Por Bianca Aichinger, Fundadora da Quantum Development
Muito se fala de habilidades de liderança, mas ainda pouco se fala do poder da vulnerabilidade no trabalho do líder. A vulnerabilidade, que é definida como a sensação de incerteza que vivenciamos quando saímos de nossa zona de conforto ou quando sentimos que não temos controle, é algo que fomos educados a suprimir. Evitamos experimentar incerteza, risco ou exposição, por medo de sermos julgados.
Durante nossa infância fomos condicionados a levantar a mão na escola quando tínhamos as respostas. Os incentivos para termos as respostas eram muito maiores do que os incentivos às perguntas, e, com isso, perguntar e admitir não saber, gerava ansiedade e medo.
Anos se passam e solidificamos este modelo mental… até que viramos líderes. Ao sentarmos na cadeira de líder pela primeira vez, tomamos um choque de realidade. Não temos todas as respostas, e se tentarmos ser a fonte de todas elas, nos tornamos um grande gargalo para a equipe e para empresa.
Tolerar e exercitar a vulnerabilidade passa a ser, então, uma ferramenta de produtividade. Ao admitir que não sabemos tudo e fazermos perguntas, ganhamos produtividade e profundidade. Não saber tudo permite que pessoas que sabem mais do que nós compartilhem o que sabem e trabalhem com autonomia, e com isso conquistamos seu engajamento. Ganhamos velocidade porque decisões deixam de depender de nós.
Conquistamos espaço pra focar nos relacionamentos e problemas nos quais precisamos nos envolver. Como se não bastasse, a vulnerabilidade permite que desenvolvamos conexões ricas com pessoas, que são a base para relacionamentos de confiança. A vulnerabilidade tem o poder de aproximar pessoas. A inovação segue, pois pessoas confiantes em ambientes seguros ousam assumir riscos.
O líder tem um papel chave na cultura da equipe, pois, como é observado, serve de exemplo para os demais, que replicam seus comportamentos. O primeiro passo para esta cultura de abertura é então a liderança, por parte do líder, na demonstração de vulnerabilidade. A meu ver, no entanto, esta é a primeira e mais importante “desconstrução” que precisa acontecer com a transição de papéis. É também uma das mais desafiadoras, pois requer rever crenças enraizadas, e substiuí-las por novos e desconhecidos comportamentos.
Algumas formas de demonstrar e fomentar a vulnerabilidade são:
- Confiar no outro: acreditando que pessoas são bem intencionadas, reduzimos o medo de sermos julgados, tornando esta exposição mais fácil.
- Fazer mais perguntas: entender que admitir não saber não reduz o valor do líder, mas o fortalece. Bom líder é aquele que sabe aproveitar o que seu time tem de melhor
- Entender que vulnerabilidade não é uma fraqueza, mas sim sinal de coragem. Se expor quando o resultado é incerto passa a ser visto como sinal de coragem e força.
- Conhecer-se: ao termos clareza de nossos pontos de desenvolvimento e gatilhos, conseguimos falar sobre eles de forma mais leve.
- Começando pequeno: a demonstração de vulnerabilidade precisa ser dosada de acordo com o contexto e as pessoas presentes, e isso precisa ser aprendido. Começando com pequenas doses de vulnerabilidade desenvolvemos nossa musculatura, e habilidade de dosagem
Marshal Goldsmith, um dos Coaches mais renomados da atualidade, listou as habilidades dos líderes do futuro como sendo coragem, humildade, disciplina e adaptabilidade. Desenvolver a capacidade de demonstrar vulnerabilidade então é uma habilidade do líder do futuro, pois ela permite demonstrarmos tanto coragem quanto humildade.