a sua marca. O primeiro passo é entender o recrutamento como uma via de mão dupla, em que não apenas a empresa está selecionando um talento, como também o profissional está selecionando o local em que irá trabalhar. Processos seletivos excessivamente formais tendem a deixar o candidato desconfortável e, além disso, passam a imagem de uma empresa fria.
Nesse sentido, é necessário desenvolver processos humanos, que levem em consideração características além das que estão no currículo e que valorizam as pessoas que estão desprendendo seu tempo e energia em cada etapa do funil de seleção. Além disso, o recrutamento humanizado garante que candidatos desenvolvam um relacionamento positivo com a sua empresa, o que pode gerar futuras aplicações e até indicações para outros pessoas.
Outro fator a ser levado em consideração é o fit cultural. Em um processo seletivo tradicional – aqueles em que a empresa segue etapas engessadas de seleção, não se permitindo inovar em estratégias mais eficientes de conhecer candidatos em maior profundidade – uma das principais características é que o candidato cumpra um checklist de habilidades (nem sempre necessárias) pré-determinado pela empresa. Considerar o fit cultural, nada mais é do que no momento de avaliação pensar: será que essa pessoa tem as características necessárias para representar a empresa?
Existe uma máxima que diz que “as hard skills contratam, enquanto as soft skills demitem”. Um estudo realizado pela Page Personnel, consultoria de recursos humanos, evidencia isso ao revelar que 90% dos colaboradores são desligados das empresas por conduta inesperada ou inapropriada. No momento da seleção, é importante levar em consideração que tarefas operacionais podem ser ensinadas no dia a dia, mas traços de personalidade que tenham relação com a cultura da empresa, não. Ao fazer isso, a companhia investe em um colaborador com maiores chances de demonstrar motivação e envolvimento com a organização. Além disso, estar alinhado à cultura da empresa faz com que o colaborador se veja como parte de um time e, com isso, se mostre mais disposto a atingir os objetivos do seu trabalho. É um jogo em que todos ganham.
Na Provi, startup que constrói soluções de acesso à educação, todos os profissionais em busca de suas primeiras oportunidades no mercado de trabalho são acompanhados de perto. O que se percebe é que os processos seletivos tradicionais ainda são muito enraizados em nossa cultura e, por isso, é importante fazer um trabalho constante tanto com empresas quanto com candidatos para buscar hackear os mecanismos tradicionais de seleção, oferecendo ambientes de visibilidade e oportunidade para profissionais excelentes independentemente de seu currículo. A Provi busca justamente preparar os profissionais para essa nova realidade de mercado e auxiliar empresas a se conectarem com novos talentos de maneiras inovadoras e que permita que elas possam conhecer o profissional em sua potência e totalidade.
Ana Baraldi é economista pela UNICAMP e atualmente é head de inovação na Provi, fintech de financiamento estudantil de alto impacto.