Reflexões de fim de ano: Entre memórias e novas perspectivas, a espiritualidade no ambiente corporativo ganha força.
Por Graziele Piva, Colunista Mundo RH e Fundadora da Youniq RH
O ciclo de mais um ano está chegando ao fim. Muitas reflexões. O que deu certo? O que faltou para chegar lá? O que aprendi? E o desaprendi e ressignifiquei? O que observei nesse caminho de 365 dias de caminhada? E o que quero para um ano novo que chega?
São muitas memórias, aprendizados e novos planejamentos. É preciso ter fé e determinação, o mundo anda um tanto agitado e imprevisível. Uma questão que sempre nos visita mais fortemente nessa época é a espiritualidade. Para muitos, essa palavra evoca imagens de práticas religiosas, templos ou rituais pessoais. No entanto, dentro do contexto corporativo, a espiritualidade adquire um significado mais amplo, relacionado à busca por propósito, valores éticos e uma conexão mais profunda entre as pessoas e o trabalho que realizam.
Apesar de sua relevância crescente em um mundo cada vez mais marcado por incertezas e transformações, a espiritualidade ainda é um tema pouco discutido e, muitas vezes, tratado como tabu nas organizações (é claro, fora delas também). Historicamente, essa dificuldade de abordagem pode ser explicada pela visão mecanicista que marcou o desenvolvimento das empresas ao longo dos séculos. Influenciadas por pensadores como René Descartes, que defendia a separação entre corpo e mente, as organizações adotaram um modelo no qual as emoções, os valores e as dimensões mais subjetivas da experiência humana eram vistas como irrelevantes ou mesmo prejudiciais ao desempenho.
Essa postura foi reforçada pela preocupação de evitar conflitos associados à religião, confundindo espiritualidade com dogmas religiosos, o que levou muitas empresas a adotarem uma abordagem neutra ou completamente avessa ao tema.
Contudo, a espiritualidade vai muito além de crenças específicas. Trata-se de reconhecer a necessidade humana de encontrar sentido no que faz, de se conectar a algo maior e de se sentir parte de um propósito coletivo. Viktor Frankl, em sua obra Em Busca de Sentido, destacou que o ser humano é movido pela busca de significado, e isso também se aplica ao ambiente de trabalho.
Quando as empresas ignoram essa dimensão, perdem uma fonte poderosa de engajamento e motivação, essencial para a saúde emocional e a produtividade dos colaboradores. A filosofia de Martin Buber sobre o “Eu e Tu” reforça essa perspectiva ao evidenciar a importância das relações autênticas. No mundo corporativo, adotar esse princípio significa enxergar os colaboradores não apenas como recursos produtivos, mas como pessoas que trazem consigo histórias, valores e potencialidades. Já Zygmunt Bauman, com sua ideia de modernidade líquida, nos alerta para o impacto de uma sociedade desconectada e superficial, onde tudo é transitório. As organizações que investem em espiritualidade contrariam essa tendência ao promover conexões mais profundas e significativas.
A ausência de espiritualidade nas empresas tem um custo elevado. Estudos mostram que colaboradores que não conseguem identificar sentido em suas atividades são mais propensos ao esgotamento, à desmotivação e à baixa performance. Esse cenário é abordado por Frederic Laloux em Organizações Evolutivas, onde ele demonstra que empresas que incorporam uma abordagem mais humanizada conseguem criar ambientes de trabalho mais inovadores, resilientes e satisfatórios.
Superar o tabu da espiritualidade exige coragem e visão estratégica. Não se trata de implementar programas complexos, mas de adotar práticas que promovam o bem-estar e a conexão. Líderes conscientes, por exemplo, têm papel fundamental nesse processo, pois são capazes de inspirar equipes e valorizar a empatia.
Práticas como mindfulness e a criação de espaços de diálogo permitem que os colaboradores reflitam sobre seus valores e propósitos, promovendo uma relação mais autêntica com o trabalho. Casos de sucesso já mostram que é possível abordar a espiritualidade sem conflitos religiosos. Empresas como Patagonia e Ben & Jerry’s demonstram que alinhar operações com valores mais elevados gera não apenas impacto social positivo, mas também engajamento profundo dos colaboradores e melhores resultados financeiros.
Espiritualidade nas organizações não é sobre religião; é sobre humanidade. É sobre reconhecer que os indivíduos são mais do que engrenagens em uma máquina corporativa. São seres humanos com sonhos, emoções e o desejo de contribuir para algo maior. Ao abrir espaço para essa dimensão, as empresas não apenas transformam seus ambientes internos, mas também ajudam a construir um mundo corporativo mais ético, conectado e consciente. Afinal, como seria o trabalho se cada indivíduo se conectasse com o propósito mais profundo daquilo que faz?
Então, desejo a você um 2025 especial, com um busca profunda com seus significados e com uma conexão genuína com aquilo que te faz bem!