Por Cintia Sulzer, VP de Pessoas e Performance na ViBe Saúde
A sociedade tem prestado cada vez mais atenção ao tópico da saúde mental. Se há pouco tempo enxergávamos o assunto como um tabu, hoje, felizmente, há mais abertura para discutir francamente o peso do bem-estar psicológico na construção de uma vida saudável.
Sem surpresa, o tema chegou ao universo corporativo. Há uma infinidade de trabalhos que questionam qual é a responsabilidade das empresas com a saúde mental dos que são impactados, direta ou indiretamente, por suas operações, produtos e serviços.
Gosto de abordar o tema pela noção de “empresa humanizada”, que dá título a um livro de Raj Sisodia, David B. Wolfe e Jag Sheth. Empresa humanizada é aquela que se preocupa em afetar positivamente a vida de seus clientes, funcionários, fornecedores e investidores. Parte desse esforço passa, naturalmente, pelo cuidado com a condição psicológica de quem se relaciona com determinada companhia.
O trabalho costuma ser a atividade que mais consome nosso tempo, o que, por si só, já garantiria sua posição de destaque em qualquer discussão sobre saúde e bem-estar. Mas a pandemia introduziu um problema adicional, pois, com a migração de várias ocupações para o formato de home office, borramos um pouco a fronteira entre vida profissional e vida pessoal, entre emprego e lazer. Nessas condições, é evidente que um ambiente de trabalho abusivo multiplica situações como burnout (fadiga extrema), ansiedade e depressão.
Há uma justa cobrança para que as empresas reconheçam isso e, consequentemente, assumam um papel mais proativo na manutenção do bem-estar de suas comunidades.
Não se trata apenas de empatia. Colaboradores mais saudáveis psicologicamente são mais empoderados e fiéis à companhia na qual se sentem acolhidos e mais criativos, pois têm segurança para arriscar sem temer represálias ou humilhações. Há indícios também de que empresas preocupadas com a condição psicológica de seus colaboradores atravessam melhor momentos de crise. Ou seja, o cuidado com a saúde mental, além de ético, é um bom negócio.
Essa discussão é parte de uma tendência mais ampla, que vem revolucionando o mercado em todo o mundo: a cobrança por responsabilidade social. O consumidor deste século aceita cada vez menos se relacionar com empresas que impactam negativamente as comunidades em seu entorno ou o próprio meio ambiente. Não por acaso, a noção de ESG (“ambiental, social e governança”, na sigla em inglês) é onipresente nas discussões sobre o papel das corporações na sociedade. O tema da saúde mental é uma parte desse oceano crescente de preocupações.
Trata-se de um caminho sem volta, e o futuro, felizmente, pertence às empresas mais humanizadas. Quem hoje busca espaço no mercado precisa assumir seu quinhão de responsabilidade pela promoção da saúde mental e pela construção de um ambiente de trabalho cada vez mais acolhedor.