Atualmente há vários grupos sem fins lucrativos que promovem a relação entre mentor (a) e mentorado (a), com propósitos distintos, seja para apoiar o crescimento das mulheres no mercado de trabalho, seja para contribuir com o ingresso de mulheres na área de TI, ou, dentro das organizações, para contribuir com o crescimento de jovens talentos. Algumas redes sociais, como o Linkedin criou mecanismos para que esta prática funcione de forma digital.
A palavra Mentoring surgiu na Grécia antiga – na Odisseia, como um personagem experiente e conselheiro, alguém capaz de transferir conhecimento e experiência de vida, agregando valor ao mentorado. Com o passar do tempo, estes conceitos foram sendo adaptados e o mentoring passa a ser visto como um processo entre pessoas menos experientes (mentores) para pessoas seniors (mentorados), uma inversão de gerações.
Tempos atrás O jornal Washington Post publicou uma matéria com uma pergunta básica para executivos seniores: você é aberto a ser mentorado por alguém mais jovem que você? 70% dos entrevistados disseram que sim e 30% disseram que depende.
Vamos contextualizar. As organizações de um modo geral entendem classicamente a senioridade e prontidão da liderança como uma soma de experiências, competências e resultados que os profissionais trazem ao longo dos anos. Esta somatória pode gerar ou não promoções e oportunidades verticais ou horizontais. A linguagem implícita neste princípio parece ser: a senioridade/experiência da liderança gera resultados. Vale dizer que em algumas organizações prontidão significa a somatória de anos apenas.
Olhando para este cenário, parece ser incomodo e incoerente introduzir um programa onde as pessoas jovens vão ajudar executivos seniores. Há quem diga que não existe a menor necessidade de nomear um programa para existir este processo, pois ele precisa ser natural. Mas será isto mesmo? Será que o reverse mentoring precisa ser de alguma forma estimulado pela empresa que queira adotá-lo?
Agora imagine uma organização que cria experiências, fóruns e espaços para a troca de visão, onde a maturidade/senioridade da gestão é entendida como uma competência que tem o seu valor legítimo e deve ser valorizada assim como a contribuição proveniente de diferentes gerações, raças, idades e gêneros.
O exercício da Liderança não deve se limitar ao alcance de metas e resultados. Deve inspirar uma cultura de inclusão e troca, acolher as contribuições que geram valor agregado ao negócio, construindo assim um legado que vai servir de exemplo para futuras gerações.
A palavra “reverse” traz implicitamente um sentido paradoxal aos métodos tradicionais de gestão, mas traz também o acolhimento do novo e do diferente, ingredientes importantes para o crescimento das pessoas, das organizações e das sociedades, como diria Paulo Freire “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”.
Por Silvana Mello, especialista em Desenvolvimento Humano da Talent Creative Solutions