Você já pensou que pode ter perdido uma vaga ou uma promoção por causa do seu humor, ou melhor, pela falta dele?
Por Heloísa Ramos, executiva de RH e colunista Mundo RH
Não me refiro ao humor caricato de um extrovertido ou piadista, apenas ao estado de espírito.
Se isso nunca passou pela sua mente, considere, esse é sim um fator que influência na escolha do candidato. A ausência dele dificilmente será pontuada pelo recrutador em um feedback negativo do seu processo, a tendência é o respaldo em competências técnicas, que geralmente são mais substanciáveis.
E quanto aquela promoção? Ela não veio e pode ter sido pelo mesmo motivo. O problema é que você pode desconhecer o núcleo do assunto por ele estar “mascarado” no PDI como: flexibilidade ou trabalho em equipe.
Nesses muitos anos de RH, eu perdi as contas de quantas vezes recebi queixas de colaboradores e líderes a respeito de problemas de humor, porém, arrisco a mencionar que esse aspecto é mais evidente entre níveis pares. As reclamações tendem a ser acompanhados na rotina por frases como: “ele não dá espaço para conversarmos, tá sempre muito mal-humorado“; “procura beltrano, porque ciclano é sempre mal-humorado!”, e até nos eventos informais, ouve-se: “Não convida essa pessoa, a energia dela é sempre baixa!”.
Apesar do tema humor ser facilmente percebido como um softskill, curiosamente não costuma aparecer em trilhas de carreiras de treinamentos virtuais ou presenciais nas grades das universidades corporativas.
Certamente o assunto é amplo e bem complexo, mas o meu objetivo nesse artigo é abrir espaço para gerar provocações a respeito das responsabilidades e benefícios do humor na carreira e no resultado das organizações.
Minha amiga, Maryana, com Y mesmo, CEO da HumorLab, define que: “Humor não é piada, é como a gente se sente. O ambiente de trabalho que apresenta uma escuta ativa, abre espaço para o bom humor!”
A pesquisa da GPTW possui a pergunta: Posso ser eu mesmo nesta organização?
Essa pergunta converge com a consideração acima feita pela Maryana, que o humor é uma representação de como a gente se sente.
Olhar com mais respeito para esse tema, pode ser um inovador para explicações de redução dos indicadores de turnover, voluntários ou mesmo involuntários.
Para garantir uma compreensão mais profunda desse tema, a psicologia define humor como “um estado de espírito de longa duração, que tem associação direta com as emoções, que por sua vez está intimamente conectada com crenças, e essa pode ativar gatilhos emocionais”.
Apesar do filme Divertidamente evidenciar algumas emoções, Paul Ekman, em 1972 definiu uma lista de emoções básicas consideradas universais, que segundo o autor, seriam: felicidade, tristeza, raiva, surpresa, medo, desgosto, satisfação, orgulho, desprezo, vergonha, embaraço, diversão e excitação.
O humor pode ser um potencializar ou inibidor de match de valores. A prova disso é o filtro da palavra nas vagas disponíveis no Linkedin. No dia que escrevi este texto, 10% das posições disponíveis apresentavam o Humor como um valor da empresa ou um pré-requisito da vaga.
De fato, não devemos ignorar que existem problemas profundos como transtornos de humor, e para esses temas é fundamental acompanhamento de profissionais qualificados no assunto.
O que proponho nesse conteúdo é expandir a maneira como individuo, líder e empresas têm credibilizado essa competência.
Os profissionais que são percebidos com melhor humor tendem a ter mais chances de serem percebidos como acessíveis, e por consequência, melhor entrosamento e trabalho em equipe.
No cotidiano, isso parece ser difícil de se colocar em prática, mas use como inspiração os professores de cursinhos pré-vestibulares, que utilizam da criatividade e do bom humor para ensinar temas complexos com leveza por meio de músicas e associações de palavras.
Longe de querer reduzir o tema, finalizado sugerindo oportunidades que podem ser repensadas:
Empresa – Se o Humor é uma competência que pode mover tantas outras, inclua em sua trilha de carreira e nos encontros corporativos o assunto como algo evidente. De antemão, indico dentre tantos outros bons profissionais, três diferentes opções de mulheres que dão show no tema e apoiarão o seu RH com isso:
Maryana, do Humorlab, (https://www.linkedin.com/company/humorlab/)
Branca Brandão (https://www.linkedin.com/in/brancabarao/) e Vânia Ferraria (https://www.linkedin.com/in/vaniaferrari/)
Líderes – Novos tempos requerem novos pensamentos e novas posturas!
Recentemente, o dress code do mundo corporativo mudou os trajes formais por camisetas e tênis; a decoração dos escritórios deixou de ser modular, deixando suas cores sóbrias no passado e transformando-se em ambientes coloridos e integradores.
Mas mudar o ambiente físico é certamente mais rápido do que mudar o comportamento coletivo, não é?
Por isso, é fundamental conversas e posturas revisitar crenças herdadas que líder bom é líder sério, que líder bem-humorado não impõe credibilidade e corre o risco de perder autoridade. E que quanto mais alto na pirâmide de cargos um profissional está, menos ele tem liberdade de ter um espírito leve.
Como gestor, avalie como você tem contribuído para mudança desses estereótipos.
Profissional – Estudar suas emoções e dar significado à elas, pode interferir positivamente no seu estado de espírito e na representatividade percebida pelos outros quanto a intenção de suas ações. Busque apoio de profissionais especializados no tema e se possível, adicione atividades físicas, garantindo quimicamente e de maneira saudável a liberação de hormônios de prazer e bem-estar.
E se nenhuma dessas coisas são novidades ou faz sentido para o seu momento de vida, recomendo assisti ao documentário Tarja Branca, produzido pela Maria Farinha, que chama a atenção de como cada um tem lidado com seu espírito lúdico. O documentário é um convite a mantermos a criança interior presente e em atividade, sempre.
Espero que esse conteúdo tenha contribuído para ampliar seus pontos de vista a respeito do tema, e se puder, conta pra mim sua experiência ou percepção da interferência do humor na sua carreira e na sua empresa.
Heloísa Ramos é Executiva com 15 anos de experiência em Gente & Gestão e ESG. Finalista RH Mais Admirados do Brasil pelo Grupo Gestão RH; Colunista do Mundo RH; palestrante; co-autora do livro Mulheres do RH 2023 pela editora Leader; mentora voluntária de carreira para mulheres da ABRH, IVG e ONG Cruzando Histórias e madrinha do Instituto Amor em Mechas.