Sempre falta aquele skill, contato, uma especialidade, aquela experiência prévia
Às vezes eu me pego pensando na dor crônica no estômago que essa competitividade do mercado de trabalho, em qualquer área, causa na gente. É uma ansiedade que nos deixa muitas vezes inquieto e sempre, em algum nível, infelizes. Nunca somos suficientemente bons, e em raros casos estamos “bem”, estáveis, salvos. E se estamos: até quando? Sempre falta aquele skill, contato, uma especialidade, aquela experiência prévia. E nós, como bons profissionais, damos a largada e corremos atrás todos os dias. Buscamos curso online, pós-graduação, curso de extensão, livro técnico, pdf, cafézinho com a referência da área, etc, etc.
Charles Darwin, em “A Origem das Espécies”, já diria que os seres vivos estão adequados ou não, nascem com as características necessárias para a sobrevivência ou não. De certa maneira, ou você nasceu talhado para exercer aquela função ou pode esquecer. São características inatas e aleatoriamente presentes nos seres, são inerentes aos indivíduos, para resumir, não podem ser adquiridas. Segundo essa lógica, então pra que ler tanto PDF? Não seria mais fácil assumir a inevitável derrota e nos resignar à situação em que estamos? Provavelmente.
Mas sabe o que eu acho? Que a gente tem que se esforçar todos os dias para conquistar o que é nosso, o que é inerente a nós, o que faz parte da nossa natureza individual. Também acredito ser verdade que levamos anos, quem sabe décadas, para realizar todo o nosso potencial. Porque mesmo que o mercado naturalmente nos selecione conforme aquelas habilidades que nos são naturais – sob o termo “perfil” -, elas podem e devem ser potencializadas pela nossa ação. É tudo uma questão de escolha e estratégia, e isso sim tem a ver com competências aprendidas. Em outras palavras, sendo humano e capaz de me adequar ao meio, depende só de mim.
Ser quem a gente é dá trabalho; e tem que dar trabalho. Aquela insatisfação crônica, essa ansiedade que faz revirar as nossas vísceras e correr atrás o tempo todo, é a condição pra gente fazer aparecer, com muito trabalho aquelas características que, lá no fundo, já nos eram inerentes. Falo daquilo que é nosso, e que exige que cumpramos alguns critérios de experiência, maturidade e até um certa quilometragem de vida para ser habilitado, destravado, “enabled”. Como disse Paulo Leminski: “isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além”.
E tudo isso, na natureza ou nessa selva que é o mercado de trabalho, pode ser resumido à lei que o Charles Darwin já ficou rouco de tanto nos ensinar. Ou seja, lemos tantos PDFs, fazemos tantos cursos e desafiamos tanto as adversidades porque, no final das contas, o principal skill para a sobrevivência é uma fórmula muito universal e nada mágica: a simples busca pela adaptação.
Por Marianna Greca – publicitária por formação e coordena a frente de Formação Complementar do Centro Europeu, uma das principais escolas de profissões do mundo