39% dos profissionais buscariam um novo emprego, caso a empresa onde trabalhassem decidisse pela volta do presencial.
Priscila Oliveira – psicóloga, com MBA em Gestão de Pessoas e atua como Head de Cultura e Pessoas especialista em contratações tech na Kstack.
Profissionais de tecnologia têm se sentido balançados quando o assunto é o aproveitamento das boas vagas oferecidas pelo mercado de trabalho, isso porque muitos passaram a cogitar a desistência do trabalho presencial nas grandes empresas, que geralmente oferecem bons salários, boa estrutura e ótimos benefícios, para alocarem-se em empresas menores, sem as condições oferecidas pelas primeiras, mas acompanhados do que hoje pode ser considerado necessidade básica para o profissional tech, que é a possibilidade de prestar seus serviços de dentro de casa. O motivo é simples e a bola da vez do setor: melhorar a qualidade de vida. Essas pessoas afirmam que, de casa, elas podem trabalhar com mais tranquilidade, sem precisar enfrentar problemas com o trânsito, por exemplo, ou com o estresse e a correria, pensando em participar da rotina da família de maneira mais presente.
Uma pesquisa da Robert Half constatou que 39% dos profissionais buscariam um novo emprego, caso a empresa onde trabalhassem decidisse pela volta do presencial. Um outro motivo para o qual os profissionais também dão importância é a flexibilidade de horário, um complemento à qualidade de vida que tanto procuram. Ainda segundo a pesquisa, 42% dos recrutadores entrevistados têm consciência da desistência do presencial por parte desses profissionais, mesmo nas grandes empresas, responsáveis por oferecer excelentes salários, e sabem que esses profissionais certamente buscariam por uma segunda oportunidade em uma empresa menor, caso tivessem chance. Em outras palavras, pediriam demissão se o modelo de trabalho mantido fosse apenas o presencial.
A pesquisa aponta que 22% dos recrutadores entrevistados sabem que a evasão do trabalho 100% presencial já é uma realidade e que ela crescerá com o passar dos anos; 20% dos desempregados entrevistados afirmaram que não aceitariam trabalhar em uma empresa onde não pudessem aproveitar a flexibilidade de horário; um ambiente profissional onde tivessem como oportunidade primária ao menos o trabalho híbrido, com mais dias da semana trabalhados dentro de casa, também foi uma condição estipulada pelos entrevistados. O fato é que, hoje, as pessoas estão cada vez mais conscientes da qualidade de vida como um ativo a ser mantido e não querem mais participar de um modelo de trabalho que não a priorize.
Muitos profissionais viram sua vida mudar da água para o vinho graças às inúmeras mudanças que enfrentaram nos últimos anos, após a pandemia. Alguns deles mudaram de cidade, optaram pela vida no interior, buscando por mais liberdade e segurança, mais tempo ao lado dos filhos e a chance de participar ativamente do dia a dia da família. São pessoas que não veem o home office como apenas mais um benefício, mas sim, como uma importante decisão a ser tomada pela empresa, caso queira manter seus colaboradores e a qualidade de sua produção.
Atualmente, o home office é o regime de trabalho mais procurado pelos profissionais tech
De acordo com a pesquisa da PwC Brasil, 78% das mulheres afirmam conseguir entregar todas ou quase todas as suas tarefas de dentro de casa, enquanto a mesma afirmação é reiterada por 59% dos homens. Dessa porcentagem, mesmo ganhando menos, os profissionais tech entrevistados escolheram manter a flexibilidade oferecida pelo home office, uma preferência profissional peculiar delimitada, já que muitos afirmam que o aumento e a qualidade de sua produtividade estão intimamente atrelados ao simples fato de poder trabalhar de dentro casa, e não aos altos salários, o que faz com que essa modalidade seja o regime de trabalho mais procurado atualmente por quem trabalha para esse setor.
A pesquisa da PwC Brasil ainda apontou que 30% dos profissionais avaliam o escritório futuro como um ambiente com menos formalidade e regras mais brandas. Apesar de afirmarem que o modelo híbrido vem como sugestão secundária, para maximizar a produtividade entre os colegas de escritório e oportunizar reuniões com mais interatividade, a maioria ainda prefere o home office.
Empresas que decidiram adotar o home office apontam aumento na satisfação de seus colaboradores e o engajamento da ideia quanto às melhorias alcançadas na rotina de trabalho
O ponto alto de decisão entre as empresas que adotaram o home office está no aumento da satisfação de seus colaboradores e no engajamento da ideia de poder melhorar sua rotina de trabalho. Uma pesquisa da Insights demonstrou que 85% das empresas entrevistadas apontaram ambas as condições citadas para contracenarem ativamente com a qualidade de vida de seus colaboradores, já que o tempo trabalhado de dentro de casa pode ser organizado com mais dinamismo, bem como dedicado não apenas à família ou à vida pessoal do colaborador em si, mas também à capacitação profissional.
Além disso, o home office pode proporcionar ao trabalhador maior equilíbrio entre vida pessoal e carreira, menor desgaste físico e mental durante a semana de trabalho, mais atenção à alimentação e à saúde. As empresas têm percebido que um colaborador satisfeito aumenta suas capacidades profissionais de maneira assertiva, pois sofre menos com as distrações e gera seu tempo com muito mais facilidade; o resultado disso é a motivação ao trabalhar. São empresas que entenderam que vivências contrárias levariam o profissional ao desligamento, e, consequentemente, ocasionaria gastos com demissões, com a admissão de novos colaboradores e com os demais treinamentos para alocá-los. Já o profissional mantido pelo home office produziria mais, auxiliando a empresa a gerar receitas consideráveis.
Um estudo realizado pelo IBGE demonstrou que até o final de 2022, 34,8% dos profissionais realizaram seu trabalho de dentro de casa e que, desde então, o número de dias trabalhados no home office vivenciou estabilidade, lançando essa modalidade a um novo patamar. São fatos que certamente moldarão o futuro do trabalho e implicarão na vida profissional tanto de quem presta serviço, como de quem o contrata. O resultado disso será a adequação do mercado a um possível e novo modelo de economia: a conquistada através das janelas de casa.