A saúde mental é um fator crítico para o bem-estar das pessoas e das famílias. Uma das consequências da COVID-19 e do isolamento parece ser o agravamento dos problemas de saúde mental. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), um bilhão de pessoas sofrem com transtornos mentais. No Brasil, segundo a entidade, antes da pandemia, 18,6 milhões de indivíduos (9,3% da população) conviviam com os males da ansiedade. Nos Estados Unidos, 25% dos americanos sofrem com o transtorno, e os números devem piorar porque após um ano de distanciamento social estamos cansados e cheios de incerteza sobre o futuro.
Sabemos que precisamos falar sobre saúde mental, mas ainda temos dificuldade de enfrentar a barreira do preconceito, principalmente dentro das empresas. Quando discutimos as principais causas dos transtornos mentais, a maioria está diretamente ligada ao ambiente laboral, seguidas por conflitos familiares e questões comportamentais ou genéticas. Portanto, não faz sentido manter essa questão longe da pauta corporativa.
Somos seres dotados de grande capacidade de adaptação a mudanças, mas sofremos muito com o improvável e o medo. Esses sentimentos podem ter um efeito devastador sobre as pessoas. A ansiedade, por exemplo, distorce a percepção da realidade, tornando as adversidades muito maiores do que realmente são, e isso dificulta a busca por uma solução. A velha crença de que as pessoas precisam separar a vida pessoal da profissional caiu por terra e há muito entende-se que não há como compartimentar a vida dessa forma porque o que acontece em uma delas afeta a outra. Além disso, com o home office, o ambiente de trabalho agora está dentro da casa de cada um.
O meu propósito como líder é ver as pessoas felizes. E isso passa por acolher cada indivíduo em sua totalidade, com suas fortalezas e fraquezas, seus sonhos e receios. Cabe a mim, junto com as demais lideranças, quebrar esse estigma de falar sobre o assunto para encorajar que mais pessoas também o façam. Parece pouco, mas é o passo mais importante porque ainda temos vergonha e receio de sermos julgados como profissionais ruins ao admitir que temos uma dificuldade. Promover esse debate mostra que todos somos vulneráveis e não estamos imunes a esses transtornos.
A partir dessa primeira abertura, tenha em mente que isso será um processo contínuo. Muitas vezes conversar já resolve grande parte do problema ou traz uma nova perspectiva, mas não é possível resolver tudo com uma única conversa. É preciso ouvir e apoiar o tempo todo. Um programa de saúde mental ajuda a entender as demandas internas e a estabelecer ações para a segurança psicológica do seu time. As pessoas precisam se sentir ouvidas e saber que a empresa está genuinamente preocupada com elas. Precisam se sentir seguras para compartilhar suas vulnerabilidades sem medo de algum revés profissional. A reciprocidade é uma poderosa ferramenta para gerar mais confiança e engajamento.
Outro ponto significativo é entender que cada um está vivenciando um desafio diferente. O home office melhorou a qualidade de vida de muitas pessoas, mas nem todos se adaptaram. Temos mães e pais com crianças pequenas em casa, temos pessoas que moram sozinhas e estão sofrendo com o isolamento, temos aqueles que não têm um ambiente tranquilo para desempenhar as suas funções, entre outras muitas situações. É preciso acolher e ter empatia para reconhecer que embora as circunstâncias sejam distintas, todas têm as suas dificuldades.
Eu não sou um profissional de saúde nem pretendo equiparar-me a tal, mas sinto que cada vez mais é preciso fazer tudo o que está ao alcance para garantir o apoio e ajuda para todos aqueles que trabalham na empresa e que possam sentir algum tipo de ansiedade ou medo que os impeça de ser feliz.
Temos a responsabilidade de desempenhar um papel importante na sociedade ao tratar a saúde mental como princípio da sua cultura interna. Há muitas pessoas que sentem dificuldade em sair de casas por problemas de ansiedade e muitos não se sentem à vontade para falar sobre seus medos. Acredito que criar condições para que todos possam não só falar sobre os seus problemas, mas também que se sentir acolhidos, seguros e apoiados.
Este é um tema que abracei e lidero pessoalmente no dia a dia da gestão.
Por Jorge Santos Carneiro, presidente da ao³