Há anos que o tema Saúde Mental é falado no mundo corporativo e, após o início da pandemia da Covid-19, ele foi ainda mais trabalhado e incluído na pauta das empresas. O que está ligado ao trabalho de Saúde Mental são ações de mindfulness, orientação e apoio psicológico aos colaboradores, treinamento de liderança, webinars que abordam o tema, plataforma para prática de exercícios etc.
Sem dúvida essas ações são eficazes para a melhora mental e psicológica dos colaboradores, mas tem algo que vai muito além e é extremamente importante ter no ambiente corporativo: a cultura da Segurança Psicológica. Na teoria ela é bem simples e segue a premissa de direcionar a gestão das companhias a oferecer um ambiente aberto. Mas, para facilitar a compreensão, trago quatro pilares que podem definir a Segurança Psicológica:
1- Expressão: ter condutas que deixem os colaboradores à vontade para falar o que pensam sobre a empresa, seu trabalho, não temer a falha e, até mesmo, trazer à tona questões pessoais que eventualmente possam interferir em sua produtividade;
2- Interação: não apenas se comunicar abertamente com a equipe e liderança sobre assuntos de trabalho, mas também ter um ambiente no qual as pessoas possam pedir ajuda (pessoal ou profissional), receber e dar feedback e poder falar dos seus problemas pessoais, se achar necessário e se sentir à vontade. Afinal, conversas e temas considerados difíceis estão em todas as esferas das nossas vidas;
3- Aprendizado: ter um ambiente em que a pessoa se sinta à vontade para perguntar, sem nenhum julgamento, é uma etapa de qualquer aprendizado. Dar a chance de o profissional inovar e até se arriscar também faz parte do processo, inclusive ter a oportunidade de aprender com possíveis erros. Afinal, ninguém acerta o tempo todo!
4- Pertencimento: fazer com que seus colaboradores tenham “orgulho de pertencer” está entre os objetivos de diversas empresas, mas elas precisam fazer por onde. Sentir-se apoiado e valorizado gera orgulho ao colaborador, muito mais que qualquer benefício financeiro.
Em tempos de pandemia, isolamento social, medo do desconhecido e até mesmo as questões que envolvem o trabalho home office, potencializaram a ansiedade e a insegurança, afetando psicologicamente muitas pessoas. Questões como essas podem ser trazidas em discussões seguras, ressaltando a importância do equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. Mas isso ainda não é totalmente difundido e nem mesmo aplicado da maneira correta nas empresas. Poucas já se submeteram a uma pesquisa para diagnosticar o nível de risco psicossocial interno.
No primeiro momento pode-se pensar que a Segurança Psicológica deve partir do RH, mas não é bem esse o caminho. Ela deve fazer parte dos princípios da empresa e estar enraizada no dia a dia de todos os colaboradores de maneira transversal, como tantas empresas fazem com os temas de sustentabilidade e segurança operacional, por exemplo.
Temos que criar cada vez mais a consciência de falar abertamente sobre Saúde Mental e não apenas quando entramos em crise, e isso está diretamente ligado à Segurança Psicológica.
Ter um ambiente inseguro psicologicamente pode gerar o absenteísmo, e ainda pior, o presenteísmo. Mas isso é tema para a nossa próxima conversa!
Cristina Cassis é executiva de Comunicação Corporativa, com mais de 20 anos de experiência. Desde 2003, atua em cargos de gestão de equipes multimodais e integração das áreas de sustentabilidade, responsabilidade social e Gestão de Gente. Nos últimos anos, passou a estudar em profundidade sobre Liderança Humanizada e Segurança Psicológica.