O desafio das empresas brasileiras: como equilibrar a agenda ESG com a busca por lucro sustentável a longo prazo.
João Márcio Souza, CEO da Talenses Executive
Vivemos em uma era em que o debate entre sustentabilidade e lucro de curto prazo se tornou um dos mais urgentes nas salas dos conselhos. Em um mundo que sempre girou em torno de poder, influência e, claro, dinheiro, não é surpreendente que as agendas globais sejam fortemente influenciadas por países como os Estados Unidos e outras superpotências. No entanto, ao importar essas tendências para o Brasil, é essencial ajustar a equação para que faça sentido no nosso contexto econômico, cultural e social.
Um exemplo claro disso é o ESG (Environmental, Social, and Governance), que rapidamente ganhou força no mundo corporativo. Muitas empresas se lançaram de cabeça nessa pauta, algumas de maneira acelerada e até desestruturada, buscando seguir a onda global sem avaliar profundamente suas realidades internas e expectativas de retorno. Em alguns casos, esse extremismo em ações e promessas levou a resultados desastrosos, como quedas significativas em vendas, perda de consumidores e desvalorização na bolsa de valores. Marcas antes sólidas se desconectaram de seus consumidores, adotando posturas que não refletiam o público que as sustentou por décadas.
Isso levanta a pergunta: até que ponto o ESG, quando mal implementado, pode se transformar em um vilão, em vez de um aliado? O dilema entre seguir essa pauta de forma eficaz ou priorizar o lucro de curto prazo é uma realidade que muitos executivos enfrentam. Em reuniões de conselho, CEOs compartilham frustrações sobre os custos elevados e os resultados financeiros aquém do esperado. Alguns afirmam ter perdido grandes somas de dinheiro, mas será que isso é motivo suficiente para desacreditar a pauta ESG?
A verdade é que ninguém prometeu que seria simples. Implementar uma agenda de impacto que concilie sustentabilidade e lucro exige mais do que boas intenções; requer planejamento estratégico, foco racional e, acima de tudo, uma abordagem gradual e contínua. Os benefícios do ESG são reais, mas não se manifestam em resultados imediatos. Redução de custos, ganhos reputacionais e maior retenção de talentos são apenas algumas das vantagens que, quando bem executadas, podem surgir a médio e longo prazo. No entanto, até que esses resultados se concretizem, é necessário paciência e visão estratégica.
O momento exige recalibração. Não há mais espaço para abandonar a agenda ESG, e o preço por ignorá-la será alto. Ainda que algumas grandes corporações tenham começado a desacelerar, abandonar totalmente a pauta seria um erro estratégico profundo. O caminho mais inteligente é recalibrar expectativas e estratégias, garantindo que o ESG seja visto como uma jornada contínua, e não como uma meta de curto prazo.
Aqui surge uma reflexão importante: o papel das lideranças. CEOs e diretores precisam estar alinhados com a realidade de suas empresas. Não adianta assumir compromissos ESG ambiciosos se a organização não tem estrutura financeira ou operacional para sustentá-los. Por outro lado, interromper iniciativas ou retroceder nas discussões é, no mínimo, imprudente, especialmente quando consideramos os impactos que transcendem as fronteiras corporativas e afetam diretamente a sociedade e o planeta.
O grande desafio — e talvez o maior aprendizado para os executivos — é compreender que a agenda ESG não é uma escolha entre lucro e propósito, mas uma oportunidade de integrar ambos. Negócios que se recusam a adaptar suas práticas para atender às demandas de uma sociedade cada vez mais consciente correm o risco de se tornarem obsoletos. A sustentabilidade, quando bem implementada, pode ser um motor de inovação, eficiência e, sim, de lucro.
Ainda assim, é preciso moderação. O ESG não deve ser encarado como uma corrida desesperada por validação social ou retornos rápidos. A abordagem deve ser pautada pela realidade da empresa, com metas claras, mensuráveis e que respeitem tanto a viabilidade econômica quanto as necessidades da sociedade.
Com o Brasil no centro das atenções globais como anfitrião do G20, é impossível ignorar o papel crucial que nossas empresas desempenham no cenário mundial. A pressão por práticas mais éticas, responsáveis e sustentáveis é real, e o impacto de uma má gestão dessa agenda pode ser devastador. A questão que fica é: até que ponto as organizações estão dispostas a recalibrar suas expectativas e finalmente entender que a sustentabilidade não é o oposto do lucro, mas sim uma oportunidade de longo prazo?
Afinal, optar pelo curto prazo à custa da sustentabilidade é uma estratégia arriscada. O mundo está mudando rapidamente, e quem não acompanhar essa evolução corre o risco de ficar para trás. As empresas que souberem encontrar o equilíbrio entre lucro e impacto terão a oportunidade de liderar essa transformação — e isso, sem dúvida, será o diferencial no mercado do futuro.