Pesquisa reuniu respostas de C-levels e outros executivos de 15 setores do mercado, com idades entre 19 e 62 anos, do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica e México
A WeWork, empresa global em espaços de trabalho flexíveis, divulga os resultados inéditos da pesquisa “Para além da revolução do híbrido: o paradoxo do trabalho flexível na América Latina”. O levantamento é fruto de uma parceria entre WeWork e Page Outsourcing, consultoria especializada na execução de projetos exclusivos de RPO, programas de talentos (estágio e trainee) e contratação de profissionais em grande volume, parte do PageGroup no Brasil. Foram reunidas respostas de mais de oito mil lideranças e profissionais da América Latina, com presença no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica e México.
O material é a segunda pesquisa lançada pela WeWork neste ano, contribuindo para o posicionamento de marca que monitora constantemente a relação com o trabalho na região. A pesquisa anterior, “Redefinindo modelos de trabalho na América Latina”, foi lançada em março de 2022, em parceria com a HSM e a Egon Zehnder.
A pesquisa recente aponta uma inversão na pirâmide de realidades de modelos de trabalho, além de reafirmar que o modelo de trabalho híbrido não é mais uma dúvida, e sim uma realidade. Antes da pandemia, 82% tinham um modelo de trabalho totalmente presencial e apenas 12% viviam o modelo híbrido; atualmente, os dados aparecem invertidos, apenas 16% seguem o modelo de trabalho totalmente presencial e 66% o híbrido. A flexibilidade é um dos principais motivadores do trabalho na região e confirma o impacto positivo na saúde mental dos adeptos, assim como outras tendências que se consolidam cada vez mais, como o nomadismo digital e a semana de trabalho com quatro dias.
Antes da pandemia, os principais motivadores na escolha de um trabalho eram o salário, metas desafiadoras, plano de carreira e qualidade de vida. Durante o auge pandêmico, tornaram-se estabilidade, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e salário. Atualmente, o mais importante para os trabalhadores são a flexibilidade, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, benefícios e salário.
Claudia Woods, CEO da WeWork para América Latina, destaca o protagonismo conquistado pelo vale-escritório (benefício concedido pelas empresas para funcionários usarem qualquer espaço de trabalho colaborativo), sendo que 73% das pessoas gostariam de tê-lo face a apenas 5% que, de fato, recebem. “Vemos uma discrepância enorme entre o que os trabalhadores querem na cesta de benefícios e o que as empresas estão oferecendo. Esse é um ponto de atenção essencial para retenção de talentos”, comenta a executiva.
O impacto positivo do modelo híbrido se tornou irrefutável, com os respondentes afirmando que, além da economia do tempo ao evitar deslocamentos (30 a 40 minutos é o máximo de tempo que estão dispostos a empregar), conseguem fazer mais exercícios físicos, interagir com a família e descansar: “87% consideram a gestão do próprio tempo como uma das principais vantagens do híbrido”, ressalta Claudia. “Entre os C-levels, 89% chegariam a trocar de emprego por causa da flexibilidade”.
Identificar e considerar o que a população de funcionários deseja é fundamental e pode causar surpresas: a semana de 4 dias de trabalho aumentaria a produtividade para 75% dos entrevistados latino-americanos, uma vez que reduziria o estresse, aumentaria a lealdade à empresa, diminuiria as faltas, melhoraria o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, e aumentaria o sentimento de ser valorizado pela empresa.
Escritórios como espaços de conexão
Para os latino-americanos, o que mais faz falta nos encontros presenciais é a formação de relações amigáveis e estratégicas (54%), a integração entre áreas (51%), a proximidade com os gestores (38%), a separação entre vida pessoal e trabalho (36%) e a segurança da troca de informações estratégicas (33%).
Claudia Woods interpreta esses dados como um chamado para repensar os espaços de trabalho, dos quais se exige muito mais do que mesas e cadeiras: pela pesquisa, espera-se que eles tenham estrutura para reuniões híbridas (79%), ergonomia (63%), espaços para descanso e interação (38%), além de amenities relacionadas à alimentação, como snacks e café (24%). “Antes, os escritórios eram considerados um espaço físico para desempenhar determinadas atividades, hoje são espaços de conexão e desenvolvimento humano para 97% dos profissionais. Eles devem contribuir para colaboração em processos criativos e vinculação entre trabalhadores de diferentes setores”, analisa Claudia.
