Por Maurício Pedro, gerente do atendimento corporativo do Senac São Paulo
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Previdência mostram que os cargos de direção executiva e atividades ligadas às áreas como finanças, engenharia, TI e saúde tiveram os maiores salários médios de contratação em 2021. Já as áreas relacionadas ao setor bancário apresentaram os maiores salários médios de admissão no mesmo ano.
O levantamento nos faz refletir sobre o peso do salário como fator de decisão para a carreira. Não estamos aqui tratando de direitos sociais básicos que, inclusive, devem ser garantidos pelo próprio Estado, seguindo as diretrizes da Constituição Federal que prevê assegurar ao cidadão acesso à educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, transporte, lazer, segurança, previdência social, entre outros.
Para além do básico, o cenário é: quantas pessoas já enfrentaram dilemas desse tipo: a recusa de um salário atraente por não concordar com a posição de uma empresa sobre determinada situação, pela cultura e clima organizacionais ou pela falta de responsabilidade social, por exemplo?
Empregos bem remunerados, mas sem propósito, sem identificação com as bandeiras defendidas pelos funcionários, têm gerado aumento do turnover, principalmente em função da retomada do trabalho presencial e das mudanças provocadas pela pandemia. Especialistas apontam que, com a crise sanitária, muitos profissionais passaram a avaliar o seu modelo de vida, questionando os antigos trabalhos e revisando as prioridades em pleno contexto de desemprego – o Brasil tem vagas abertas que não são preenchidas por falta de profissionais mais especializados.
Outro fator que deve ser considerado nesse panorama é a questão da saúde mental. As pessoas puderam vivenciar uma vida cotidiana mais intensa com as suas famílias e perceberam o benefício de estarem em casa, sem o deslocamento habitual para as respectivas empresas. Fora isso, passaram a refletir sobre o que realmente faz sentido e, de modo geral, querem participar mais, se sentirem pertencentes, com oportunidade de contribuição e possibilidades de gerarem mudanças.
Também buscam por norteadores, por liderança, por definições que facilitem a sua participação na tomada de decisão e contribuam para a evolução do meio em que estão e, possam assim, se engajarem. Muitas pessoas gostam de uma vida que traga rotina, que permita conforto no reconhecimento de onde estão e como as coisas funcionam, o que não que é necessariamente contrário ao desejo de mudanças e de transformação.
Na perspectiva dos Departamentos de Recursos Humanos, é primordial que desde a entrada do funcionário na empresa, processo que contempla a captação até a seleção, haja clareza na comunicação dos valores organizacionais, de modo a atrair e identificar pessoas que tragam em seus comportamentos e atitudes valores condizentes com os da organização. Se houver convergência nessa equação, o engajamento tende a ser intensificado.
Importante os gestores avaliarem constantemente os planos de carreira dos times de modo a considerar um bom sistema de remuneração, estabelecendo uma política salarial justa, harmonizando os interesses econômico-financeiros da organização com os interesses de crescimento e de qualidade de vida do quadro de funcionários. Esse olhar completo prevê trocas de área de atuação, distribuição de funções com mais responsabilidade, entre tantos outros aspectos.
A resposta para a pergunta sobre ‘O salário pesa na decisão da carreira?’ é afirmativa, porém não é a única questão a ser tratada pelas companhias. Não estamos mais em uma época sem questionamentos, com longa permanência nos empregos, principalmente entre os mais jovens. Tudo muda o tempo todo e essa volatilidade e complexidade têm que ser incorporadas no mundo do trabalho.