Erica Castelo – CEO da The Soul Factor, empresa de Executive Search, sediada nos EUA com atuação internacional, especializada em encontrar talentos para organizações multinacionais, digitais ou em transformação digital
Foi ao fazer um relatório pós entrevista sobre um candidato, em português, para um grande cliente, que me dei conta desse fato curioso. Por muitas vezes, usei essa palavra para qualificar candidatos, mas nunca havia necessidade de tradução até então.
A importância e valorização dessa qualidade pelos clientes aqui nos EUA é bem grande. Indo além, é essencial para talentos no mundo todo, especialmente nos turbulentos cenários do mundo do trabalho atual.
Mas o que a palavra “resourceful” significa por aqui?
Bem, essa é uma daquelas palavras em inglês cuja tradução não se faz com uma única palavra em português, para que tenhamos o mesmo sentido. E é nesse desdobramento que vamos entender a importância de seu significado para o mundo atual do trabalho.
Uma pessoa resourceful é aquela que possui habilidade para rapidamente encontrar e usar recursos disponíveis para resolver problemas e atingir objetivos. No português, podemos qualificar essa pessoa como “cheia de recursos”, habilidosa, engenhosa, com desenvoltura, mas nenhuma delas, ou melhor, somente a soma de todas elas chega perto do real sentido dessa importante característica comportamental.
Mas por que o mundo do trabalho atual precisa tanto de gente com esse comportamento?
Porque é uma mentalidade perfeita para o contexto em que vivemos.
Soa familiar um ambiente onde os objetivos e problemas de negócio são difíceis de atingir e os caminhos difíceis de se visualizar? Pois bem, turbinado pela pandemia, o contexto competitivo, mutante e de incertezas, cria pressões que são parte do dia a dia das empresas. Fato. O que diferencia as empresas vencedoras diante disso são o fato de poderem contar com pessoas que não ficam estagnadas diante das dificuldades, esperando milagres acontecerem.
Resourceful é ser proativo.
Um bom exemplo desse fato pode ser contextualizado na posição de cientista de dados, tão almejada por candidatos e desesperadamente buscada por diversos dos meus clientes corporativos hoje em dia. Nessa área, existem toneladas de recursos a serem explorados por pessoas que querem seguir essa profissão. Porém, existem candidatos com atitude mais passiva e outros, mais preparados, que foram proativos no sentido de encontrar recursos próprios para chegar lá e se especializar na função (como exemplos, cursos específicos, hackatons, competições, networking). Esses profissionais, além de acumular maior conhecimento, serão aqueles capazes de aprender rapidamente e acionar recursos de maneira independente também para resolver problemas diários nas empresas. Afinal, as empresas não esperam somente contratar candidatos que sejam experts em ciência da computação, matemática ou processos, mas em indivíduos apaixonados e curiosos, capazes de acompanhar a evolução de suas funções constantemente.
Uma pessoa com atitude “cheia de recursos”, não espera circunstâncias externas determinar quando ou como agir. Ao contrário, inspira pensamentos fora da caixa, gera novas ideias e visualiza caminhos possíveis para atingir seus objetivos.
A mentalidade “resourceful” requer pensamento positivo. Existe uma solução (ou mais de uma) para cada problema, mesmo se isso signifique uma mudança de direção – ou a famosa pivotagem”, que tanto se fala hoje em dia.
Como os líderes e RH podem reconhecer essa habilidade nos candidatos?
Mais do que uma “mentalidade declarada”, essa habilidade precisa ser verificada sob a forma de competência: ou seja, de que forma um candidato consegue demonstrar que, ao longo de sua vida e jornada profissional, conseguiu aplicar esse comportamento na prática? Em quais momentos o candidato se mostrou aberto ao novo, autoconfiante em arriscar caminhos, inovador, persistente, positivo, pró ativo, diante de dores do negócio ou dores da vida?
Um último ponto que também não se pode esquecer: o talento resourceful é aquele que sabe pedir ajuda. Reconhece que não pode (e não deve) saber de tudo, mas encontra as pessoas certas para pedir ajuda, mentoria, dentro e fora das organizações. Vai além da descrição teórica, e entende na prática, com colegas ou experts, encurtando tempo e aprendizado. Ele não somente tem o espírito de “lifelong learning” (ou aprendizado ao longo da vida), mas sabe identificar o que, como e quando precisa aprender – e corre atrás desse conhecimento com iniciativas próprias.
E você, tem uma tradução mais exata para a habilidade “resourceful”? Pode ser que não exista uma tradução fiel, mas identificar pessoas com essa competência poder ser uma grande oportunidade de contratar talentos transformadores.