Descubra como repensar sua relação com o trabalho pode aumentar sua felicidade e bem-estar, utilizando estratégias baseadas em pesquisas científicas e práticas de desenvolvimento pessoal.
Julia Ades, atua na área de Pesquisa de Comportamento há mais de 12 anos e é sócia fundadora e Head de Conteúdo e Análise da APOEMA.
A saúde mental dos brasileiros pós-pandemia é uma das piores do mundo, de acordo com um relatório do Global Mind Project. O levantamento mostra que mais de um terço dos cidadãos do país está “angustiado” e os jovens com menos de 35 anos são os mais afetados. Além disso, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), casos de depressão, ansiedade e síndrome de Burnout têm crescido exponencialmente. No mundo todo, cerca de um bilhão de pessoas – uma em cada oito – apresentam ao menos um problema relacionado à saúde mental.
Diante desse cenário, como forma de conscientizar a sociedade sobre prevenção ao suicídio e cuidados com a saúde mental – inclusive no mercado de trabalho -, é realizada, neste mês, a campanha de Setembro Amarelo. E, acompanhando esse movimento, as empresas deverão passar a cuidar da saúde mental e bem-estar de seus funcionários de forma obrigatória, já que a Norma Regulamentadora N.º 1 (NR-1) foi revisada para incluir a identificação e gestão de riscos psicossociais no ambiente corporativo.
Esse é um passo importante em direção a um olhar mais humano para os colaboradores, já que as pessoas têm sentimentos e passam por situações, fases e contextos que nem sempre são fáceis. Portanto, é preciso entender, de uma vez, que a saúde mental tem impacto direto no trabalho e vice-versa.
E, com isso, as empresas têm, de fato, responsabilidade em relação ao bem-estar do funcionário, e é fundamental que ofereçam um ambiente saudável e equilibrado para que se sinta bem. Ao identificar questões importantes relacionadas à saúde mental no local de trabalho, a organização deve gerenciá-las e agir.
Escuta ativa
Com a temática da saúde mental em alta no mercado, benefícios relacionados ao bem-estar têm ganhado cada vez mais destaque. Segundo dados do Engaja S/A, pesquisa realizada pela FGV EAESP, em parceria com a Flash e o Talenses Group, e que contou com a colaboração da APOEMA, ateliê de pesquisa de comportamento, são eles que mais engajam os funcionários, seguidos de benefícios financeiros, como auxílio combustível, VA e VR e PLR.
Entretanto, o mais importante segue sendo a escuta ativa. Ouvir, dos próprios colaboradores, o que pensam e precisam em relação ao tema é o primeiro passo para que as empresas possam atuar de forma assertiva. Abrir espaço para que esse tema possa ser pensado e falado dentro do universo corporativo é essencial.
Além disso, a partir da escuta, muita coisa pode ser pensada. Rodas de conversa, grupos de discussão sobre temas relacionados à saúde mental, programas desenvolvidos para quem passa por algum tipo de trauma ou estresse, programas de adaptabilidade para mães que retornam da licença maternidade, licença paternidade estendida para os pais, entre outras tantas alternativas. Há muito o que se fazer quando pensamos sobre saúde mental.
Olhar integrado
Prova dessa lacuna no mundo corporativo são os dados do estudo Aldeias do Cuidado: o universo corporativo como apoio à parentalidade, idealizado e realizado pela APOEMA, em parceria com a MindMiners e a Maternidade nas Empresas, que mostram que as empresas brasileiras precisam de um olhar mais integrado e humanizado em relação à parentalidade, por exemplo. Segundo o levantamento, desde que se tornaram figuras parentais pela primeira vez, mais da metade (51,1%) dos entrevistados não foram promovidos e nem tiveram reajuste salarial. Esse é um exemplo da falta de integralidade em relação ao colaborador versus ser humano.
A pesquisa ouviu 1.000 pais e mães de todo o país, que trabalham com carteira assinada. Ao avaliar a distribuição por gênero, o estudo ressalta um olhar ainda enviesado: 54% das mulheres afirmam não ter recebido nenhuma promoção ou reajuste salarial desde que tiveram filhos, em comparação a 48% dos homens. Além disso, 42% das mães acreditam que perderam chances na carreira, enquanto apenas 27% dos pais se sentem da mesma forma, e 50% das mulheres têm medo de perder o emprego, contra 41% dos homens.
O cenário reforça que as mães são mais impactadas no que diz respeito às “perdas” no ambiente corporativo. Tanto quando pensamos na licença paternidade, que é de apenas cinco dias, e que afeta diretamente na sobrecarga dessa mulher, que fica em casa cuidando dos filhos, quanto à falta de organização de programas e processos de adaptação da profissional que volta de uma licença maternidade e à não promoção das mesmas, por exemplo.
Portanto, ter um olhar integrado sobre o tema é essencial para que as empresas não fiquem presas apenas ao literal, como oferecer desconto ou acesso a terapias. É importante entender que paternidade se relaciona com saúde mental, que carga de trabalho se relaciona com saúde mental, que perdas familiares, por exemplo, se relacionam com saúde mental. Ou seja, olhar para o colaborador de forma integrada, inteira, é muito importante para que a organização possa compreender, de verdade, o que o afeta.
Esse é um passo importante para que colaboradores possam se sentir mais tranquilos no ambiente de trabalho. Desta forma, podem não apenas exercer suas funções de forma mais produtiva, como também aumentar o engajamento e fidelização com a empresa. Afinal, quem quer sair de um ambiente onde se sente visto, compreendido, amparado e cuidado?