Diante de um cenário com números tão impactantes, é nosso dever avaliar constantemente o ambiente corporativo e a saúde da própria organização, antes de mais nada
Por Fabiana Galetol, diretora executiva de Pessoas e Responsabilidade Social Corporativa na Pluxee
O ano era 2020, a pandemia se espalhava pelo mundo e estávamos trancados em casa. É natural pensar que a Covid-19 tenha sido o maior motivo de afastamento do trabalho nesse período. No entanto, entre os meses de março de 2020 e 2021, foram os transtornos mentais a principal causa de licenças médicas, segundo levantamento da B2P, consultoria especializada em gestão de funcionários afastados por razões médicas.
Pesquisando mais profundamente, descobri que uma em cada 10 pessoas no mundo sofre de algum distúrbio de saúde mental, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Isso significa que 10% da população global, ou cerca de 700 milhões de pessoas, precisam de ajuda para superar desafios que impactam não só sua vida pessoal, mas, sobretudo, a profissional.
Diante de um cenário com números tão impactantes, é nosso dever avaliar constantemente o ambiente corporativo e a saúde da própria organização, antes de mais nada. Sabe aquela orientação de segurança que recebemos nos voos, de que devemos colocar a máscara primeiro em nós mesmos e depois ajudarmos quem está próximo? Cabe perfeitamente nesse contexto: se não estivermos bem, não conseguiremos acolher o colaborador que precisa de ajuda.
Talvez neste momento você esteja enumerando os múltiplos papéis que desempenha, como cuidar dos processos seletivos, políticas de remuneração, cotas de diversidade, cultura organizacional, campanhas, promoções… e, além disso, pensar na saúde mental dos profissionais? Voltemos então ao princípio básico do RH, que é cuidar de pessoas. Nossa missão é olhar para o ser humano e enxergá-lo em sua totalidade, disponibilizando ferramentas para que consigam lidar com a complexidade do mundo em que vivemos. A saúde mental é, portanto, a base de tudo.
E temos ainda mais motivos de preocupação. Uma pesquisa feita com mais de 3 mil empresas pela Pulse, empresa de soluções para medir clima, engajamento e performance, revelou que o ambiente de trabalho, muitas vezes, é o principal causador de patologias. Segundo o levantamento, 80% dos trabalhadores se sentem esgotados, 54% estão frustrados com relação ao trabalho e 51% têm dificuldades em cumprir tarefas.
E é assim que o burnout se torna comum. Aliás, ele já é considerado uma doença ocupacional, com CID da Organização Mundial da Saúde, por estar associado diretamente à condição de saúde mental relacionada ao trabalho. Cansaço, exaustão, dificuldade de dormir, isolamento e alterações de humor podem ser sintomas desse mal que afeta cada vez mais profissionais. O mercado de trabalho é impactado pelo aumento de turnover, licenças médicas e afastamentos.
Do ponto de vista do profissional e do líder, é preciso manter uma disciplina de autocuidado. Fazer exercícios físicos regularmente, vivenciar momentos em família e com amigos, ter um passatempo favorito ajudam muito. Admitir que não está bem pode ser um grande desafio, principalmente na era dos profissionais multifacetados e de altíssima performance. A síndrome de super-heróis nos impede de enxergar que nossa mente precisa de uma pausa. E o quanto antes identificarmos e tratarmos os transtornos mentais, mais rapidamente nos recuperaremos.
Sugiro um teste simples, que você pode realizar agora mesmo. Ressalto apenas que não se trata de uma avaliação profissional, é apenas um indicador de que algo pode não estar no lugar certo. Mentalmente, responda sim ou não para as seguintes perguntas:
– Você tem se sentido irritado e sensível a críticas? Perdeu sua confiança e senso de humor?
– Anda cometendo erros além do normal, tem dificuldade para tomar decisões ou para se concentrar?
– Acha que está diferente de quem realmente é? Chega atrasado, não faz pausa para almoçar, não entra em brincadeiras da equipe, perde prazos?
– Está com a saúde fragilizada? Sente sintomas físicos como resfriados constantes, cansaço, ganhou ou perdeu peso repentinamente?
– Sente que trabalha mais horas do que deveria, trabalha até mais tarde, está menos motivado e produtivo?
Se respondeu ‘sim’ para duas ou mais perguntas, fique bastante atento. A minha recomendação é buscar ajuda, pesquisar o tema, praticar terapias de autoconhecimento, cuidar-se.
Deixo aqui minhas recomendações para aliviar a carga mental: praticar diariamente 30 minutos de exercícios físicos, melhorar a saúde e reduz o estresse. Terapias como meditação, massagem, mindfulness e respiração são ótimos para tranquilizar a mente e organizar os pensamentos. Manter uma alimentação saudável e fazer as refeições com tranquilidade, parando para focar no momento vivido, são essenciais para manter corpo e mente saudáveis. Incluo nessa lista também atitudes simples, mas muito valorosas, como celebrar as conquistas, ter gratidão e manter o olhar positivo, mesmo em momentos conturbados.
Como gestores de RH, temos o poder de transformar as organizações e construir um ambiente saudável. Oferecer aos funcionários um serviço de apoio capacitado, seguro e isento é fundamental para desenvolver a cultura de saúde e bem-estar. Um ambiente com esse tipo de valorização gera mais segurança e colaboração entre as equipes e oferece abertura para o debate de temas delicados, aumentando a confiança individual e coletiva.