Por Maurício Pedro, gerente do atendimento corporativo do Senac São Paulo
Depois de muito sofrer com a pandemia do novo coronavírus, o mercado de trabalho indica retomada no crescimento. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no primeiro semestre de 2021 foram criados 1.536.717 empregos com carteira assinada no Brasil. No mês de junho, por exemplo, foram gerados 309.114 novos postos laborais.
Porém, quando observamos os brasileiros acima de 50 anos, o cenário é menos animador. No levantamento, elaborado pelo economista Bruno Ottoni, pesquisador do IDados e do Ibre/FGV com base na Pnad Contínua, a pedido da BBC News, a taxa de desemprego para essa faixa etária saltou de 2,7% no último trimestre de 2012 para 7,2% no fim de 2020.
Os dados convidam a uma reflexão sobre preconceito contra os mais velhos (ageísmo), com uma possível justificativa de que esses profissionais oneram a folha de pagamento, pois têm uma remuneração mais alta em comparação aos mais jovens. Outro ponto de atenção está na ideia de que eles estão mais propensos a apresentarem problemas de saúde. No entanto, quando essas premissas são levadas adiante, não se consideram fatores importantes como o aumento da longevidade – com o avanço da medicina, a população vive mais e melhor – e a melhora da capacidade produtiva.
Modelos precisam ser repensados: no futuro do trabalho, marcado pela complexidade, alta mutabilidade, convivência entre máquinas, algoritmos e humanos e pelas multiprofissões, muitas outras necessidades serão demandadas dos funcionários. Habilidades como o pensamento crítico e analítico, resolução de problemas, autogestão, aprendizagem ativa, criatividade, originalidade e iniciativa, além de design e programação de tecnologia, estão entre as possíveis necessidades, conforme aponta o relatório anual do Fórum Econômico Mundial (WEF), The Future of Jobs, responsável por mapear empregos e habilidades do futuro.
A virada de chave está na capacitação
Para os mais maduros, podemos destacar a necessidade de atualização dos conhecimentos, e um dos primeiros aspectos que devem ser considerados é o desenvolvimento tecnológico. O aspecto comportamental, por sua vez, também merece ser revisto pois o ambiente de trabalho possui várias gerações coexistindo, e é preciso estar aberto para a nova ordem que se impõe. Haverá situações, por exemplo, em que pessoas muito jovens serão responsáveis pela gestão de uma equipe complexa e diversa, e a forma de lidar com essa nova realidade pode fazer toda a diferença.
Além da conscientização por parte das empresas em relação à necessidade de capacitar esses profissionais, há muitas possibilidades e alternativas que ultrapassam o formato clássico da carteira de trabalho. O empreendedorismo, por exemplo, pode e deve ser fomentado, pois a oferta de produtos e serviços sem restrições geográficas e com diferenciais competitivos é um caminho possível. Há muitos cursos e treinamentos que ensinam práticas empreendedoras, e o entendimento de que o aprendizado ao longo da vida (lifelong learning) deve nortear as práticas profissionais possibilita que a interação com as novas gerações e, consequentemente, com olhares e percepções diversos promova a construção de uma rotina alinhada às atuais exigências do mercado.
Não podemos esquecer de ressaltar a importância dos profissionais de Recursos Humanos no centro dessa discussão. A demanda pela diversidade nos ambientes de trabalho, incluindo desde os baby boomers até os integrantes da Geração Z, é uma realidade. Os RHs têm se preocupado em criar um ambiente múltiplo, no qual pessoas maduras devem estar inseridas e serem contempladas com programas de requalificação, mentoria, horário flexível e outras ações que possam atender necessidades específicas.
O olhar atento à geração com mais de 50 anos abre um horizonte de qualidade no trabalho e promove um intercâmbio geracional, aspectos que podem ajudar na mudança cultural e na ruptura de paradigmas sobre a força de trabalho brasileira.