O desafio, neste Setembro Amarelo, é refletir sobre como podemos alinhar nossa produtividade, paixão e propósito preservando nosso bem-estar
Vivemos em uma época em que o simples emprego não basta. Buscamos uma profunda ligação entre o que fazemos e quem somos. Queremos que nosso trabalho ressoe com nossos valores, nossas aspirações e, principalmente, com nosso propósito de vida. Este é, sem dúvida, um nobre objetivo. Contudo, há uma armadilha oculta nesse caminho: o risco do esgotamento, ou “burnout”.
Um artigo recente da Harvard Business Review debate essa realidade frequentemente – e digamos facilmente – negligenciada: o risco da constante busca pela paixão no ambiente de trabalho. É comum que pessoas que seguem fervorosamente seus propósitos profissionais enfrentam uma maior suscetibilidade ao desgaste. Isso porque, ao serem tão guiados por suas paixões, tendem a desconsiderar os limites saudáveis de envolvimento no trabalho.
O filósofo e professor sul-coreano, Byung-Chul Han, argumenta em seu livro “A sociedade do cansaço”, que, ao nos entregarmos excessivamente ao que amamos, muitas vezes ultrapassamos nossos próprios limites físicos e mentais em nome daquilo que acreditamos ser imprescindível. “Se tem propósito, então vale a pena”, muitos pensam. Mas ao sacrificar a saúde mental e física, realmente vale?
Para não cair nessa – e em outras – armadilha tenho apenas uma “simples” porém potente recomendação: invista no seu autoconhecimento. Reconhecer quando a paixão está tomando conta e ultrapassando os limites saudáveis vai garantir a manutenção da integridade em todas as esferas da vida. Amor ao trabalho não deveria significar esgotamento contínuo.
Se propor rotinas definidas e respeitar os horários de trabalho são passos básicos. A capacidade de dizer “não”, inclusive a nós mesmos, nunca foi tão importante. Ao nos comprometermos além da conta, corremos o risco de nos sobrecarregar. Avalie sempre prioridades e aprenda a identificar aqueles pedidos – tanto externos quanto internos – que comprometam a sua saúde.
Você diversifica suas fontes de energia no olho do furacão das demandas e entregas? Dedicar tempo a hobbies, esporte, amigos e família é rejuvenescedor. Enquanto os hobbies proporcionam um escape do ambiente de trabalho, como uma distração positiva, permitindo que a mente e o corpo relaxem; e o esporte libera endorfinas, melhora a saúde cardiovascular, aumenta a resiliência e cria uma sensação de realização e bem estar; a simples presença e o feedback de colegas, amigos e entes queridos são inestimáveis na busca por uma dinâmica saudável entre o profissional e o pessoal.
O desafio, neste Setembro Amarelo, é refletir sobre como podemos alinhar nossa produtividade, paixão e propósito preservando nosso bem-estar. E essa responsabilidade é puramente de cada um de nós. Nunca podemos delegar a outros ou à empresa tal responsabilidade. Nosso verdadeiro propósito começa com a decisão de cuidar também de nós mesmos, na habilidade de perseguir nossos sonhos, mas ser capaz de cuidar de nós mesmos. Lembre-se: uma mente e um corpo exaustos não poderão jamais manifestar plenamente seu legado.
Milena Brentan é fundadora da MB People, empresa dedicada a disseminar práticas de RH e desenvolvimento humano que geram impactos positivos nos negócios. Com um histórico profissional que conta com passagens por empresas renomadas, como Airbnb, Grupo Pão de Açúcar e Vox Capital, Milena utiliza sua experiência para direcionar executivos e líderes no caminho do desenvolvimento profissional.