Estudos mostram que profissionais que não conseguem se concentrar no trabalho, devido à má condição de saúde, chegam a ter sua produtividade reduzida em quase oito vezes. O que se vê em muitos desses casos é o presenteísmo, a condição de estar presente no local de trabalho, mas com rendimento reduzido. Naturalmente, funcionários mais produtivos geram mais resultados para a organização.
Entretanto, a pandemia provocou um cenário inédito, impondo a muitas empresas o home office. Porém essa modalidade tem impactado negativamente na saúde de muitos profissionais, além de levar uma parcela deles à exaustão. Segundo levantamento da MedRio, 12% das pessoas que realizaram check-up no primeiro semestre apresentaram sinais de Burnout. Normalmente, a médica fica em 5%. Outros dados reforçam o cenário preocupante. 35% da população examinada estava com esteatose hepática, normalmente gira em torno de 20. A taxa de diabetes passou de 7% para 10% e a de hipertensão foi de 18% para 31%. Também chamou a atenção o elevado percentual de pessoas com mal colesterol (70%), 20 pontos percentuais acima do que foi registrado em 2019.
Esses números indicam que tem sido dado menos atenção do que de costume com a própria saúde. A consequência do descompromisso é a incidência de doenças que poderiam ser prevenidas. Melhorar nossa saúde depende da gestão adequada de quatro instâncias: a pessoal, a profissional, a física e a emocional. Mais de 70% das doenças têm relação com o estilo de vida, e a genética entra com apenas 17% nessa conta. A identificação das situações estressantes, aliada ao entendimento das emoções e dos comportamentos mal adaptados que elas produzem, é tão importante quanto identificar os hábitos prejudiciais à saúde. É preciso que o indivíduo tome as rédeas do seu próprio cuidado.
Porém, não é fácil promover mudanças sem apoio. A maior parte das pessoas costuma alegar falta de tempo para realizar os exames preventivos. Por isso, é preciso que a saúde seja um item primordial dentro da estratégia das organizações. Várias vezes já recebi gestores que confessaram que o check-up permitiu adotar medidas corretivas, evitando males futuros que poderiam afetar diretamente a performance profissional. Especificamente no caso dos executivos, profissionais responsáveis pelas decisões que determinam o norte da empresa, a pressão do cargo por si só já envolve um estresse onipresente e que se apresenta como grande ameaça, o que abre as portas para vários males.
Entretanto, a mudança de rotina provocada pela pandemia traz novos desafios e reforça a necessidade de se investir em prevenção. Estabelecer uma rotina de exames preventivos significa, para a empresa, identificar os fatores de risco para a saúde de quem responde pela gestão da organização. No atual momento do mercado de trabalho, em que há dificuldades para encontrar executivos qualificados para gerir as organizações em tempos de crise, ver um gestor se afastar por uma doença que poderia ser prevenida, pode afetar a sustentabilidade da instituição.
Quanto mais informações disponíveis sobre a saúde dos colaboradores, maior será a possibilidade de desenvolver um Programa de Qualidade de Vida (PQV) direcionado para a formação de hábitos que realmente terão impacto positivo no dia a dia de cada um deles. No caso de uma empresa em que são constatados altos níveis de sedentarismo entre os funcionários, é possível formular orientações de exercícios que podem ser feitos mesmo dentro de casa. Se a hipertensão e o colesterol são fatores de destaque nos check-ups, então o RH pode desenvolver campanhas sobre orientação alimentar. São inúmeras as possibilidades.
O capital humano é o bem mais importante de qualquer empresa, por isso é imprescindível, ainda mais com o momento em que o país se encontra, que as organizações dediquem atenção ao bem-estar dos funcionários. Colaboradores saudáveis aumentam o engajamento e a motivação, o que repercute diretamente no resultado do negócio.
Por Gilberto Ururahy, diretor médico da MedRio Check-up