Por Fabiana Nomura, coordenadora de folha e remuneração e Enaide Cristina Ribeiro Miranda, analista, ambas atuam na Engineering, companhia e consultoria global de Tecnologia da Informação especializada em Transformação Digital.
De acordo com a Fundação Dom Cabral, a pandemia afetou mentalmente 74% dos profissionais brasileiros, enquanto a pesquisa realizada pela Rede Brasil do Pacto Global da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que apenas 18% das empresas do País endereçaram o tema da saúde mental. Ou seja, existe um déficit na atenção voltada ao trabalhador, principalmente quando se diz respeito ao bem-estar da mente.
Home office, dificuldade em controlar horários do trabalho, atenção dividida com a casa e filhos, Whatsapp chamando toda hora, extensa jornada de reuniões on-line, crise econômica e tantos outros problemas atingiram milhares de pessoas ao redor do mundo de uma só vez. A produtividade foi abalada e as pressões aumentaram. Se já era difícil falar de saúde mental na vida privada, tratar do assunto no ambiente corporativo é praticamente um tabu, mesmo que seja algo que possa acontecer a qualquer momento e com qualquer posição dentro da empresa.
Para identificar uma possível dificuldade que o colaborador esteja passando é necessário que os gestores estejam próximos de suas equipes para enxergar quando um colaborador não estiver bem. Os sinais aparecem nas entregas, no comportamento e engajamento, que muitas vezes estão acompanhados de alterações de humor, irritabilidade, insônia e falta de motivação perante a vida. Se o gestor consegue fazer esse acompanhamento de perto, ele conseguirá identificar logo no início algum problema em sua equipe. Além disso, com um relacionamento mais próximo e humano, o colaborador se sente confortável em se autoanalisar e tem abertura para pedir ajuda.
De uma maneira em geral, as empresas não estavam acostumadas a fazer uma associação de saúde mental a aspectos como produtividade, lucro, crescimento, engajamento e vários outros que promovem o sucesso ou não de uma organização. De acordo com estudo da Kenoby, 60% das companhias pretendem contratar uma pessoa ou criar um departamento para cuidar do bem-estar mental. É importante ressaltar que uma saúde mental comprometida afeta os relacionamentos, a qualidade de vida, as atividades diárias e até a saúde física. Consequentemente, afeta a capacidade laborativa da pessoa, que vai interferir na produção da organização. Trata-se de um efeito dominó.
O primeiro passo para uma empresa tratar melhor seus colaboradores é se conscientizar sobre todos os aspectos que envolvem a saúde mental. Em seguida, promover um ambiente psicologicamente seguro para que o profissional se sinta totalmente confortável para falar sobre o assunto e para pedir ajuda quando necessário. Já no dia a dia, ações como reuniões de 50 minutos que permitam uma pausa para o próximo compromisso, palestras sobre saúde mental, sexta-feira à tarde sem reuniões para o colaborador colocar o trabalho em dia e incentivo a atividade física são algumas das atitudes que ajudam a melhorar a qualidade de vida do colaborador. Lembrando que, um ambiente seguro não se constrói da noite para o dia, mas com ações práticas, contínuas e eficazes, sempre considerando as individualidades de cada pessoa.
Falar e se informar sobre saúde mental é importante em todos os momentos da vida, principalmente em ocasiões difíceis, como a da pandemia. Nessas descobertas, a empresa e o colaborador devem caminhar juntos, com acolhimento, empatia e ética.