Especialista esclarece dúvidas sobre a jornada de 4 dias de trabalho na vida dos profissionais, e também lista cinco dicas para ajudá-los na adaptação ao novo modelo de trabalho que, breve, será realidade no Brasil
O Brasil será palco de um experimento social sobre o impacto da jornada de trabalho semanal de quatro dias, que acontecerá entre junho e dezembro deste ano. O programa foi piloto no Reino Unido e envolveu 61 empresas de diversos setores e quase 3 mil trabalhadores entre julho e dezembro de 2022. O teste foi conduzido pela organização sem fins lucrativos 4 Day Week Global (Semana de Quatro Dias Global, em tradução livre), junto com a campanha 4 Day Week Reino Unido e a organização de pesquisa Autonomy.
Com isso, muitas empresas do mundo estão adotando essa prática e colhendo resultados positivos. Segundo relatório publicado pelas Universidades de Boston, Dublin e Cambridge, empresas que adotaram esse método de trabalho tiveram aumento nas vendas, menos casos de Burnout e menos distração dos seus funcionários. Outro fato é que as empresas que participaram do estudo tiveram um crescimento de 8% das suas receitas.
Vandson Cunha, especialista em recursos humanos e sócio da Bematize, consultoria de benefícios flexíveis, observa de forma otimista a aplicação da jornada de 4 dias no Brasil entre as organizações.
“Com a jornada de 4 dias, é possível aumentar a motivação e reduzir a taxa de absenteísmo, além disso pode ser uma maneira de atrair e reter talentos, já que os profissionais estão, cada vez mais, em busca de empresas que valorizem o equilíbrio profissional e pessoal”.
Apesar da semana de 4 dias se tornar cada vez mais popular entre os profissionais de recursos humanos, também vem acompanhada de várias polêmicas. Para muitos, não há como implementar esta redução na carga horária sem que haja reflexos de produtividade. Por isso, o especialista esclarece dúvidas sobre a jornada de trabalho:
Semana de 4 dias vai mudar a lei trabalhista brasileira?
De acordo com o profissional, a jornada de 4 dias não vai alterar as normas trabalhistas previstas no regime CLT, e o salário permanece o mesmo. “Nesse contexto, a regra é que a jornada seja de 8 horas diárias e 44 semanais. É previsto o descanso semanal remunerado, que ocorre uma vez por semana. Entretanto, nada impede que a carga horária seja menor, a lei impede que a jornada seja maior.”, explica.
Haverá impactos na oferta de benefícios?
Em um ambiente de mudanças velozes para o mercado de trabalho, os desafios para a área de recursos humanos têm se tornado cada vez maiores, como, por exemplo, na busca de resultados sólidos e a oferta de benefícios flexíveis. Para Vandson, não haverá redução no plano de benefícios. “A mudança da jornada de 4 dias não vem acompanhada de redução na gama de benefícios oferecidos, podendo gerar ajustes apenas em benefícios pagos por diária, como os auxílios transporte e refeição, por exemplo.”, salienta.
A jornada de 4 dias é o futuro do trabalho?
Trabalhar menos, mais tempo livre? Para muitos trabalhadores, a jornada semanal de quatro dias é o sonho. Para o especialista, o modelo de trabalho é o futuro do mercado de trabalho, pois é a contramão de um dos problemas mais recorrentes da geração atual, o estresse do ambiente de trabalho e as doenças. E ainda orienta que exigir dos funcionários a entrega de resultados em tarefas específicas, pode ser realizado sem um parâmetro de tempo específico. “É necessário que cada colaborador saiba qual é o seu papel dentro da empresa e tenha objetivos claros para o exercício da autonomia e para que possa desenvolver-se integralmente”, pontua.
Para finalizar, Vandson selecionou cinco dicas que podem auxiliar os profissionais na adaptação da jornada de 4 dias:
Foque nos resultados: A mudança da política interna da empresa é um grande passo para que se obtenham resultados satisfatórios. “O alinhamento de objetivos é um dos recursos que transformam a missão do trabalho em uma tarefa bem executada e não nas horas trabalhadas. Esta solução vai manter a mesma remuneração e benefícios dos colaboradores”.
Faça um planejamento: Para o profissional, na concretização da dica anterior é preciso elaborar um planejamento semanal para ter resultados esperados e metas alcançáveis. “Faça um planejamento, de preferência semanal, para que as suas tarefas tenham prioridade e objetivos claramente definidos”, sugere.
Utilize soluções tecnológicas: As novas tecnologias de comunicação desencadearam mudanças na vida dos colaboradores, como o uso de aplicativos que facilitam o processo organizacional das empresas e o impulsionamento da produtividade. “Se precisar de uma semana de 5 dias, é possível optar por uma solução digital com atendimento automatizado, já que podem dispor vantagens para as organizações, como: otimização de processos, simplificação de tarefas, além da compreensão das ferramentas tecnológicas”, diz.
Treine as suas lideranças: Vandson aponta que um dos erros mais comuns dos gestores, e que pode comprometer a rotatividade dos colaboradores e gerar consequências para a empresa, é a falta de treinamento entre lideranças diante do modelo de trabalho. “Esta ação precisa ser realizada periodicamente, pois sempre existirá a necessidade de atualizar os conhecimentos e integrar futuros líderes”.
Avalie internamente: O feedback busca compreender as habilidades e dificuldades dos colaboradores, mas também serve para mantê-los motivados nas empresas. Para Vandson, essa prática vale tanto no processo de adaptação da jornada de 4 dias, quanto para parabenizá-los pelas ações exitosas, além de ser indispensável na gestão de pessoas. “O feedback funciona como uma bússola que orienta o profissional na hora de desenvolver suas atividades.”, finaliza.