O custo de uma decisão errada é muito difícil de ser calculado, principalmente em tempos de crise, quando todos os olhos estão voltados para os comportamentos das empresas. As empresas exercem uma função social na sociedade e, principalmente, na economia de um país.
Sendo assim, o impacto das decisões tomadas pelo Comitê de Crise inevitavelmente será transferido para a percepção que os colaboradores, acionistas, clientes e público em geral possui sobre a empresa. Deixar de considerar esta percepção antes de uma tomada de decisão significa jogar contra o próprio negócio. E pode sair caro demais para a sustentabilidade futura da empresa.
Quando pensamos no papel de Recursos Humanos nos Comitês de Crise de uma empresa, a primeira coisa que deve ser levada em consideração, independentemente se a empresa for nacional ou internacional, familiar ou profissionalizada, é que a liderança se trata muito mais do que um título, privilegio ou dinheiro, mas de responsabilidade. A responsabilidade do departamento de Recursos Humanos, consequentemente, será ajudar a liderança na tomada de decisões para que elas sejam mais humanizadas.
O presidente, ou CEO, normalmente assume a cara do Comitê de Crise, centraliza todas as informações, tanto para o público interno e externo. E o suporte de Recursos Humanos será essencial para lembrar o executivo que o papel da empresa não é apenas gerar lucro, mas ter continuidade ao longo do tempo, contando com os colaboradores chaves para lutar durante o período de crise e ressurgir mais forte após a crise.
A pandemia é terrível, mas é temporária por natureza. Por consequência as perguntas mais importantes que Recursos Humanos tem que fazer ao presidente do Comitê de Crise são: (i) qual o caminho a ser percorrido? e (ii) como será percorrido este caminho?
As crises têm quatro etapas: a primeira é do pânico, quando as pessoas estão perdidas. Depois vem o realismo, a solidariedade – da compreensão – e, por fim, a negociação. Portanto, cabe a Recursos Humanos ajudar o Comitê de Crise a enfrentar as mencionadas etapas com foco na liderança humanizada. Atuar para demonstrar que cada colaborador conta e que talentos podem ser perdidos se a empresa não souber tratar os mesmos com respeito e dignidade. Serve como um contraponto entre os números frios e como a empresa quer ser lembrada pelos colaboradores e sociedade quando a crise passar.
Essencialmente o foco de Recursos Humanos neste momento de crise deve ser as pessoas, englobando atitudes de prevenção física e mental, e não apenas os números. Este é um paradigma que tende a mudar com toda esta questão da pandemia. Empresas que estão apoiando a sociedade através de doação de dinheiro, equipamentos médicos e equipamentos de proteção ou, então, aderiram a campanhas como “Não Demita” serão lembradas como empresas éticas, onde os bons profissionais vão querer trabalhar e os clientes irão querer consumir. Em contrapartida, empresas que simplesmente tratam funcionários como números, visando atingir as metas a qualquer custo, serão vistas como empresas sem visão humana de futuro e, com certeza, sofrerão todo o tipo de boicote, não somente nas suas vendas, como também nas mídias sociais.
A pandemia inegavelmente prejudicará os resultados da maioria das empresas e muitas estão pensando em maneiras de começar a economizar dinheiro. A tendência natural pode ser começar a demitir pessoas. Nesta etapa, a área de Recursos Humanos tem o papel de ajudar a convencer a liderança que existem outras soluções negociáveis. Conversar sobre saídas como redução temporária de salário, começando pelos salários da alta direção, redução da jornada de trabalho e férias coletivas são alternativas mais do que viáveis do que simplesmente começar a demitir os colaboradores aleatoriamente.
Outro ponto importante de atuação de Recursos Humanos será em relação a fazer com que a liderança do Comitê de Crise entenda a importância dos impactos da pandemia na saúde mental dos colaboradores. Muitas empresas que não estavam acostumadas com a cultura do home office começaram a exigir, mesmo que de forma não intencional, que eles estejam conectados mais horas do que exige um expediente “normal” e que sejam mais focados e produtivos. Querem uma postura de quase um super homem ou uma super mulher. Consequentemente, o diálogo aberto com os colaboradores será essencial e caberá a Recursos Humanos prover suporte para construir uma ponte transparente e honesta com a liderança sobre as necessidades dos colaboradores.
Entretanto, se esquecem que por trás de um colaborador existe um ser humano que não apenas está com medo de perder seu emprego, mas também sua saúde e até sua vida ou de algum familiar. Campanhas transparentes sobre a importância de equilibrar o trabalho e a vida em família, assim como o trabalho de conscientização dos gestores de que os colaboradores podem vir a não ter uma performance formidável neste momento, fazem do departamento de Recursos Humanos um instrumento valioso na formação de uma cultura de respeito ao ser humano. Afinal, todos somos seres humanos, inclusive o próprio presidente do Comitê de Crise.
Patrícia Punder é gerente sênior de compliance ICTS Protiviti