A alta nas taxas de empregabilidade foi puxada, principalmente, pela mudança no hábito de compra, que passou a ocorrer massivamente de forma online
Por Lilian Giorgi, Managing Director da A&M e Colunista Mundo RH
Uma recente onda de demissões por parte das maiores empresas de tecnologia do mundo – as chamadas big techs – tem chamado a atenção do mercado. Os anúncios começaram em novembro do ano passado e, até agora, beiram 60 mil desligamentos. A crise é gigantesca e pode trazer impactos ainda maiores. Em comum, essas empresas tiveram um grande volume de contratações durante a pandemia e, agora, devido ao novo cenário, se veem obrigadas a dispensar grande parte de seus colaboradores.
A alta nas taxas de empregabilidade foi puxada, principalmente, pela mudança no hábito de compra, que passou a ocorrer massivamente de forma online. Hoje, com a normalização e a retomada da economia, muitos negócios estão voltando ao antigo modelo de funcionamento. Embora num primeiro momento não pareça, isso significa uma redução automática no número de postos de trabalho. Se antes havia uma necessidade no mercado, ao longo dos últimos dois anos ela foi sendo sanada. O vácuo foi preenchido numa velocidade impressionante. E nesta mesma rapidez as vagas estão sendo fechadas.
Para os consumidores o impacto não será tão grande. O maior prejuízo será para as empresas, que podem sofrer atrasos no lançamento de novos produtos e serviços, gerando uma menor rentabilidade ao longo do ano. Vale ressaltar que o risco de demissões em massa não paira apenas sobre as gigantes de tecnologia. Outros setores também podem passar pela mesma situação. Inovação, por exemplo, apresenta sinais de queda desde meados de 2022. Assim como o setor automotivo, que desde o início da pandemia vive altos e baixos.
Para os mais jovens, sobretudo os recém-formados, o período será novamente de incertezas. Neste caso, é preciso ter pés firmes no chão e mapear as melhores oportunidades. Se manter empregado em uma área que enfrenta uma crise como esta não é tarefa fácil, nem mesmo para os mais experientes. É preciso entender que as baixas não estão ligadas ao desempenho ou à produtividade. É coisa de momento. Nessas horas, empreender pode ser uma das alternativas. Aliás, este também foi um movimento crescente no período pandêmico, mas de todo modo, é preciso ter um planejamento muito bem traçado.
A redução de custos, que no ambiente corporativo vem sendo chamada de “eficiência”, também tem a sua parcela de culpa nos desligamentos. Claro que isso diz respeito à prioridade para a saúde financeira das empresas. No entanto, como explicar a um profissional dedicado, que tanto sonhou com a recolocação no mercado de trabalho, de que a alta demanda pelos seus serviços já não existe mais?
Demitir é um papel duro para qualquer gestor, mas faz parte do jogo. O mercado é feito de idas e vindas e, infelizmente, não é agora que isso vai mudar. O ano está apenas começando e muitas outras movimentações devem acontecer. Apesar das principais big techs não serem brasileiras, vale ficar de olho no cenário nacional. O número de startups é alto e o impacto para elas pode ser ainda maior. É provável que haja uma redução nos investimentos, gerando um volume de contratações menor do que o esperado. Porém, não podemos esquecer de que no Brasil, segundo dados da Talenses, empresa de recrutamento, existe uma defasagem de 50 mil profissionais de TI, por ano.
Acredito que os profissionais demitidos terão que rever alguns pontos para o retorno ao mercado. O desenvolvimento de novas habilidades poderá ser determinante na disputa por uma vaga. Devido à rotina com máquinas e sistemas, ganhará pontos quem souber lidar com pessoas, afinal, o trabalho em equipe é estimulado por qualquer empresa. Mais do que coletar, saber interpretar os dados também será um plus neste novo cenário. A capacidade de identificar novas oportunidades em áreas diversas, conhecimentos sobre empreendedorismo, estar aberto a uma nova faixa salarial. Tudo é favorável. Independentemente do novo aprendizado, sem dúvida, ele será valorizado pelas contratantes. Reforço que esta é uma característica do mercado. Em busca do equilíbrio, ele conta sempre com os melhores profissionais, exigindo um mix de qualidades e saberes.