Construindo uma identidade profissional duradoura: por que é importante reverter a ordem de apropriação da reputação corporativa ao longo da carreira
Por Heloísa Ramos, executiva de RH e colunista Mundo RH
É natural perguntarem o seu nome e o da sua empresa logo no início de um encontro, não é mesmo?
Pronto! Bastou você responder, para provavelmente ser escaneado como alguém menos ou mais relevante para seu interlocutor, dependendo da marca da empresa que representa.
No início de carreira é comum se apropriar da reputação corporativa para ganhar mais notoriedade e referência da construção da identidade profissional que se está criando, mas com o passar dos anos é fundamental reverter gradualmente essa ordem.
Não me refiro aqui a situações de curta duração como eventos ou treinamentos, que todos desfilam com crachás, mas a petrificação de quantos tem perdido sua identidade como pessoa, para uma logo.
Quando menos se percebe, deixou seu sobrenome, carinhosamente herdado da sua árvore genealógica, para exclusivamente ser valorizado pelo @ do email de uma marca.
Negligenciar isso, pode custar muito caro não só na carreira, mas outras áreas da vida.
Conheço altos executivos que durante anos foram CEOs ou Diretores de grandes empresas, e quando se desconectaram desses ambientes, tinham se perdidos de si próprios. Levaram um bom tempo resgatando sua identidade como: pais, mães, filhos, estudantes, esportistas, pessoas saudáveis físicas e emocionalmente, etc.
Sérgio Piza (https://www.linkedin.com/in/sergiotpiza), meu amigo e ex-chefe, já dizia que até na vida profissional a palavra PESSOA vem antes da PESSOA JURÍDICA!
Se atentar para isso é fundamental, para não se esquecer que você não é uma empresa, mas está em uma empresa!
Mesmo um dono de uma organização (que certamente é fundamental para existência e manutenção dela) não nasceu do seu CNPJ, pelo contrário, ele doou o seu CPF para quem ela passasse a existir.
O canal de mensagens das redes corporativas são termômetros poderosos do quanto alimentamos esse ciclo vicioso, seja como empregados ou como empregadores.
Faça um teste e análise se você realiza o mesmo tratamento para as mensagens de todas as pessoas que recebe no seu Linkedin, ou se faz distinção das interações valorizando seus títulos de cargos ou empresas que representam.
Esse simples exercício, ajuda a revisitar o quanto o sobrenome corporativo tem um peso superior nas relações.
Porém, saiba que da mesma forma com a qual você se posicionou na interação com esse grupo de pessoas por mensagens dessa rede social, elas também acabaram por realizarem uma avaliação a seu respeito.
Nesse momento você pode ter sido percebido como alguém arrogante que não responde às abordagens, ou mesmo, respeitoso, independentemente se o desfecho desejado da abordagem inicial tenha sido atribuído a venda de algo ou indicação e contratação de alguém.
Você já deve ter ouvido algum colega dizer que o mais importante do e-mail é a assinatura, porque nela está o nome da pessoa que o redigiu. E de fato, essa é uma boa forma de avaliar que tipo de legado você está deixando quando dispara um e-mail interno ou externo.
Nos happy hours de fornecedores não é incomum ouvir que quando fulano for desligado do cargo que ocupa como cliente, não conseguirá se recolocar facilmente devido à sua arrogância, e que sempre usa a marca da empresa como seu escudo.
A esses colegas de mercado que se escondem atrás de logos, lamento informar que estão construindo sua carreira em um sobrenome Corporativo, e que em momento de retração ou mudança estrutural, ficarão órfãos não somente do cargo, e do logo que carregam, mas principalmente de si mesmos.
Estar em uma empresa tem um valor enorme e nos dá senso de pertencimento, nos permite conhecer pessoas, nos desafiarmos, evoluirmos em experiências bens e más sucedidas, nos gera envergadura e amplitude de repertórios corporativos, mas nada disso deve regredir e substituir nosso sobrenome, nossa identidade humana!
E já que estamos em tempos de layoff, saiba que perder o crachá pode ser doloroso, mas também pode ser libertador e te colocar em contato com que você é!
E se nesse momento independente de não representar nenhuma marca, você de repente se pega se mantendo presente nos mailings de encontros; consultado pela sua expertise; ativo no whats no seu celular pessoal (já que você não possui mais um celular corporativo), saiba que conseguiu inverter a ordem, ou seja, conseguiu que seu sobrenome fosse maior do que qualquer sobrenome corporativo que já representou!
A boa notícia é que quando você atingir esse estágio, terá um valor ainda maior para o mercado, porque as empresas passam a te contratar pela credibilidade e representatividade que você tem, e não exclusivamente pela marca que representa!
Lembre-se: nenhum sobrenome de empresa pode ou deve te definir! Se responsabilize por sua história genealógica e corporativa.
Se esse texto fez sentido para você, não esqueça de deixar seu comentário!
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Heloísa Ramos é executiva com 15 anos de experiência em Gente & Gestão e ESG. Finalista do prêmio RH Mais Admirados do Brasil pelo Grupo Gestão RH; Colunista do Mundo RH; palestrante; co-autora do livro Mulheres do RH 2023 pela editora Leader; mentora voluntária de carreira para mulheres da ABRH, IVG e ONG Cruzando Histórias e madrinha do Instituto Amor em Mechas.