Como líderes podem transformar propósito e responsabilidade socioambiental em estratégias de crescimento.
João Roncati – diretor da People + Strategy, consultoria de estratégia, planejamento e desenvolvimento humano.
As transformações dos últimos anos têm sido profundas, e cada vez mais percebemos como as fronteiras entre lucro, propósito e impacto social estão se tornando tênues. A sustentabilidade deixou de ser um diferencial competitivo para se tornar um imperativo estratégico, e o propósito já não é apenas um acessório retórico, mas o núcleo de uma liderança eficaz. Modelos de negócios que não integram esses pilares correm o risco de se tornarem irrelevantes em um cenário onde consumidores, investidores e colaboradores demandam autenticidade e responsabilidade.
Empresas já demonstram que é possível alinhar crescimento financeiro com impacto social, desafiando a lógica tradicional de que lucro e sustentabilidade são objetivos conflitantes. Pelo contrário, práticas responsáveis podem gerar valor a longo prazo, tanto para acionistas quanto para a sociedade.
Por exemplo, a Natura, com seu modelo de negócios baseado na preservação da biodiversidade amazônica, prova que é possível inovar e prosperar sem esgotar recursos naturais. E a empresa não apenas entrega resultados financeiros robustos, mas também cria um legado que inspira confiança e lealdade entre seus stakeholders.
No entanto, para que essa abordagem se torne a norma, é necessário que os líderes repensem paradigmas. O que nos leva a um ponto crucial: como transformar o propósito em algo tangível?
Essa mudança exige coragem, visão e, acima de tudo, coerência. Líderes precisam ir além dos discursos e implementar práticas que reflitam seus valores. Um exemplo concreto é a adoção de métricas ESG como parte dos indicadores de desempenho. Empresas que incorporam essas métricas em suas decisões demonstram um compromisso real em gerar valor além do lucro imediato.
Além disso, a cultura organizacional deve estar alinhada ao propósito. Isso inclui promover diversidade, equidade e inclusão, investir no bem-estar dos colaboradores e estabelecer metas claras de impacto ambiental. Líderes que praticam o que pregam não apenas conquistam a confiança do público, mas também atraem talentos alinhados com seus valores.
Nesse contexto, a liderança transformacional é essencial. Líderes precisam ser visionários, empáticos e capazes de inspirar suas equipes a perseguirem objetivos que vão além do lucro, conectando o trabalho a um impacto maior.
As novas gerações desempenham um papel fundamental nesse movimento. Millennials e Gen Z priorizam valores autênticos e exigem transparência das empresas. Esses consumidores e profissionais não hesitam em boicotar marcas que falham em agir de forma ética.
Mas eles vão além do consumo consciente: são agentes de mudança dentro das organizações. Jovens líderes pressionam por práticas mais sustentáveis e inclusivas, questionando decisões que priorizam lucros de curto prazo em detrimento de impactos a longo prazo.
Ignorar essas demandas pode significar perder relevância em um mercado cada vez mais orientado por valores. Por outro lado, as empresas que abraçarem essa mudança encontrarão novas oportunidades para inovar, fidelizar e crescer.
Propósito e sustentabilidade não são apenas tendências, mas os novos pilares da liderança no século XXI. Liderar com propósito é um ato de coragem e responsabilidade, que exige olhar além dos números e construir um legado que beneficie não apenas os acionistas, mas também a sociedade e o planeta.
Afinal, o verdadeiro sucesso é aquele que deixa o mundo melhor do que encontrou e viável para as próximas gerações. Em um mundo volátil, onde a ética da conveniência ressurge em nome do lucro a qualquer custo, estamos flertando com a redução da expectativa de vida na Terra.