A saúde mental pode refletir em muitas coisas, e uma delas é a felicidade
Colunista Mundo RH – Heloisa Ramos é Chief Human Resources Officer da Certsys
Setembro é uma época focada na reflexão a respeito de saúde mental, graças à campanha do Setembro Amarelo. Cada profissional, organização, grupo social e indivíduo acabam sendo convidados a pensar sobre o tema dentro de seus contextos pessoais, algo que pode ter sua inspiração na campanha, mas precisa permear ações durante o ano todo. Para mim, como profissional de recursos humanos, com formação em psicologia, tendo um papel de líder dentro de minha organização e, sobretudo, dentro desse espaço específico de diálogo, acredito que seja de extrema relevância falar da saúde mental inserida em um contexto de ambiente de trabalho.
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A saúde mental pode refletir em muitas coisas, e uma delas é a felicidade. Mas afinal, o que isso tem a ver com o ambiente de trabalho? Hoje em dia, é um conhecimento comum aos profissionais de recursos humanos que a felicidade do colaborador se reflete em seu desempenho. Por isso muitas empresas trazem ações que incentivam um ambiente de trabalho descontraído e alegre. O que muitos não sabem é que a felicidade também ajuda a manter a segurança e integridade dos colaboradores. Um estudo feito pela Gallup apontou que as empresas que possuem funcionários felizes têm 50% menos acidentes laborais. Isso indica que a felicidade impacta a saúde, sobretudo a saúde mental, possibilitando, por exemplo, maior atenção na realização de tarefas.
Dito isso, é preciso se atentar para alguns dados alarmantes. De acordo com uma pesquisa publicada no periódico científico PLoS One, o Brasil é o país mais ansioso do mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também já apontou que o Brasil é o quinto país com maior taxa de depressão do mundo. Além disso, somos o segundo país com mais casos de burnout (de acordo com a International Stress Management Association). O Brasil está longe de estar bem, e isso só reforça como precisamos mudar o cenário de nosso ecossistema profissional imediatamente, a fim de colaborar para a construção de vidas melhores.
Claro que a felicidade é muito mais complexa e ligada a muitos outros fatores além do trabalho, mas isso não quer dizer que não precisemos olhar para ela por esse prisma também. Em uma primeira instância, as pessoas podem achar que o trabalho não precisa, necessariamente, prover esse tipo de sentimento, ou ao menos não ser responsável por ele, já que existem diversas esferas sociais em quem uma pessoa está inserida e pode buscar ser feliz e estar bem com sua saúde mental.
É verdade que não se deve mesmo apostar sua felicidade em uma única fonte de interação social. Uma pessoa é mais do que apenas uma coisa (como sua profissão), e há aspectos dessa saúde que são responsabilidade de um bom funcionamento do organismo da pessoa (como no caso de doenças psiquiátricas) e há o aspecto do próprio protagonismo e autonomia, já que certas coisas dependem se estar em paz consigo mesmo, isso só para citar alguns aspectos.
Porém, o ambiente profissional também precisa colaborar com isso. Antigamente colocávamos muito mais de nossas expectativas em outros ambientes, como nos centros religiosos, na nossa comunidade imediata (vizinhos e amigos), na família etc. Porém todos esses elementos são complementares na vida das pessoas. O ambiente de trabalho é um desses lados, e um local em que se tem muitas interações sociais, se passa uma boa parcela de seu tempo e que lhe permite conquistar muitos objetivos de vida. Sendo assim, o trabalho é um local que tem grande importância e impacto na saúde mental e deve colaborar para que cada indivíduo seja saudável.
Dentro das organizações, ser feliz está muito ligado a níveis de expectativa. As gerações mais novas, por exemplo, possuem uma noção de que precisam crescer muito rápido dentro das organizações ou serão consideradas fracassadas, e quando um estágio não se torna uma vaga fixa em seis meses, ou uma promoção não vem em menos de um ano, a frustração se torna pesada na mente dessas pessoas. Isso para falar de apenas uma insegurança comum. Porém isso não precisa ser assim.
Há um problema com essas expectativas, que precisam ser mais bem alinhadas com cada pessoa, e isso pode ser uma contribuição das áreas de recursos humanos. Planos de carreira e objetivos claros podem ajudar um profissional a se autoavaliar e a entender sua avaliação pelos olhos de seu gestor, a fim de estar ciente de seu crescimento, estagnação ou dificuldades, para então buscar como melhorar e atingir seus objetivos. Manter um diálogo aberto com os colaboradores pode ser essencial para construir profissionais melhores.
Outro aspecto importante é da promoção de ações de interação social dentro das empresas. É importante ter espaço para descontrair. Além disso, é importante informar os colaboradores que eles também possuem um espaço para buscar ajuda em casos de problemas. Muitas organizações, hoje, já possuem ações específicas focadas em direcionamento de tratamentos psicológicos de seus colaboradores, muitas vezes aliadas a planos de saúde, sendo algo que vai além de campanhas focadas em datas específicas e sendo vigente durante toda a jornada do colaborador.
O ambiente de trabalho também precisa ser mentalmente saudável, e aqui, os profissionais de RH entram como fiscais da gerência. Os gestores precisam proporcionar um ambiente sadio, de incentivo, de respeito e colaboração. Quando eles faltam com isso, cabe ao RH estar ali para defender o colaborador de situações de abuso, por exemplo.
Por fim, é preciso conscientizar o colaborador de que ele é mais do que seu trabalho. Por mais que se busque um ambiente produtivo e se crie um local de trabalho saudável, parte da saúde mental do colaborador será conquistada em outras interações sociais e por meio do protagonismo dele em sua própria vida. Aqui, o profissional de RH, que vem da área da saúde primariamente, tem o papel de ajudar cada um se empoderar, a se lembrar de que é mais do que um número, de que é mais e pode ser cada vez mais!