Depois de quase três meses de isolamento social, as mudanças na rotina das empresas e de seus colaboradores apontam que a capacidade de se adaptar aos cenários, presente e futuro, será uma habilidade cada vez mais exigida.
Durante os últimos meses, houve uma série de modificações: as empresas tiveram de instituir – de uma hora pra outra – a modalidade remota de trabalho. Os profissionais também se depararam com essa nova realidade – tentando conciliar a rotina da casa, dos filhos e o trabalho. Candidatos também foram impactados, intensificando a busca por trabalho na internet e realizando processos seletivos virtuais.
Segundo o CEO da Catho, Fernando Morette, o trabalho remoto é uma modalidade que veio para ficar, mas enfatiza que não pode ser aplicado por todas as empresas. “É uma mudança estrutural que favorece a produtividade. Será uma revolução na cultura de trabalho. Nem todas as companhias poderão atuar dessa maneira como comércio, indústria, alguns setores de serviços e saúde, por exemplo. O que se está avaliando é como será este retorno ao trabalho”, explica.
Por outro lado, a modalidade também exigiu um aperfeiçoamento das habilidades, principalmente a comunicação, que ficou mais objetiva, clara e apurada; e a confiança entre os profissionais durante o horário de trabalho, já que não há a presença física para garantir a execução das tarefas.
“O isolamento é um momento atípico. Apesar de os profissionais exercerem seu trabalho em casa, eles não atuam dentro dos moldes do Home Office, que leva em conta treinamento das equipes, líderes e gestores, utilização de ferramentas de medição de vários índices e outros elementos que a atual conjuntura não permite”, completa.
Profissionais, empresas e candidatos – Com relação aos profissionais, o CEO da Catho destaca que as habilidades serão cada vez mais enfatizadas, principalmente os soft skills como resiliência, flexibilidade, liderança e empatia. Com o isolamento essas aptidões tornaram-se fundamentais e continuarão a ser avaliadas, e com mais ênfase, no pós-pandemia.
Isso porque isolamento elevou os níveis de estresse, ansiedade e até depressão das pessoas. Com isso, as lideranças se mobilizaram para identificar e auxiliar os colaboradores, além de desenvolverem uma série de atividades para manter as equipes motivadas e engajadas. Por outro lado, a adaptação repentina dos profissionais fez com que eles procurassem uma série de atividades e até ajuda médica para conseguirem se adequar ao novo momento. “Todos, empresas e pessoas, sairão modificados de alguma forma. E o que fará diferença quando a pandemia passar é exatamente as lições aprendidas e praticadas durante esse período e como aplicá-las na nova realidade. Será mais um grande desafio”.
A busca de emprego durante a pandemia também passou por mudanças. As empresas optaram pelo recrutamento on-line e os candidatos também tiveram que se adaptar a essa nova realidade como, por exemplo, fazer entrevista por aplicativos de vídeo e até por whatsapp. Com isso, a forma de montar o currículo também mudou, já que as necessidades das companhias também mudaram.
Aquele modelo tradicional que o profissional atualizava só quando estava em busca de emprego não se aplica mais ao momento e, provavelmente, continuará sendo adaptado daqui pra frente. Se antes o candidato apenas olhava o nome da vaga e encaminhava o currículo, hoje, é preciso pesquisar a empresa, ver quais são os pré-requisitos que ela exige e ler o descritivo da vaga, já que muitas terminologias estão mudando. E adaptar o currículo ao que a empresa está pedindo, de acordo com sua formação e vivência profissional.
“Investir constantemente nas qualificações, no aperfeiçoamento das habilidades, no networking e identificar caminhos para se adaptar ao que vai surgir, certamente são diferenciais importantes que vão destacar o candidato na busca de seu novo emprego e também no processo seletivo”, finaliza Morette.
Ensino remoto
Em paralelo ao trabalho remoto há também a qualificação profissional a distância que, ao longo de pandemia, tem mostrado ainda mais a sua efetividade. Segundo levantamento realizado pela Catho Educação, foi observado no mês de maio um aumento de 78% nas buscas por cursos EAD, dentre eles 44% são voltados para cursos rápidos.
Os dados reforçam uma grande exigência dos recrutadores: qualificações específicas. Segundo outra pesquisa realizada pela Catho – com mais de 230 recrutadores em 2019 – além da aquisição do diploma, há diversas carências na hora da contratação. Cursos como vendas (26%), análise de dados (26%) e Excel (23%) são as certificações que mais fazem falta nos currículos profissionais.
Para Fernando Gaiofatto, gerente de Catho Educação, no atual cenário há uma demanda reprimida nas buscas por cursos presenciais, onde estudantes, em sua maioria, escolhem esperar o fim de pandemia e priorizam o investimento em cursos de curto prazo, baixo investimento e à distância.
“Se por um lado, a retomada da educação presencial em 2020 ainda não está definida, por outro, o EAD ganhou maior aderência, ainda que com questões a serem ajustadas como, por exemplo, a melhora da estrutura de um bom ensino a distância e a excelência na gestão das plataformas de estudos. De modo geral, esse momento se transformou em uma grande degustação sobre o modelo EAD e trouxe à tona a reformulação das instituições de ensino para essa realidade tão presente mesmo antes da pandemia”, explica o gestor.
Ainda segundo o especialista, a previsão é que a retomada do ensino acontece em janeiro de 2021, ainda assim precisa ser revista. “Mais uma vez a transformação digital prova o seu valor. Afinal, quanto mais ficamos isolamos mais nos acostumamos ao remoto. Esse momento é de grande importância para modernização do ensino, para revistar modelos de negócios, operações e processos”, pontua Gaiofatto.