Estamos em um momento único da nossa história. Nos últimos anos, as empresas vinham se preparando para absorver pouco a pouco as mudanças impostas ao mercado de trabalho pela revolução 4.0. Agora, com a pandemia acelerando fortemente o processo da digitalização, cronogramas foram encurtados e se antes essa adequação seguia um planejamento em cascata, setor a setor, agora em muitas companhias ela requer um processo mais ágil, multidisciplinar e horizontal. Sob essa perspectiva, a pandemia foi e ainda é tanto crise quanto oportunidade, desafio e agente motivador para que negócios adotem um novo jeito de trabalhar, em que, certamente, o conceito de aprendizado contínuo é imperativo. E é imperativo por boas razões.
Ao contrário do que muita gente imagina, segundo projeções da consultoria Gartner, por exemplo, a automação e a inteligência artificial criarão mais vagas de trabalho do que as eliminarão. A consultoria estimou que, em 2020, cerca de 2,3 milhões de empregos seriam gerados, contra 1,8 milhão extintos. Além disso, uma das principais recomendações à jornada da transformação digital dentro das empresas para 2021 é justamente evitar a construção de ilhas de automação, ou seja, a concentração da tecnologia em processos e equipes específicas dentro das organizações. Ou seja, é preciso institucionalizar, democratizar a tecnologia, fazer com que ela transite entre setores, e aprender a navegar junto, neste oceano de oportunidades.
Quero trazer aqui alguns dados que servem bem para ilustrar este argumento. Mesmo antes da pandemia, a própria Gartner havia estimado que, por conta da transformação digital, ao menos 40% das equipes de TI das empresas assumiriam vários papéis, muitos deles relacionados às áreas de negócio e não especificamente de tecnologia. Na mão inversa, a partir de dados do estudo mais recente da UiPath, empresa global em automação robótica de processos (RPA), conduzido em 2020 com mais de 500 gestores de nível C, foi constatado que 70% dos executivos seniores, de diferentes setores, esperam que colaboradores não técnicos, ou seja, fora da área de TI de suas empresas, tenham skills de automação e inteligência artificial (AI).
A pesquisa também trouxe um percentual importante: segundo os consultados, 94% dos profissionais em funções não técnicas em suas organizações já interagem, mesmo que timidamente, com processos de automação e tecnologias de AI. Isso porque a automação, ou a plataforma Robotic Process Automation (RPA), não é em si o objetivo final do negócio, mas um conjunto de tecnologias que ajuda a organização a chegar a este objetivo, de forma mais rápida, segura e produtiva.
O fato é que as empresas buscam hoje trabalhar sob a democratização horizontal da tecnologia, em um novo ambiente de trabalho com menos caixas de atribuição, por área e setor, e mais gente preparada para colaborar, inclusive remotamente. E por que isso é importante do ponto de vista profissional e do negócio? Porque, segundo 44% dos consultados pelo estudo UiPath, dominar algumas habilidades do campo da automação amplia o leque de atuação estratégica dos colaboradores; e para 67%, com isso, os profissionais têm mais oportunidades de avançar na carreira, dentro da própria organização, embutindo maiores remunerações e tornando-se mais relevantes ao business plan. Fica claro que estamos falando aqui de ganho de competitividade, manutenção e desenvolvimento de talentos em casa, fatores essenciais para o sucesso de qualquer negócio no mundo atual.
É por isso que democratizar a tecnologia tem a ver com uma mudança cultural dentro das empresas, um caminho sem volta, que a pandemia só fez acelerar. Cada vez mais companhias buscam desenvolver um novo jeito de trabalhar, onde decisões são tomadas a partir de dados que, sob a interpretação das pessoas, tornam-se informações e insights valiosos aos negócios. Oferecer treinamento e estar disposto a aprender são, portanto, fatores cruciais a essa empreitada. Fica exposto, portanto, como a digitalização e automação, em vez de ofuscar, na verdade ressaltam o que temos de mais humano no trabalho: a capacidade de colaborar, pensar, interagir.
Talvez você já interaja em sua empresa com algum processo automatizado e nem saiba disso. A pandemia só evidenciou a necessidade de fincarmos o pé nesse cenário, e fazermos parte desse momento histórico, ao invés de sermos levados por ele.
Por Edgar Garcia, diretor comercial da UiPath para a América Latina