O movimento “The Great Resignation”, denominado no Brasil como “A Grande Resignação” – em que milhares de americanos pediram voluntariamente demissões de seus empregos durante o ano de 2021 -, também gerou impactos no Brasil
Por Fabio Battaglia, CEO da Randstad no Brasil
A pandemia trouxe muitos questionamentos envolvendo as relações dos talentos com o mundo corporativo. Provocou novos pensamentos e revisões de atitudes e processos – muitos que estavam latentes – para além da produtividade e saúde financeira. Fez com que líderes e colaboradores repensassem seu dia a dia, quebrou paradigmas, e agregou lições valiosas – como a importância de se olhar para a saúde mental e oferecer mais flexibilidade, por exemplo. Dentro dessa nova realidade, mostrou que é preciso e possível proporcionar mais qualidade de vida a todos. Movimentos populares como “A Grande Resignação” e “Quiet Quitting” têm despontado como tendência e alertam para que mudanças aconteçam de fato dentro das empresas.
O movimento “The Great Resignation”, denominado no Brasil como “A Grande Resignação” – em que milhares de americanos pediram voluntariamente demissões de seus empregos durante o ano de 2021 -, também gerou impactos no Brasil. Seguindo essa tendência, mesmo em um cenário de alto desemprego, o País registrou recorde de demissões, o que tem se estendido até os dias de hoje, com a dificuldade de recolocação e difícil retomada das empresas. Nos últimos 12 meses, até julho de 2022, foram 6,47 milhões de pedidos de demissão entre os trabalhadores com carteira assinada, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Esses números representam um terço de todos os desligamentos registrados nos últimos 12 meses (19,84 milhões).
Mesmo com toda essa revisão de pensamentos gerada pela pandemia, dois anos depois, muitas empresas voltaram aos velhos hábitos, o que não agradou muito aos que almejam seguir com uma vida mais flexível e equilibrada. Em decorrência deste cenário, nos últimos meses, um novo movimento nascido nos Estados Unidos tomou conta do mercado de trabalho, o “quiet quitting”. A hashtag #quietquitting viralizou por meio de diversos conteúdos no TikTok e no Twitter. Um dos primeiros vídeos foi de um engenheiro de 24 anos chamado Zaid Khan, que explicou o que seria a proposta da expressão: “Você não está desistindo do seu emprego, mas está abandonando a ideia de ir além no trabalho”.
No Brasil, a notícia chegou mais recentemente e foi chamada de “demissão silenciosa” ou “desistência silenciosa”. E apesar da tradução literal, o termo “quiet quitting” não significa essencialmente entregar um pedido de demissão ou desistir de um trabalho, mas funciona como um manifesto com o objetivo de ressignificar as relações entre pessoas e empresas.
O movimento provoca a cultura tradicional que predominou por algumas gerações no qual o valor estava na dedicação excessiva de horas à vida profissional, com ambição de crescimento a qualquer custo. Segundo uma publicação do Washington Post, a tendência está mais presente nos jovens trabalhadores da Geração Z e Millennials, que têm se mostrado a favor de reescrever essas regras.
A tendência está alinhada ao estudo Workmonitor 2022, realizado pela Randstad, que destaca que cerca de 56% da geração Z e 55% dos Millennials deixariam seus empregos caso interferissem em sua vida pessoal. O levantamento também mostra que a maioria dos jovens busca trabalhar em empresas cujos valores estejam em sintonia com seus valores pessoais.
Mas o que tudo isso significa? Os talentos seguem valorizando companhias que se preocupam genuinamente com o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Eles querem se sentir satisfeitos, gerir o próprio tempo, evitar situações de desgaste e ter mais qualidade em suas relações. Segundo a mesma pesquisa Workmonitor, no Brasil, 92% dos trabalhadores anseiam por formatos de trabalho e carreiras mais flexíveis para acomodar outras atividades ao longo do dia. Para 81% destes, a mudança de emprego é um fator considerado e estão determinados a achar uma oportunidade que traga mais equilíbrio.
Esse fenômeno reforça que a mão de obra mais qualificada – principalmente jovens adultos que tiveram experiência em modelos mais flexíveis e em um ambiente que puderam equilibrar demandas profissionais e pessoais – começou a questionar o que queriam para si em termos de desenvolvimento, avaliando outras prioridades como cuidar da saúde física, mental, do autodesenvolvimento e da família.
Aprendemos que a saúde mental impacta diretamente a produtividade e os talentos mais felizes são mais produtivos. Com todas as mudanças que estamos vivenciando, destaco a importância de preparar as lideranças para administrar as metas e objetivos de forma mais empática e sustentável, principalmente com as novas gerações que estão desistindo, não do trabalho, mas sim, de alguns modelos de relações.