Como uma entusiasta de esportes e do desenvolvimento de pessoas, estava refletindo sobre a campanha impecável do time de vôlei masculino na última Copa do Mundo da modalidade, que aconteceu em Hiroshima, no Japão, na primeira quinzena de outubro. O time liderado pelo treinador Renan Dal Zotto venceu todas as partidas e não só foi campeão invicto, garantindo ao Brasil o tricampeonato, mas foi campeão por antecipação.
Que situação maravilhosa, não? O sonho de muitas empresas também é liderar com folga em seu segmento e vencer com tranquilidade. Mas, no ambiente dos negócios, será que isso é factível? Acredito que sim.
Uma das perguntas que me veio à cabeça foi como o mundo organizacional consegue reproduzir um feito parecido ao da seleção? A resposta veio rápido: o investimento na base. A equipe brasileira não teria chegado a esses resultados na competição se os jogadores não tivessem passado por uma sólida formação nos times de base e não tivessem sido tão bem orientados ao longo de suas carreiras para desenvolver todo o potencial individual e usá-lo a favor da equipe em momentos decisivos.
Se repararmos, muitos jogadores do time vitorioso de Renan já jogam juntos há muitos campeonatos e passaram também pela liderança do genial Bernardinho que, não à toa, é hoje uma das principais referências para as corporações quando o assunto é formação e motivação de equipes.
Assim como no esporte, nas empresas, uma boa formação de base é uma jornada cheia de percalços e desafios. No entanto, é fundamental encará-los. Afinal, hoje, quando falamos dos jovens esportistas ou dos jovens profissionais, estamos falando da geração Z, com valores e desejos distintos das gerações anteriores. Estabilidade e remuneração não são principais fatores de motivação. A questão que se impõe às empresas é: como envolver e engajar esses jovens para a formação de base no ambiente corporativo?
Pela minha experiência, acompanhando o desenvolvimento de jovens nas organizações, posso dizer que a chegada deles ao mercado de trabalho tem provocado um movimento interessantíssimo, fazendo as empresas repensarem as propostas que têm para a sociedade, para seus colaboradores e para o futuro no médio e no longo prazo. Observo que as que têm mais chances de sucesso estão levando a sério o trabalho de estruturação da base e todas elas têm algumas características em comum. Vou abordar cada uma detalhadamente na sequência. Segue o jogo!
Interesse em construção
Recorrendo ao paralelo com o esporte, o vôlei é uma modalidade em que os movimentos são construídos. Há muito preparo físico, repetição exaustiva dos movimentos, lapidação dos fundamentos, além de um consistente trabalho emocional para que os jogadores aprendam a focar na partida, a funcionar sob pressão e ter atitudes resilientes para virar o jogo quando as coisas parecem não ir bem.
O vôlei também é um esporte que funciona com o empenho do coletivo. É difícil que apenas um talento individual ganhe uma partida, quem dirá um campeonato.
Nas empresas, vejo as iniciativas de formação de base como um grande passo para a construção de um projeto vencedor. Qualificar verdadeiramente um jovem profissional para o mercado de trabalho, construir as pontes entre o conhecimento acadêmico e o mundo dos negócios, além de dar condições para que ele desenvolva seus talentos e saiba utilizá-los em equipe para chegar a melhores resultados. Na minha opinião essas são as mais importantes táticas das empresas campeãs.
Sintonia com os interesses do jovem profissional
Já mencionei que o jovem da geração Z não chega ao mercado de trabalho seduzido pela possibilidade de ficar a vida inteira em uma única empresa, mas ele tem outras preocupações, sendo uma das principais o alinhamento entre os propósitos dele e da empresa. Antes de se inscrever em um programa de estágio ou trainee, ele pesquisa sobre a organização. Como a empresa está posicionada? É uma empresa engajada? Envolvida em alguma causa social ou ambiental? O jovem de hoje precisa criar essa identificação com a companhia em que vai trabalhar, pois além de desenvolver uma carreira, ele está atento ao bem-estar e qualidade de vida.
É por isso que muitas empresas que já entendem a importância e estão voltadas para a formação de base investem bastante na área no employer branding para a atração desses novos talentos. A mágica do encantamento entre os jovens e as empresas realmente acontece nessas primeiras abordagens.
Capacidade de adaptação
Quando digo que os jovens estão mais interessados em bem-estar no trabalho do que em garantias, isso significa que eles estão ávidos por viver novas experiências. Empresas que oferecem alguma possibilidade de trabalho no exterior???? e têm uma jornada de trabalho mais flexível, com parte das horas de trabalho podendo ser cumpridas fora do escritório, costumam ganhar pontos com eles.
Trabalho contínuo e de longo prazo
Trago um termo atual para esta discussão: o Lifelong learning. Uma empresa que aposta em formação de base precisa estar disposta a fazer um trabalho cíclico, contínuo, com algumas boas e surpreendentes colheitas no curto e médio prazo, mas mirando um projeto de longo prazo que trará, também, mudanças no modo como os antigos colaboradores trabalham na empresa. Nessa troca, todos vão aprender constantemente a conviver com as diferenças e rever antigos hábitos.
Ao mesmo tempo em que estamos falando de uma geração menos apegada à possibilidade de fazer uma carreira duradoura em uma só empresa, estamos tratando de jovens ávidos por colocar a mão na massa. Eles aprendem e evoluem fazendo. São makers que também trazem consigo a facilidade de lidar com questões tecnológicas. Em um cenário de empresas enxutas, essa vontade e capacidade de executar é excelente. A energia e frescor que eles trazem para o ambiente é contagiante.
Além disso, eles podem contribuir com a inovação, algo que as empresas têm perseguido muito. Estou falando aqui da inovação de pequenas coisas e pequenos processos, daquelas que melhoram as tarefas no dia a dia. Um olhar distante dos vícios corporativos é sempre um grande aporte e pode trazer grandes frutos se pensarmos no longo prazo.
Por Ana Paula Pozuto – sócia diretora da Insight Company