Você já se perguntou por que as pessoas colaboram? Colaborar é uma tendência natural, que tem base na empatia, mas se amplifica na escassez. Ou seja, quando temos interesses e necessidades em comum, nos tornamos predispostos a trabalhar juntos. Pelo menos em tese, pois na prática é bem diferente.
Há um elemento fundamental nesta equação que nem sempre existe entre as pessoas: confiança. A verdadeira colaboração só acontece quando, por mais solidárias que sejam às dores alheias, o nível de confiança entre as pessoas é alto o bastante para compartilharem poucos recursos e cooperarem para aumentá-los. Quando desconfiam umas das outras, as pessoas querem os recursos apenas para si, trabalham pela própria prosperidade e assim surge a competição. Colaboração sem confiança é hipocrisia.
Nas nações, confiança é o fator determinante da prosperidade e do desenvolvimento humano e, sua falta, uma sentença ao subdesenvolvimento e à desigualdade social. Inúmeras pesquisas comprovam que existe uma correlação direta entre o índice de confiança dos cidadãos entre si e com as instituições. São indicadores de nível de felicidade dos habitantes de um país, que geralmente têm países como Suécia, Noruega, Canadá, Neozelândia e Suíça no topo do ranking. Já o Brasil, há anos, come poeira lá pela 70ª posição.
Países europeus desenvolvidos enfrentaram depois da 2ª Guerra Mundial uma brutal escassez em que pobres e ricos não se distinguiram para colaborar na construção de excelentes escolas, hospitais e sistemas de segurança, entre outras infraestruturas, sempre públicas. No Brasil, nossa elite construiu também, porém destacam-se quando particulares.
Ou seja, país desenvolvido não é aquele em que o pobre tem carro, plano de saúde privado e filhos em escola particular, mas sim aqueles em que o rico usa o transporte, a saúde e a educação providos pelo Estado.
Agora, transfira este raciocínio para as empresas, em que a confiança é argamassa das relações. Ainda estamos sofrendo para mudar este mindset, principalmente no Brasil, em que até multinacionais operam em convivência com o jeitinho brasileiro.
De um lado, quando há mais confiança, há menos gasto em serviços que não agregam valor como cartórios e burocracia em geral. De outro, mais confiança faz com que as pessoas se preocupem menos com interesses individuais, colaborando de fato. Duvidou? Nosso país gasta cerca 3% do PIB para alimentar a burocracia, índice que, se revertido em percentual de crescimento, teria nos feito crescer com taxas chinesas nas últimas décadas.
Aprendemos a criar dificuldades para vender facilidades e criamos as atitudes protetivas como o velho “me manda um e-mail formalizando”, que só alimentam a sensação de desconfiança. Isto é, quem pratica o jeitinho, tem medo de ser vítima dele! A esperança é que pessoas cada vez tolerem menos a burocracia. Elas têm liderado a transformação digital e criado organizações exponenciais.
Se confiança é o objetivo, também é a arma contra o jeitinho! Foi o que aprendi com Seu Beto de Porto Belo/SC, dono de um restaurante em que ninguém fica na balança para pesar os pratos do buffet de comida caseira. É o cliente quem pesa na balança, anota o valor de sua comida, pega sua bebida e usa uma calculadora e a maquininha de cartões para pagar sua conta ao final da refeição. Se for em dinheiro, põe no caixa e faz seu troco. E o faturamento dele aumentou dessa forma!
Certa vez perguntei ao meu pai como ele conseguia trabalhar antes do e-mail e do celular. A resposta: antigamente a palavra valia alguma coisa. A grande transformação está em resgatar a confiança, através do valor da palavra e da honestidade. Essa é a melhor forma de derrotarmos o jeitinho e aumentarmos a eficiência de nossas empresas.
Daniel Costa é Head de CSI & Marketing do grupo BWG