Com a predominância da pandemia no mundo e, consequentemente, o movimento dos investidores, os modelos empresariais baseados apenas em resultados econômicos e financeiros foi colocado em risco.
Para sobreviverem, as empresas colocaram em prática a inclusão em questões sociais e ambientais, onde o ESG passa a entrar estrategicamente no ambiente de trabalho.
Contudo, a pauta social se torna um desafio, quando é hora de lidar com a questão mental, onde as chefias têm papel crucial no desequilíbrio do ambiente de trabalho e a falta de abertura à diversidade.
Como as empresas podem implementar de maneira mais efetiva o ESG? Que tipo de mudanças as empresas devem fazer para acolher e trazer relevância às novas gerações?
Como as lideranças podem entender seus respectivos papéis na criação de ambientes mais saudáveis?
Vale ressaltar que o ESG não é um termo novo no mercado, surgiu em 2005 a partir de um estudo demandado pela ONU associado a instituições financeiras de diversos países, porém nos últimos dois anos explodiu no contexto das organizações e do mercado.
Em suas cartas anuais aos CEO’s, Larry Fink presidente do Conselho e CEO da Black Rock, a maior gestora de ativos do mundo, declara a cada ano o quanto as organizações precisam estar responsáveis pelas questões ESG e numa gestão voltada a todas as partes interessadas do negócio.
Um reconhecimento tácito que organizações se tornam mais duradouras, de melhor desempenho e lucrativas quando ampliam seu espectro de visão para todos os seus stakeholders. Um modelo imediatista baseado apenas em resultados econômicos e financeiros foi colocado em risco para aquelas organizações que não caminham nesta direção.
O grande desafio se mostra em aderir nesta direção por convicção e não por modismo. Diversidade e inclusão se revelam como uma estratégia de inovação ao oportunizarem ideias e ações advirem de outros lugares, não vistos e reconhecidos por um perfil padrão(estagnado) de contratações. Trazer esta posição para a estratégia do negócio garante às organizações um maior compromisso na geração de impacto socioambiental positivo.
E, ao atrelar este sucesso com o recebimento de bônus por parte dos executivos traz garantias de perseverar neste objetivo. Porém, este direcionamento não é algo simples e requer muita determinação por parte das organizações, principalmente por parte das lideranças.
Os últimos dois anos, com a pandemia batendo em nossas portas, reforçou muito o quanto estamos ainda longe no tratamento da desigualdade, que se faz presente em nossas relações e com o nosso planeta. Ao deixar de tratar o meio ambiente como algo externo ao negócio e se responsabilizar ao incorporar seus custos, traz a transparência requisitada pelos investidores e consumidores mais conscientes.
Uma expectativa egocêntrica de lucro imediato e que, a qualquer custo, começa a dar lugar a um cenário emergente de uma consciência ecossistêmica mais ampla, o qual necessita muito ser fortalecida na medida que as lideranças não se encontram num patamar uniforme de clareza e entendimento.
Mudar comportamento demora um tempo, assim como para derrubar preconceitos e paradigmas. Em pesquisa promovida pela PwC, 76% das empresas entrevistadas afirmaram trabalhar o tema diversidade em suas companhias, porém só 26% destas divulgaram seus números e somente 17% têm diversidade no patamar de C-Level.
Empresas têm a capacidade de serem grandes agentes de mudança social pela sua estrutura relacional, capilaridade e capacidade de gerar renda.
Mas como organizações respondem a este chamado? Qual caminho a ser trilhado que faça emergir uma liderança consciente capaz de lidar e trazer soluções para assuntos mais profundos e transformadores? Quais ações que podem traduzir uma maior diversidade e inclusão dentro das organizações? Ações imediatas geradas a partir da pressão do mercado não se sustentam no longo prazo e é justamente este lugar que precisa ser atendido.
Todo processo de mudança começa no autoconhecimento. Traçar um diagnóstico inicial a partir do relacionamento com as partes interessadas mais significativas da organização traz clareza e direção ao processo de transição. Envolver as lideranças como polarizadores nesta trajetória e cascatear para todos os níveis, construindo uma cultura de valor em diversidade e inclusão. Desta forma, as ações de mudança serão apoiadas e incorporadas pelo todo e não somente na visão de poucos.
Desenvolver as pessoas para que se reconheçam como parte do problema e da solução, na construção de ambientes mais saudáveis é o caminho. Desenvolver Soft skills é o chamado da nova era, ser capaz de trabalhar suas múltiplas inteligências, de atender a uma geração de millenials e Z que já tomam o mercado de trabalho e que não preconizam mais sucesso somente a questões financeiras, mas também voltado ao propósito e valores. Respeitar comportamentos individuais, não os adequando a um fit cultural salvaguarda ambientes saudáveis.
Engajar pessoas e trabalhar relações é a base de sucesso, pois cada um é único.
Opinião: Suzana Tavares , Especialista em Sustentabilidade e Cultura Organizacional da Humanare