Os planos de saúde e as novas demandas dos colaboradores: como RH e operadoras podem alinhar estratégias para o futuro do bem-estar corporativo.
Nos últimos anos, a relação entre planos de saúde e o bem-estar dos colaboradores se tornou um tema central nas discussões sobre gestão de pessoas. Diversos estudos e pesquisas recentes, divulgados em 2024 no Brasil e no exterior, apontam para a necessidade urgente de os planos de saúde se adaptarem às novas exigências dos seus clientes, especialmente em ambientes corporativos. Esta transformação envolve a necessidade de personalização, cuidados preventivos, atenção à saúde mental, além de uma parceria mais estreita entre os departamentos de Recursos Humanos (RH) das empresas e as operadoras de saúde.
O contexto global e nacional
A pandemia de COVID-19 foi um divisor de águas para o setor de saúde, acelerando transformações que já estavam em andamento. De acordo com um relatório global divulgado pela International Foundation of Employee Benefit Plans (IFEBP), 78% dos trabalhadores acreditam que os planos de saúde precisam se adequar às suas necessidades atuais, com ênfase em maior flexibilidade e personalização. No Brasil, uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) em parceria com o Instituto Ipsos, revelou que 84% dos profissionais consideram que a saúde mental deveria ser prioridade nos benefícios oferecidos por suas empresas, apontando um descompasso entre as ofertas tradicionais dos planos e as necessidades contemporâneas.
Além disso, um levantamento do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) indica que, no Brasil, 35% dos usuários de planos de saúde têm dificuldade em acessar serviços adequados para suas condições crônicas, como diabetes, hipertensão e problemas de saúde mental, questões que estão cada vez mais presentes entre as preocupações dos colaboradores.
A necessidade de personalização e flexibilidade
Uma das principais tendências apontadas pelos estudos é a necessidade de personalização nos planos de saúde. A maioria dos colaboradores quer mais do que um atendimento genérico; eles buscam soluções adaptadas ao seu estilo de vida, condição física e mental, faixa etária e até mesmo ao seu nível de atividade profissional.
Planos de saúde customizados, que oferecem desde terapias alternativas até suporte especializado para condições crônicas, estão ganhando espaço. O conceito de saúde baseada em valor (value-based care), muito discutido em países como os Estados Unidos e Canadá, tem ganhado destaque, uma vez que visa a entrega de resultados de saúde mensuráveis, com foco na prevenção e no bem-estar contínuo, ao invés de apenas tratamentos curativos.
No Brasil, a tendência começa a despontar, embora ainda haja desafios regulatórios. Segundo o IESS, cerca de 40% dos beneficiários de planos de saúde preferem ter opções mais flexíveis em suas coberturas, incluindo serviços de telemedicina, programas de wellness (bem-estar) e pacotes de saúde mental.
A saúde mental no centro das demandas
Outro tema crucial levantado pelos estudos de 2024 é o aumento da conscientização sobre a saúde mental nas corporações. Um relatório da World Health Organization (OMS) indicou que os transtornos mentais, como ansiedade e depressão, são responsáveis por uma perda de 12 bilhões de dias de trabalho anuais em todo o mundo, causando um impacto direto na produtividade.
No Brasil, a pesquisa da ABRH e Ipsos revelou que 67% das empresas já identificam que a saúde mental de seus colaboradores é um dos principais desafios para os próximos anos. Contudo, a oferta de cobertura para tratamentos psiquiátricos e psicológicos ainda é considerada insuficiente pelos usuários. Além disso, muitos colaboradores relatam que o suporte oferecido pelos planos de saúde é limitado, tanto em termos de consultas disponíveis quanto na qualidade do atendimento.
Essa realidade aponta para uma lacuna que precisa ser preenchida com urgência. Para isso, é fundamental que o RH e os planos de saúde trabalhem em conjunto na criação de políticas mais inclusivas e abrangentes, oferecendo desde o suporte emocional preventivo até tratamentos mais profundos e continuados.
Como o RH pode atuar para alinhar expectativas e ofertas
Diante desse cenário, o papel do RH se torna essencial na mediação entre as demandas dos colaboradores e as ofertas dos planos de saúde. O RH deve atuar como um facilitador, estabelecendo um canal de diálogo contínuo entre os colaboradores e as operadoras de saúde, para garantir que as necessidades da equipe sejam atendidas com qualidade e rapidez.
Aqui estão algumas formas como o RH pode contribuir para essa transformação:
- Pesquisa de Satisfação e Necessidades: Realizar pesquisas internas periódicas para mapear as necessidades reais dos colaboradores em termos de saúde e bem-estar. Isso pode incluir questões sobre a satisfação com os planos atuais, demandas por novos serviços (como terapias alternativas ou programas de fitness) e áreas onde os funcionários se sentem desamparados (como saúde mental ou tratamentos crônicos).
- Parcerias Estratégicas: O RH pode negociar diretamente com os planos de saúde para oferecer coberturas mais amplas, programas de bem-estar corporativo e pacotes que incluam tratamentos preventivos. Empresas que firmam parcerias estratégicas com planos de saúde têm a chance de oferecer pacotes mais competitivos e flexíveis, com base nas reais necessidades de seus colaboradores.
- Educação em Saúde: Programas de educação em saúde, que incluem palestras, workshops e campanhas de conscientização, podem ajudar a manter os colaboradores informados sobre os cuidados com sua saúde física e mental. O RH pode ser responsável por organizar esses eventos em parceria com os planos de saúde.
- Programas de Bem-Estar e Prevenção: Incentivar a implementação de programas de bem-estar e prevenção dentro do pacote oferecido pelos planos de saúde. A integração de serviços de telemedicina, acesso a academias, terapias ocupacionais e suporte psicológico pode ser uma estratégia eficaz para promover o bem-estar integral dos colaboradores.
O futuro dos planos de saúde no contexto corporativo
O cenário dos benefícios corporativos, especialmente no que diz respeito aos planos de saúde, está em plena transformação. Estudos de 2024 sugerem que o futuro passa pela criação de pacotes mais flexíveis, centrados no bem-estar do colaborador como um todo – físico, mental e emocional.
Um exemplo dessa tendência é o aumento do uso de plataformas digitais para monitoramento e prevenção da saúde, como aplicativos de controle de estresse, monitoramento de sono e plataformas de consulta médica online. Essas ferramentas, já populares em países como Alemanha e Japão, estão começando a ser integradas por empresas brasileiras como parte de seus benefícios de saúde.
Além disso, a ideia de que “um tamanho serve para todos” está rapidamente sendo superada. No futuro, veremos cada vez mais a necessidade de planos adaptados para diferentes perfis de colaboradores: jovens que priorizam cuidados preventivos e atividades físicas, adultos que necessitam de suporte para doenças crônicas e idosos que demandam maior assistência médica.
Os dados mais recentes mostram que, para os planos de saúde corporativos continuarem relevantes e eficazes, é essencial que eles evoluam para atender às necessidades reais e atuais dos colaboradores. A personalização dos serviços, a inclusão da saúde mental como prioridade e a parceria estratégica entre RH e operadoras são passos fundamentais para garantir que os benefícios de saúde acompanhem as demandas de uma força de trabalho moderna e diversa.
No Brasil e no mundo, a mensagem é clara: empresas que investem na saúde e bem-estar de seus colaboradores colhem os frutos em termos de produtividade, engajamento e retenção de talentos. Por isso, o RH deve assumir um papel central nessa transformação, agindo como um facilitador entre os colaboradores e os planos de saúde, garantindo que todos tenham acesso a uma assistência de qualidade e alinhada às suas necessidades individuais.