Pesquisa revela que o que mantém talentos nas empresas vai além do salário: relações saudáveis, reconhecimento e propósito já pesam mais do que benefícios tradicionais na decisão de permanecer ou sair.
Por Fábio Drigo, sócio-diretor da Minds & Hearts, empresa do grupo HSR Specialist Researchers
O mundo do trabalho vive hoje uma nova lógica. Se antes o aspecto financeiro era o principal fator de decisão profissional, agora ganha força o chamado salário emocional – que envolve qualidade de vida, relações saudáveis e propósito no que se faz.
Essa transformação ficou evidente em um estudo recente que ouviu mais de 1.100 profissionais de diferentes perfis em todo o Brasil. A pesquisa revelou que, embora a segurança financeira ainda seja um critério relevante na atração de talentos, o que mais impacta na decisão de permanência ou saída da empresa é o ambiente de trabalho e a qualidade das relações humanas.
Colaboradores buscam ambientes respeitosos, com lideranças empáticas, nos quais possam se sentir à vontade para crescer, se expressar e manter sua saúde emocional em equilíbrio.
Outro dado importante foi o entendimento do que gera satisfação e engajamento no trabalho. Para a maioria dos entrevistados, estar satisfeito significa fazer o que gosta, perceber sentido no que executa e receber reconhecimento por isso. Já o engajamento surge quando há sentimento de propósito, ou seja, a percepção de que seu esforço contribui para algo maior e é valorizado por colegas e líderes.
Bem-estar além da ausência de estresse
Bem-estar no trabalho vai muito além de não estar estressado. Ele está associado a relações saudáveis, respeito mútuo, autonomia, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e à sensação de estar em um ambiente acolhedor e tranquilo.
Não por acaso, profissionais de empresas pequenas e médias, que geralmente oferecem relações mais próximas e horizontais, se declararam mais satisfeitos.
Esses dados ganham ainda mais relevância com a Lei nº 14.831/2024, que instituiu a Política Nacional de Promoção da Saúde Mental. A nova legislação exige que as empresas implementem iniciativas efetivas de cuidado emocional, promovendo ambientes mais seguros, saudáveis e inclusivos.
Ou seja, cuidar da saúde emocional dos colaboradores deixou de ser um diferencial competitivo: tornou-se uma obrigação legal — e uma estratégia fundamental de negócios.
Reconhecimento, escuta e autonomia: os novos benefícios essenciais
O estudo também mostrou que os benefícios emocionais são os que mais contribuem para a satisfação e retenção de talentos. Entre os destaques estão:
Apoio psicológico
Reconhecimento frequente
Liberdade de expressão
Clareza de papéis e responsabilidades
Práticas que evitem sobrecarga de trabalho
Benefícios tradicionais, como plano de saúde e vale-refeição, continuam sendo valorizados, mas já não são suficientes para garantir vínculo emocional e engajamento duradouro.
A percepção dos profissionais é clara: remuneração justa é só o começo. É preciso sentir-se parte, ser ouvido, ter espaço para evoluir e, acima de tudo, trabalhar em um ambiente saudável. O “ficar” e o tão desejado “vestir a camisa” nascem de uma experiência emocional positiva no dia a dia corporativo.
O futuro do trabalho é emocional
O caminho das empresas passa, inevitavelmente, por equilibrar variáveis tangíveis e intangíveis na gestão de pessoas. Isso significa compreender que por trás de cada colaborador existe um indivíduo guiado por razões e emoções.
O emocional importa — e cuidar dele é cuidar da força, da criatividade e da sustentabilidade de qualquer organização.