Com a fiscalização da saúde mental nas empresas, a preparação emocional e comportamental dos líderes se torna peça-chave para a sustentabilidade dos negócios.
O Brasil registrou, em 2024, quase meio milhão de afastamentos por transtornos mentais — o maior número da última década e 68% a mais do que no ano anterior, segundo dados do Ministério da Previdência Social.
Além disso, com a nova NR-1 entrando em vigor no dia 26 de maio, o Ministério do Trabalho passará a fiscalizar a saúde mental nas empresas, prevendo multas para organizações que não mapearem e não agirem para mitigar os riscos psicossociais.
Mas o que fazer quando o mapeamento indicar que o maior risco está na liderança?
Técnicos, mas despreparados emocionalmente
Segundo a psicóloga especialista em orientação de carreira, Fabiana Abath, o primeiro passo é reconhecer que boa parte dos gestores não está preparada para lidar com a saúde mental das equipes.
“Grande parte das lideranças foi promovida pelo desempenho técnico e não por suas habilidades de gestão de pessoas. Isso significa que sabem muito sobre o negócio, mas pouco sobre como acolher, dar suporte e gerir conflitos. E isso impacta diretamente a relação desse líder com o time e entre os integrantes da equipe”, afirma Fabiana.
Ela destaca que, para se adequarem à nova NR-1 e evitarem sanções, as empresas terão que investir fortemente no desenvolvimento emocional e comportamental das lideranças.
Esse desenvolvimento passa por treinamentos, revisão das políticas de gestão de pessoas, mentorias individualizadas e acompanhamento próximo dos líderes.
“A liderança que não é ouvida e acolhida é a mesma que replica esse comportamento com o time, impactando negativamente o ambiente de trabalho”, alerta a psicóloga.
Plano de ação: da teoria à prática
Fabiana Abath afirma que é necessário um plano de ação concreto para capacitar essas lideranças. Entre as iniciativas que as empresas podem adotar, estão:
- Treinamentos específicos sobre saúde mental para líderes
- Mentorias e grupos de apoio para troca de experiências
- Avaliações periódicas sobre o impacto da liderança na saúde mental das equipes
- Planos de Desenvolvimento Individual (PDI)
- Consultoria externa para apoiar a mudança da cultura organizacional
Outro ponto essencial, segundo a especialista, é que as mudanças comecem de cima para baixo, com o exemplo da alta liderança e a escuta ativa dos colaboradores.
“Muitas vezes, as lideranças não percebem o impacto de suas atitudes, e é preciso abrir espaço para que a equipe possa se manifestar com segurança”, orienta Fabiana.
Saúde mental é responsabilidade de todos
Abath reforça que o cuidado com a saúde mental não deve ser tratado apenas como uma exigência legal, mas como uma responsabilidade social e uma estratégia de sustentabilidade do negócio.
“Empresas que não cuidarem disso vão continuar perdendo talentos, além de lidarem com queda de produtividade e um clima organizacional ruim”, conclui.