O equilíbrio entre automação e o fator humano no futuro do trabalho.
Por Sergio Fiorotti, especialista em recursos humanos e tecnologia, e CTO da Bondy
Por trás do entusiasmo crescente pelo uso da inteligência artificial (IA) no setor de Recursos Humanos (RH), há uma questão que parece pouco discutida: o que levou essa área a se tornar um dos principais polos de investimento em automação e inovação tecnológica? Mais do que uma busca por eficiência operacional, o fenômeno pode ser interpretado como uma resposta direta a um sistema em crise, no qual profissionais enfrentam sobrecarga e esgotamento.
O RH sempre foi um setor paradoxal. Apesar de ser o guardião do bem-estar organizacional, frequentemente opera com recursos escassos, estruturas frágeis e demandas intermináveis. Uma pesquisa recente realizada pela Flash People revelou que 90% dos profissionais da área se sentem sobrecarregados, com 59% relatando níveis elevados de pressão.
Esse dado, por si só, pode justificar, em parte, a adoção frenética de tecnologia. Ainda assim, há muito mais em jogo. Ao analisar o cenário de maneira mais profunda, percebe-se que esses recursos podem ir de zero a cem: de uma cortina de fumaça para o mal-estar profissional até, justamente, a solução capaz de fazê-los prosperar.
É importante notar que o setor não é apenas um campo fértil para a aplicação da tecnologia; ele também reflete as fragilidades corporativas. A pressão por resultados imediatos, somada à falta de suporte interno, cria um cenário no qual a automação se torna vital. Ao permitir que sistemas de IA realizem tarefas repetitivas e desgastantes, libera-se o capital humano para atividades mais estratégicas.
Em meio a essa busca por soluções eficientes, plataformas como o DeepSeek, com sua capacidade de automação e otimização de processos, estão começando a impactar o setor. Embora a tecnologia prometa alívio para a sobrecarga de tarefas repetitivas, sua adoção também traz à tona desafios éticos e estratégicos. O uso indiscriminado de IA pode reduzir a carga de trabalho, mas é necessário garantir que não elimine o aspecto humano e empático das relações de trabalho, algo fundamental para o sucesso do RH.
Portanto, os agentes de IA generativa e os algoritmos que impulsionam o RH moderno são ferramentas projetadas para aliviar alguns problemas. Eles simplificam processos burocráticos, conectam sistemas por meio de canais como o WhatsApp e oferecem respostas instantâneas a perguntas de colaboradores. Enquanto essas soluções brilham em eficiência, elas também levantam questões éticas e estratégicas.
Embora a automação tenha trazido simplificação, também existe o risco de desumanização nas relações de trabalho. A ausência de um toque humano pode transformar o setor de Recursos Humanos em uma entidade distante e mecânica, algo que vai contra a essência da área. Além disso, a recente aprovação do Marco Legal da IA no Brasil traz à tona reflexões sobre os riscos e responsabilidades associados ao uso dessa tecnologia.
Regulamentar a IA é crucial, sendo necessário entender como equilibrar inovação com os direitos fundamentais dos trabalhadores. Questões como privacidade, propriedade intelectual e vieses discriminatórios ainda pairam no ar, enquanto o RH lidera essa corrida. E este não é o caso de uma bolha tecnológica semelhante à dos anos 2000. A IA veio para ficar.
É impossível negar os avanços oferecidos pela ferramenta. Em um cenário ideal, ela deve ser complementar, e não substituta dos profissionais. A IA ajuda a aliviar o fardo, mas também precisa ser acompanhada de mudanças organizacionais que tornem o ambiente de trabalho mais humano e sustentável.
O futuro, então, não depende apenas da tecnologia, mas da forma como ela será integrada ao cotidiano corporativo. Investir em IA é uma decisão estratégica, mas não pode ser um fim em si mesmo. Para que o setor realmente se transforme, é necessário um esforço conjunto para equilibrar inovação com cuidado, eficiência com empatia e automação com humanidade. A verdadeira revolução não virá apenas da inovação, mas da maneira como as empresas escolhem utilizá-la para valorizar o trabalho humano.