Brasil registra recorde de afastamentos por transtornos mentais; empresas precisam se adequar à NR-1 para evitar colapso organizacional.
O Brasil enfrenta uma crise de saúde mental sem precedentes, refletida diretamente no ambiente corporativo e na economia. Em 2024, 472.328 trabalhadores foram afastados por transtornos psicológicos, um aumento de 68% em relação ao ano anterior, de acordo com dados do Ministério da Previdência Social. Esse é o maior número registrado na última década, reforçando a urgência de medidas para conter o problema.
A crescente onda de afastamentos preocupa não apenas especialistas em saúde mental, mas também empresas e profissionais da área de segurança do trabalho, que lidam com as consequências dessa escalada. Além da perda de produtividade, o impacto inclui custos trabalhistas e previdenciários elevados e o aumento do risco de ações judiciais por negligência na proteção à saúde mental dos colaboradores.
Para Edgar Bull, perito judicial e especialista em segurança e saúde ocupacional, as empresas precisam rever suas políticas internas para conter o colapso psicológico dentro das organizações.
“A saúde mental já é uma das principais causas de afastamento no Brasil, superando muitas doenças físicas. Isso significa que empresas que não se adaptarem às exigências da NR-1 enfrentarão não apenas perdas financeiras, mas também riscos jurídicos consideráveis”, alerta.
Por que os afastamentos por transtornos mentais aumentaram?
A explosão no número de afastamentos por transtornos psicológicos tem causas diversas, que vão desde condições de trabalho adversas até impactos da pandemia. Entre os principais fatores que agravam essa crise, destacam-se:
✅ Carga de trabalho excessiva – Metas inalcançáveis e cobranças constantes elevam os níveis de estresse.
✅ Assédio moral e pressões organizacionais – Ambientes tóxicos afetam diretamente a saúde mental dos trabalhadores.
✅ Falta de suporte emocional no trabalho – Muitas empresas ainda não oferecem suporte psicológico adequado.
✅ Efeito pós-pandemia – Modelos de trabalho híbridos e remotos mal planejados sobrecarregaram as equipes.
✅ Hiperconectividade – A dificuldade de separar a vida profissional da pessoal intensificou os casos de esgotamento mental.
O impacto jurídico e previdenciário da crise de saúde mental
A escalada dos afastamentos tem repercussões diretas tanto para o INSS quanto para as empresas, que precisam lidar com novos desafios previdenciários e jurídicos.
📌 Para o INSS – Transtornos psicológicos se tornaram uma das principais causas de concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, gerando custos bilionários para a Previdência Social.
📌 Para as empresas – A ausência de políticas eficazes de saúde mental pode resultar em:
- Perdas financeiras com o pagamento de benefícios e substituição de mão de obra.
- Ações trabalhistas, caso seja comprovado que o ambiente de trabalho contribuiu para o adoecimento.
- Multas e sanções, em caso de descumprimento das normas de segurança e saúde ocupacional.
De acordo com Edgar Bull, a fiscalização será intensificada nos próximos meses, e as empresas que não adotarem medidas concretas podem enfrentar sérias penalidades.
“Se uma empresa não implementar ações preventivas, ela pode ser responsabilizada judicialmente. Assim como as fábricas precisam fornecer EPIs para evitar acidentes, agora os empregadores devem garantir um ambiente psicologicamente seguro”, explica.
A importância da perícia técnica na avaliação dos afastamentos
Com a alta no número de afastamentos e o aumento das disputas trabalhistas envolvendo saúde mental, a perícia técnica passou a ter um papel essencial para determinar se um transtorno psicológico tem relação direta com o ambiente de trabalho.
O processo pericial inclui:
✔ Análise do histórico do trabalhador e de seu vínculo com a empresa.
✔ Avaliação das condições organizacionais e dos riscos psicossociais.
✔ Investigação sobre assédio moral, carga excessiva de trabalho e pressão organizacional.
✔ Verificação do cumprimento das exigências da NR-1 e outras normas de segurança ocupacional.
“A perícia pode ser decisiva para que a Justiça reconheça a ligação entre o transtorno e o trabalho. Se for comprovada negligência da empresa, ela pode ser condenada a pagar indenizações e até mesmo a reintegrar o funcionário afastado”, explica Bull.
Como as empresas podem agir para evitar afastamentos e processos?
Diante desse cenário crítico, as empresas precisam adotar medidas preventivas para mitigar os impactos da crise de saúde mental. Algumas ações essenciais incluem:
🟢 Mapeamento de riscos psicossociais e inclusão no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).
🟢 Treinamentos para lideranças sobre gestão humanizada e combate ao assédio moral.
🟢 Criação de canais internos de suporte psicológico e programas de bem-estar.
🟢 Promoção do equilíbrio entre vida pessoal e profissional, evitando sobrecarga de trabalho.
🟢 Monitoramento da saúde mental dos funcionários e implementação de medidas preventivas contínuas.
Segundo Edgar Bull, essas iniciativas vão além da conformidade com a NR-1; elas representam uma estratégia essencial para garantir a sustentabilidade das organizações.
“A empresa que investe na saúde mental dos funcionários reduz afastamentos, melhora o clima organizacional e evita processos trabalhistas. Mais do que uma obrigação legal, cuidar da saúde mental no trabalho é um investimento no futuro”, reforça.
Diante da intensificação da fiscalização e do aumento das ações judiciais, a atuação da perícia técnica e dos especialistas em segurança ocupacional será cada vez mais determinante para proteger tanto os trabalhadores quanto as empresas.
“O futuro das relações de trabalho dependerá de como as empresas lidam com essa nova realidade. Saúde mental deixou de ser um tema secundário e se tornou um pilar estratégico para a sustentabilidade corporativa”, conclui Bull.