Giovanna Poladian – Diretora de Pessoas e Cultura da CTG Brasil
A área de Recursos Humanos – o famoso RH – tem potencial para, em qualquer cenário, atuar de forma estratégica, com efeito direto sobre o desempenho de negócios de diversos setores. Afinal, o sucesso de uma empresa depende da atração e retenção de profissionais competentes e aderentes à sua cultura. No entanto, com o surgimento da pandemia de Covid-19, a abertura para que o RH atuasse de forma verdadeiramente estratégica tornou-se um diferencial competitivo ainda maior.
Frente a um cenário de estresse esperado em uma crise de tamanha proporção, a área ganhou ainda mais protagonismo diante de diversos desafios. Como medir o clima organizacional? Como auxiliar os profissionais efetivamente no gerenciamento do trabalho remoto e, quando necessário, presencial? Como alinhar as expectativas e manter o engajamento? Tudo isso passa pelo alinhamento estreito e constante com as altas lideranças e pela disponibilidade para dialogar com os profissionais das companhias.
Posso falar com propriedade sobre o contexto da CTG Brasil, uma das líderes em geração de energia limpa no País, onde atuo desde 2017. Antes da pandemia, já buscávamos atuar de modo estratégico em diversas iniciativas, porém esse papel foi intensificado no último ano. A área foi reformulada, passando a ser chamada de diretoria de Pessoas & Cultura e expandiu seus limites, diante de novas demandas relacionadas à pandemia e da necessidade de construção de uma cultura unificada dentro da empresa, após aquisições realizadas ao longo dos últimos sete anos.
Nesse sentido, a área de Pessoas & Cultura foi desafiada a gerir realidades de trabalho diversas, considerando que, além do escritório administrativo, a CTG Brasil atua com 17 usinas hidrelétricas e 11 parques eólicos espalhados pelo País, totalizando quase mil profissionais. Valorizamos a multiculturalidade trazida por cada nova companhia adquirida, aproveitando o melhor de cada experiência, agregando valor à cultura organizacional da CTG Brasil. Ainda antes da pandemia, em 2019, formulamos as estratégias do Programa de Cultura da CTG Brasil, após um trabalho intenso de discussão interna sobre propósitos, valores e cultura.
Com a chegada da Covid-19, tivemos que enfrentar uma verdadeira prova de fogo devido às mudanças impostas pelo home office e medidas de segurança para o trabalho nas usinas hidrelétricas, mas conseguimos adesão importante dos líderes, que entenderam a importância estratégica da área de Pessoas e Cultura para garantir uma cultura única e uma comunicação alinhada. Vimos os nossos valores guiarem a tomada de decisão da nossa liderança e as nossas ações. Como resultado desse trabalho, recentemente, fizemos de maneira inédita uma avaliação 360° das lideranças, com importantes resultados de autoavaliação e feedbacks. Também participamos ativamente da reestruturação do organograma da companhia, olhando para as estratégias de crescimento da empresa no longo prazo e propondo caminhos.
Porém, a atuação estratégica do RH não se dá apenas olhando para as lideranças. Sentir efetivamente se a cultura da empresa é vivenciada por toda a companhia, percebendo como os profissionais se identificam com os valores da empresa, requer presença em todas as esferas, mesmo que, neste momento, majoritariamente de forma remota. Durante essa jornada, realizamos conversas com toda a liderança para falarmos de práticas na gestão de times remotos, de como os profissionais reagem frente a esse cenário de stress e de isolamento e como nós, líderes, podemos ajudar nossos times diante da atual situação. Também ouvimos os anseios dos nossos profissionais, oferecendo o suporte necessário, seja psicológico, de saúde, bem-estar e/ou financeiro, reforçando nossos valores de que pessoas são, de fato, a nossa energia.
Nesse processo, vale destacar que a inovação e a tecnologia foram verdadeiras aliadas e está claro que continuarão sendo, mesmo após a superação da pandemia. O cenário acelerou o amadurecimento de processos digitais nas empresas que, sem dúvida, ajudam a posicionar o trabalho do RH em outro patamar, agregando eficiência e contribuindo com análises mais assertivas e baseadas em dados, algo crucial para o desenvolvimento e o sucesso de qualquer companhia.
No entanto, nosso próximo desafio será equilibrar o uso da tecnologia e o famoso “olho no olho”, sempre importantíssimo quando trabalhamos com pessoas. Para alcançarmos esse objetivo, não há fórmulas nem respostas prontas. É necessário avaliar a realidade de cada empresa – e, dentro dela, de cada equipe – para termos a sensibilidade necessária para adotar as soluções mais pertinentes, lembrando sempre do trabalho próximo às lideranças e da escuta dos profissionais, elementos que, em qualquer contexto, impulsionam um trabalho, de fato, estratégico.