Não por acaso, de acordo com os entrevistados, os dois fatores fundamentais para o nomadismo digital, tendência que se fortalece cada vez mais com a flexibilidade, são ter espaços de trabalho que permitam desenvolver a vida profissional e pessoal; e o acesso à internet de qualidade. Dentro da amostra, o setor de startups é o que mais se interessa por esta tendência: três em cada cinco entrevistados pertencentes a startups afirmam estar interessados e/ou abertos a contratar pessoas e/ou trabalhar com profissionais que residem em outros países.
Impacto positivo na saúde mental
Felipe Rizzo, CEO da WeWork no Brasil, é entusiasta do modelo híbrido e não se surpreende com o impacto positivo na saúde mental dos adeptos. “Esse formato trouxe benefícios nesse aspecto para 70% dos profissionais. Desse percentual, 28% consideram que esse veio por meio da flexibilidade. Eles perceberam que conseguem equilibrar melhor a vida pessoal e profissional, desenvolver ferramentas de autogestão, aproveitar a economia de tempo ao não ter que se deslocar todos os dias para o trabalho, mas também admitem a importância de ter espaços para convivência profissional que incentivem a conexão de qualidade e permitem as trocas necessárias para o reconhecimento profissional”, explica.
Quando observa-se o recorte geracional, o impacto positivo na saúde mental atravessa as gerações. Mais de 97% da Geração Z acredita que a flexibilidade tem um impacto positivo em seu humor. Além disso, 67% dos millennials que têm um esquema de trabalho flexível acreditam que isso teve um impacto positivo em sua saúde mental. Esse número cresce para 98% quando falamos com a Geração X. Finalmente, mais de 70% da geração Baby Boomer afirma o impacto positivo em sua criatividade e saúde mental graças à flexibilidade do esquema de trabalho híbrido.
Cenário Brasil
No Brasil, 81% dos profissionais consideram o modelo híbrido como ideal, sendo que 78%, de fato, trabalham nesse formato. “Percebemos um desejo cada vez maior por independência: na América Latina, a maioria (64%) quer decidir pelo próprio formato de trabalho, enquanto 22% gostariam que o gestor escolhesse; e 13%, que a empresa o fizesse. No Brasil, especificamente, o número é ainda maior: 67% querem escolher a própria modalidade de trabalho”.
Entre os principais fatores impactados positivamente pelo modelo híbrido estão produtividade (76%) e saúde mental (73%), com números muito próximos aos regionais. Contudo, é possível notar uma grande discrepância grande no quesito da criatividade. “Entre os brasileiros, o impacto positivo na criatividade é de 52%, quase 20% menor que a média regional. Isso sugere que precisamos encontrar soluções para incentivar a interação entre pessoas da equipe e de diferentes áreas”, analisa Rizzo.
Outro dado interessante é que 67% dos brasileiros consideram 30 dias de férias suficientes, sendo que o desejo desses profissionais não é por aumentar os dias de férias, e sim, trabalhar menos dias na semana: 72% consideram que seriam mais produtivos com uma semana de quatro dias de trabalho.
Tanto no Brasil como na América Latina, observa-se que a adoção de novas dinâmicas de trabalho ocorre, em grande medida, como uma estratégia para aumentar a produtividade e flexibilidade, impactando positivamente aspectos como identidade e lealdade por meio do aumento da qualidade de vida e equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Essas dinâmicas foram adotadas, e até transformadas em tendências, devido ao posicionamento do esquema híbrido como o mais popular e comum.
A modalidade permite usufruir de espaços físicos de conexão e interação, cenários 100% profissionais desvinculados da vida pessoal e instalações equipadas com as ferramentas necessárias para o correto desempenho das atividades. Proporciona a possibilidade de trabalhar remotamente (o que não significa necessariamente trabalhar de casa, incluindo aqui os espaços flexíveis), reduzindo os tempos de deslocamento, aumentando as horas passadas com amigos ou familiares, e permitindo um melhor ambiente para o correto desenvolvimento da capacidade e saúde mental.
Embora as mudanças e reajustes provocados pela pandemia ainda sejam visíveis até hoje, há diversas práticas e lições que dificilmente desaparecerão da realidade latino-americana, devido às grandes contribuições que trouxeram para o ambiente de trabalho. Sem dúvida, a adoção de dinâmicas flexíveis em prol da produtividade é uma delas.